Com certeza não saí inteira daquele hospital. Uma parte minha ficou lá, uma grande parte, eu diria, e isso é estranho de admitir. Até chegar aqui no hotel e me instalar direito, fiquei recapitulando as coisas na minha mente. Maurício e Bernardo ganharam grande espaço em meu coração em um momento em que pensei que estava protegida de qualquer sentimento novo que cruzasse meu caminho. Tanto que não poder passar a noite com eles me abriu um buraco no peito. Vários pensamentos malucos rondaram minha cabeça em uma fração de segundos. Um deles foi o de que eu não sou digna disso. Não sou a mãe dele e só o conheço há pouco mais de quinze dias. Não foi intencional, mas agora seus pais estão separados, e eu estou com o pai dele agora. Me senti como a namorada do meu primo me descreveu: uma destruidora de lares.
Porém, dois segundos depois afastei todos esses pensamentos idiotas da minha cabeça, afinal, posso não ser a mãe de Bernardo, mas o amo muito e nunca faria nem um terço do que Vallentina fez com ele; o tempo que conhecemos uma pessoa não determina se podemos ou não intervir em algo que não concordamos na vida dela; e por fim, aquilo não era um lar, era uma prisão. Tenho muito mais motivos para estar feliz do que para me abater por não poder passar essa noite e as próximas lá. Em breve essa etapa vai passar e outra vai começar, e nessa, vou estar presente em todos os momentos.
Assim que me jogo na cama do hotel meu celular começa a tocar. Bufo alongando todo o meu corpo a fim de encorajá-lo a sair da cama, mas logo depois entro em êxtase com a ideia de ser Maurício. Corro para alcançar o celular e me decepciono só um pouquinho quando vejo que é Camila de novo.
— Conseguiu falar com Maurício? — pergunto assim que atendo.
— Por vinte segundos, e parecia que eu tava tentando fazer contato com marte. — sorrio. — Eu queria dar uma boa notícia a ele, mas se por acaso você for ao hospital amanhã, diz que Mayara entrou em contato comigo. Está disposta a ajudar no que precisar.
— Isso é ótimo! — exclamo, com mil ideias brilhando na cabeça.
— Sim. Alberto também tentou ligar pra ele pra avisar que tava voltando pra cá pra conversar com ela, mas ainda não sabemos que caminho seguir, já que Bernardo é realmente filho dele...
— Mas eu sei exatamente o que ela pode fazer!
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Mal dormi essa noite. Certas horas me desesperava com a ideia de Bernardo sedado, sendo operado. Em outras, estava sorrindo pelo mesmo motivo. Um tempo atrás, ele era só um bebê com uma paralisia, destinado a uma vida com muitas limitações em cima de uma cadeira de rodas, mas hoje ele vai começar uma jornada em que terá inúmeras possibilidades de trilhar esse caminho com suas próprias pernas.
Nos poucos minutos em que dormi, sonhei justamente com essa cena: Bê dando seus primeiros passos. Na verdade, eu não sei se eram os primeiros passos, mas eram passos um pouco desengonçados na areia de alguma praia. Eu acordei em êxtase às 05h15 e me revirei na cama até agora, às 7h00. Sei que esse horário não é o certo para fazer visitas, mas não vou conseguir ficar aqui cheia de preocupações enquanto Maurício está lá no hospital na mesma situação que eu. A cirurgia de Bernardo vai começar às 10h00, mas acho que não vai fazer mal eu chegar lá um pouco antes para da um apoio emocional. Fora que tenho novidades sobre a Mayara ter ligado e tudo o que pedi que ela fizesse.
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Entre erros e acertos
ChickLitSer mandada embora de um emprego meia boca em um dia e começar a trabalhar em um novo local no outro, vai virar a vida de Diandra Mello do avesso. Aos vinte e cinco anos, ela vai enfrentar inúmeros obstáculos tendo Vallentina e Maurício Galzerano co...