CINCO DIAS

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Depois de um século eu voltei, mas a espera vale a pena. Difícil manter uma rotina de atualização, porém eu nunca paro de escrever. Então espero que gostem. Comentem e votem muito!

*****

Levi Mackenzie

Ele não estava curioso, mas sim envergonhado. E muito embora possuísse uma resposta lógica para aquilo, ele perguntou:

— Por quê?

Em pé, ao lado da maca, os primeiros ou os últimos raios de sol do dia refletiam nos seus olhos frios.

— Bruce. — Um murmuro rouco e abafado escapou pela a minha garganta. Eu estava aliviado por lembrar dele, porém seria melhor não reconhecê-lo... mais seguro talvez. — Que horas são?

Dentro de um quarto de hospital o tempo é um enigma. Eu poderia simplesmente dizer que não sabia o que havia se passado nas últimas 24 horas, mas isso não seria puramente verdade.

Eu me lembrava de cada detalhe.

— Apenas me responda, Levi: Por quê? — Disse ele em ultimato.

Eu olhei bem na sua cara por alguns segundos como se procurasse por algo e não senti nada. Absolutamente nada. Isso soou vazio para mim. Tão vazio quanto uma garrafa de vinho após uma noite inesquecível de dois amantes ou os sentimentos de amigos falsos.

Bruce negou com a cabeça duas vezes seguidas, dando um curto espaço de tempo entre um ato e outro. Após isso ele segurou com as duas mãos na borda metálica da cama que servia como uma grade de proteção. Seu rosto ficou próximo ao meu. Naquele momento eu entendi que eu não o enxergava como um pai, tal como ele não me via como um filho.

— Após cinco dias em coma você finalmente acorda e para a minha surpresa ou não, você ainda tem o maldito olhar presunçoso da sua mãe. — Bruce estava muito perto de mim. Aquilo era estranho para caralho. — Sabe, eu nunca consegui entender o porquê de tanto ódio. Bom, a verdade é que, em um pensamento lógico, você deveria odiar quem te abandonou e não quem permaneceu ao seu lado. Eu ainda estou assustado e não consigo entender. Portanto, Levi Uchiyama Mackenzie, me responda: Por que você está tentando me punir?

Eu me via refletir em seus olhos.

E a medida em que os raios de sol se dissipavam e o quarto era tomado pela escuridão, eu pude perceber que estava anoitecendo.

Cinco dias voaram como horas em um sono sem sonho e sem cor. Diante de Bruce eu poderia jurar que estava no inferno.

Então eu sorri.

Fisicamente eu era idêntico a minha mãe, mas por dentro eu era o meu pai mais jovem. Se estávamos na mesma mesma dimensão significava que um de nós precisava desaparecer. O mundo era pequeno demais para nós dois.

Com um pouco de dificuldade eu me ajeitei mais confortavelmente na cama. Foi bom saber que eu conseguia me movimentar.

— Eu acordo da morte, e você me recebe assim? — Sorri ironicamente, arrancando as agulhas do meu braço.

— Você me decepciona, Levi. — Ele transpirava desgosto não apenas por sua voz, mas por cada poro, célula e átomo do seu corpo, da sua alma. — Eu não sei o que fazer.

— Você já fez o suficiente, pai.

— Pai. — Ele repetiu. — Nós somos desconhecidos dividindo uma casa.

Eu dei de ombros. A minha boca estava seca, eu estava com sede, mas nem fodendo eu iria pedir um copo de água para ele porque sabia que viria batizado com calmantes.

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora