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Uma parte de mim, ou senão toda, quer desesperadamente ter motivos para detestar Maurício

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Uma parte de mim, ou senão toda, quer desesperadamente ter motivos para detestar Maurício. Desde que presenciamos Bernardo reagindo à aplicação da vacina, minha mente não para de imaginá-lo como um homem vulnerável, um ser humano de verdade, que é frágil em alguma parte. E essa parte eu já sei qual é. Bernardo é sua fraqueza. A parte capaz de fazer com que ele se quebre. A forma como ele ficou ao ver o filho chorando de dor desconstruiu toda a imagem ruim que eu tinha dele. E eu sei que isso não é bom para mim.

É claro que ele mostrar suas fraquezas não faz dele um santo. Ele traiu a esposa e não me pareceu nem um pouco hesitante enquanto fazia isso. Só quando foi obrigado a estar no mesmo ambiente que eu, foi que isso começou a incomodá-lo. Suas palavras emergem na minha cabeça de forma desagradável.

"Eu não queria ver o meu erro todos os dias dentro da minha casa."

Acho que ele está disposto a se acostumar com isso, já que não quer que eu pare de cuidar de seus filhos.

Afasto meus pensamentos, que só deterioram ainda mais minha capacidade de diferenciar o certo do errado quando se trata de Maurício. Saio do banho de forma apressada, já que Nathan também quer usar o único banheiro da casa. Entro no quarto onde começo a organizar minhas coisas para ir trabalhar amanhã. Ouço passos do lado de fora, mas continuo o que estou fazendo.

— Tá apresentável? — a voz de Lívia ecoa atrás da porta, superando o som da chuva grossa que começou a cair a pouco.

— Tô, entra. 

Já não consigo conter o tumulto dentro de mim.

— Ele ligou pro ortopedista que eu indiquei? — indaga com interesse no problema de Bernardo.

— Eu não sei, não pude perguntar — falo diminuindo o tom. — Nathan chegou junto com ele. Levou o carro que tinha enguiçado. Não tive como perguntar.

Lívia anda de um lado a outro inquieta.

— Isso é muito grave, Diandra. Se esse diagnóstico estiver errado, o médico responsável por isso pode ser processado. Pode não, vai! Vallentina é advogada e vai mover céus e terra pra acabar com ele. — ela continua andando, deixando evidente sua agitação quanto ao caso. — Pensa só em quantos tratamentos ele poderia estar recebendo e o quanto a vida dele já poderia ter melhorado… Só essa sensibilidade já é motivo pra ela mover uma ação contra esse médico.

— Ela não sabe ainda. E não vai saber tão cedo. — Lívia me encara com uma expressão confusa.

— Por que não?

Explico à ela cada detalhe que Maurício me disse, e sua reação é a mesma da minha. Achamos que Vallentina precisa saber, pois é a mãe da criança.

— Não sei como, mas ela já sabe que a gente esteve no hospital.

— Mas eu sei, todo mundo conhece o marido dela. Qualquer pessoa pode ter contado. Se você tivesse ido sozinha, seria diferente, você seria apenas uma mulher com uma criança no colo.

Entre erros e acertosOnde histórias criam vida. Descubra agora