Estou prestes a seguir Mayara até a cozinha para ver a reação das crianças ao vê-la depois de tanto tempo, mas Vallentina entra no meu caminho, então paro e a encaro. Eu odeio admitir que ainda consigo saber o que ela quer só pelo jeito de olhar, porque eu desenvolvi a mesma habilidade com Diandra. A diferença é que com Diandra, isso surgiu conforme o meu sentimento por ela foi despertando. Já com Vallentina, a convivência e o tempo foi o que gerou essa percepção. E no momento, essa percepção diz que Vallentina quer conversar a sós comigo.
— Eles estão lanchando na cozinha — aviso para que Mayara siga sem mim.
Ela assente por cima do ombro, compreendendo mais do que minhas palavras expressaram. Obviamente se lembra como Vallentina é e, juntando isso às últimas informações que eu dei, sabe que eu não posso simplesmente fazer o que eu quero. Vallentina fecha a porta atrás de si, e depois de encarar o chão por alguns segundos, ela olha para mim.
— Depois que você desligou, eu fiquei pensando muito sobre o que você disse. Você tá certo...
— Tudo bem, você já disse isso — falo na intenção de encerrar essa conversa logo.
— Espera. Me deixa falar — pede em um tom estranho para ela. Vallentina não é o tipo de pessoa que suplica por alguma coisa. Ela é o tipo que manipula as pessoas para conseguir o que quer, o que me faz perceber que até sua súplica pode ser uma manipulação. Relaxo o corpo e tento não parecer tão impaciente para sair de perto dela, ou pelo menos, para não ficarmos sozinhos. — Na verdade, eu tenho pensado sobre muitas coisas desde que você foi embora. Tenho sido capaz de... de reconhecer tudo o que eu fiz de errado e... — ela está se perdendo nas próprias palavras, e eu vou deixar. Não vou tentar completar o raciocínio dela, como fiz muitas vezes por ela não conseguir se expressar muito bem. Na certa, era eu quem dava o passo a passo de como ela poderia se redimir comigo e com as crianças. — Diz alguma coisa...
Domino minha vontade de rir e sustento minha expressão de quem está interessado em ouvir, mas não de falar.
— Olha, você não precisa ficar se justificando pra mim o tempo todo. Você já demonstrou que tá disposta a fazer as coisas de um jeito diferente dessa vez, então vamos apenas... fazer... deixar rolar e ver como vai ser.
Forço um sorriso, mas o que sai não pode ser chamado assim. Já Vallentina, consegue sorrir, mesmo com uma lágrima descendo pelo rosto. Não sei se ela está realmente sendo sincera, ou se está fingindo. E se tudo for fingimento, não sei quem de nós dois está se saindo melhor.
Meu estômago gela quando percebo que essa conversa acabou forçando um clima que eu não queria criar. Os olhos de Vallentina param em meus lábios, e eu, imediatamente, finjo sentir o celular vibrar no bolso. Pego-o e simulo uma resposta digitada e meio sem paciência para alguém qualquer. Quando guardo o celular no bolso novamente, logo outro plano para fugir dela estala em minha mente.
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Entre erros e acertos
ChickLitSer mandada embora de um emprego meia boca em um dia e começar a trabalhar em um novo local no outro, vai virar a vida de Diandra Mello do avesso. Aos vinte e cinco anos, ela vai enfrentar inúmeros obstáculos tendo Vallentina e Maurício Galzerano co...