FELIZ ANIVERSÁRIO, IRMÃO

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A banda costumava ensaiar na casa de Isaac em busca da música perfeita, mas talvez ela existisse apenas na minha cabeça.

Isaac era o único de nós quatro que morava sozinho... Bom, não exatamente sozinho. A mãe de Isaac estava vegetando em uma cama por cinco longos anos após o acidente automobilístico que lhe custou o movimento de cada membro do seu corpo.

Naquela situação de subsistência, Isaac cuidava dela melhor do que de si mesmo. Ela era a única família que ele conhecia, e mesmo com tantos problemas, eu nunca o vi reclamar de coisa alguma.

Isaac não falava muito da mãe, e nós não perguntávamos porque era melhor assim.

Os meus amigos eram idiotas. E eu sabia que eles me venderiam por cem gramas de cocaína sem pensar duas vezes. Mas eu gostava deles mesmo assim.

Apesar de Noah ser o meu amigo mais próximo, Isaac era o que melhor me compreendia. A nossa personalidade era explosiva, compartilhávamos da mesma raiva e isso nos unia na mesma intensidade em que nos afastava.

— O primeiro pedaço vai para... — olhou em volta, estávamos nós quatro reunidos ao redor da mesa. Liam retratava o momento exato com o seu celular, enquanto Noah batia na mesa ritmadamente como o rufar dos tambores. — O LIXO! Que se foda o bolo! Vamos atrás das drogas.

Era dia 17, o mês não importa.

Isaac estava completando vinte e dois anos de vida.

E a banda se reuniu em sua casa para comemorar.

Acontece que Isaac não se importava com aquela data. Na verdade ele não se sentia digno. Não era justo comemorar um maldito aniversário enquanto sua mãe estivesse vegetando. Portanto, todos os anos nós levávamos um bolo de aniversário com velas até sua casa para Isaac jogar no lixo logo em seguida.

Acontece que nós jamais deixaríamos ele passar aquela data sozinho, porque era o nosso compromisso garantir o seu bem estar.

Então foda-se o bolo!

Nós sempre íamos atrás das drogas.

Batemos palmas e abraçamos o aniversariante um de cada vez. Ele era sempre marrento, não gostava de contato, mas naquele dia, o seu sorrisinho ridículo era de felicidade. Embora ele não tivesse a mãe como antes, ele sabia que nós sempre estaríamos ali.

A noite estava literalmente começando. Fomos na boate onde sempre comemorávamos os nossos aniversários e ao chegar lá tive que encarar Dude, a minha ex namorada, e Irla, quem intitulou-se de atual.

As duas eram amigas. E eu realmente não entendia como Irla conseguia passar mais de dois minutos ao lado de Dude sem surtar. A loira era simplesmente insuportável.

Liam sabia disso. Dude sempre seria apaixonada por ele não importa quanto tempo passasse.

— Quando você vai tirar esse trapo da mão? — Liam perguntou indiferente, apontando para a minha bandagem branca.

— Certo dia —, dei um trago no cigarro e sorri de lado. — Não vai dançar com a sua garota?

Liam balançou negativamente a cabeça loira.

— Não tem essa de "minha garota". Dude não pertence a ninguém e, honestamente, eu não me importo. — Liam bebericou a sua cerveja e ergueu uma sobrancelha, intrigado. — E a Irla?

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora