A ORELHA CORTADA DE VAN GOGH

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As ondas ruivas do seu cabelo eram concentradas apenas nas pontas que batiam na cintura com o impacto dos seus passos lentos.

Anne tinha o por do sol em suas mãos.

Ela era como Amaterasu ou Vênus. Possuía a força de Athena e o olhar de Medusa. Ela era uma deusa mundana brilhando e queimando naquela atmosfera sufocante.

Anne silenciava o som da cidade. Quando ela passava todos prendiam a respiração. Ela só tinha dezenove anos e talvez seja essa a razão daquele ar de rebeldia tal como Lolita.

Passou pelo o enorme salão de jantar do Empire Hotel, a franquia de hotéis mais cara da cidade. Eu não costumava frequentar lugares assim, porém queria agradá-la. Apesar de insana Anne era uma mulher cara. Uma parte de mim estava tentando impressioná-la, mas eu jamais admitiria isso em voz alta.

Eu não costumava me esforçar muito para transar com alguém. E não que aquele fosse o caso —, porque eu tinha certeza que Anne ficaria comigo em qualquer superfície. Acontece que eu não a enxergava apenas como uma foda, por isso quis conhecê-la melhor e a convidei para jantar. Ela aceitou, e eu puxei a cadeira para ela se sentar à mesa.

— Obrigado por vir. — Eu disse com naturalidade, sentando-me de frente a ela. A minha esquerda havia uma parede de vidro enorme e do outro lado a cidade inteira brilhava em meio a um céu sem estrelas.

— Eu que agradeço pelo o convite, Levi. — Ela jogou as ondas dos cabelos para trás dos ombros e sorriu. Seus dentes tinham formato arredondado e eram perfeitamente harmônicos com seus lábios grossos. Ela parecia uma pessoa totalmente diferente quando sorria. — Te fiz esperar muito?

— Não o suficiente. — Eu respondi encarando o seu rosto com certa curiosidade. O rubor de suas bochechas eram tão naturais quanto a máscara de cílios em seus olhos. — O que você quer beber, Anne?

— Vinho.

— Certo. — Eu peguei o menu e o garçom veio de encontro à mesa sem que eu precisasse chamá-lo. Escolhi um vinho tinto suave, ótimo para beber na espera do jantar. Algum tempo depois eu experimentei o vinho e confirmei o pedido. O garçom encheu nossas taças pela a metade e nos deixou sozinhos. — Um brinde! — Eu ergui a taça.

— Ao que vamos brindar? — Anne estreitou o olhar com um pequeno sorriso nos lábios.

— Ao nosso primeiro encontro.

— Então isso é um encontro?

— O que mais poderia ser, Anne? — E foi então que as nossas taças colidiram no ar.

Nós bebemos dois goles. Eu sentia toda a sua energia emanar por seus poros. Era como se Anne Violet tivesse uma aura escarlate muito intensa.

— Eu quero conhecer você.

— Já nos conhecemos. — Ela respondeu indiferente.

— Não tanto quanto eu gostaria. — Eu ponderei.

Ela sorriu achando graça. Bebeu outro gole e jogou o cabelo para o lado.

— O que você quer saber sobre mim, Mackenzie?

— Tudo.

Franzi as sobrancelhas e a encarei pela a borda da taça antes de encostar as costas na cadeira.

Anne usava um longo vestido preto que tinha um decote em formado de V. Ela ficava linda com aquela cor. O contraste do seu cabelo ruivo era exuberante. Todas as outras mulheres loiras e morenas eram sem graça perto dela.

— Por que eu te contaria tudo sobre mim? — Ela tocou a própria nuca com a mão enquanto o polegar direito escorregava pela a borda da taça.

Dessa vez foi eu que sorri.

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora