CÓDIGO DE GRACE

338 43 20
                                    

Jade Stoorn

— Você conseguiu, não é Jade? Está se tornando igualzinha a ela.

Virei o rosto automaticamente na direção da mulher apoiada no batente da porta. Ela possuía um pequeno sorriso nos lábios.

— Não ouse me comparar a ela. — Avisei, a voz baixa e ameaçadora.

— É incrível como a história se repete. — Deu um longo trago no baseado enquanto me olhava de cima a baixo. — Agora é a sua vez de ir embora com um homem rico.

— Cala a boca! — Murmurei, jogando algumas peças de roupas dentro da mala. — Você pode vender o que restar. Dá para arranjar uma boa grana, mas não se preocupe, irei te mandar dinheiro para comprar os seus remédios.

Vânia riu baixo e tossiu logo em seguida. Estava muito doente, às vezes lhe faltava o ar, mas ela não parava de beber e injetar drogas no braço.

— Garota, a sua mãe disse a mesma coisa quando se mandou há dezesseis anos atrás. Desde então eu nunca mais a vi. Acho que ela esqueceu. — E tornou a rir, entretanto a tosse ficou mais violenta e Vânia gemeu de dor no peito.

— Eu não sou a minha mãe, porra! — Fechei a mala violentamente e dei a volta em toda a sua estrutura com o zíper, irritada. — Eu não vou abandonar você como ela fez com a gente, vó.

— Não se preocupe comigo, Jade. Eu já estou velha e maluca... Eu já nem lembro mais qual é mesmo o nome dela.

As minhas pálpebras pesaram.

Ela poderia esquecer, mas eu não.

— É Jodie, vó. — Apertei os dedos contra as mãos. — O nome dela é Jodie.

Vânia arqueou as sobrancelhas finas e sorriu em seguida.

— Jodie... — Suspirou sorrindo, porém aquele sorriso aos poucos se desfez e a senhora de cinquenta e cinco anos me encarou, confusa. — Aonde ela foi?

A minha avó sempre foi assim. Ela era lúcida, mas o desgosto provocado pela filha a destruiu.

Minha mãe ficou grávida aos dezesseis de um namoradinho na escola que nunca assumiu a responsabilidade. Ela perdeu a sua adolescência com uma criança em seus braços. Quando eu completei quatro anos ela se mandou e ninguém nunca mais a viu. Levou tudo, não me deixou nada. Ela nunca ligou, nunca me mandou sequer um cartão postal.

Vânia sempre foi uma mulher de muitos homens. Isso me fez crescer rodeada de abusadores de todos os tipos. Ela não soube me proteger, mas me incentivou a estudar. Diferente da minha mãe eu nunca esperei que um homem me tirasse daquela merda de vida medíocre. Estudei muito, consegui uma bolsa integral de Direito e comecei a trabalhar.

Conhecer Bruce Mackenzie, entretanto, foi um golpe do destino. Não poderia negar que o seu poder me impressionava, mas eu realmente gostava dele, amava a sua proteção mais do que o seu dinheiro e os presentes.

Desde menina eu me envolvia com caras muito mais velhos porque, segundo a minha psicóloga, eu não estava procurando um namorado, e sim alguém que assumisse uma figura paterna.

De qualquer maneira, a única diferença entre Bruce e os outros caras é que ele tinha mesmo dinheiro, porém ele me tratava bem e era bom pra mim.

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora