Não consigo dizer uma palavra sequer. Uma parte de mim acredita que Vallentina ainda tem alguma compaixão dentro dela e que não seria capaz de entregar meu filho a um desconhecido, mesmo que eles tenham o mesmo DNA. Mas a outra parte teme que sua ameaça seja legítima. E em vez de sair daqui com informações, que é o que eu tinha vindo fazer, eu posso acabar sendo preso por qualquer motivo que seja capaz de impedir Roger de querer se tornar o pai de Bernardo.
— Me dá um tempo pra pensar — peço.
— Você tava mudo há quase dez minutos — diz ela. — Ainda não pensou o suficiente? Isso não é tão difícil de decidir, Maurício. É só você se lembrar de como as coisas eram antes.
— Antes de quê? De você me trair? De descobrir a gravidez?
Vallentina abaixa a cabeça e respira fundo, em seguida ergue o olhar ao meu de novo.
— Você pode não acreditar em mim, mas lembrar das coisas que eu fiz me machuca muito. E é por isso que eu preciso fazer as coisas de um jeito diferente. Nós precisamos. Temos três filhos lindos e um casamento de quase dezoito anos. — ela faz uma pausa esperando que eu diga alguma coisa, mas eu prefiro ficar em silêncio e aproveitar esse pequeno espaço de tempo para pensar. — Nem eu e nem você trabalhava tanto. Tínhamos tempo o bastante para curtir a companhia um do outro, viajávamos com as crianças duas vezes por ano... Jônatas e Isabela devem sentir falta dessa época. — uma lágrima escorre pelo seu rosto. — Nós fomos muito felizes e ainda podemos ser se você parar de resumir a nossa vida juntos aos últimos dois anos.
Enquanto ela fala sobre o que tem planejado para o resto das nossas vidas juntos e nossas próximas viagens em família, tudo o que consigo ver na minha mente é o meu filho sendo operado, fazendo fisioterapia e andando. Tudo o que isso acarretará já não parece importar tanto.
— Eu vou buscar Isabela na casa de Camila — aviso com uma ruína se abrindo em meu peito. — Te vejo em casa.
— Eu vou com você! — exclama entusiasmada. — Tô morrendo de saudades da minha filha...
— Não precisa, Vallentina — falo imaginando o quanto isso vai ser ainda mais difícil para Diandra. — Tem pessoas te esperando lá fora.
— Eu cancelo — alega ela ao pegar o telefone e clicar uma tecla qualquer.
Tento manter a calma e pensar em uma outra saída enquanto ela fala com sua secretária e pede para cancelar todos os seus compromissos. Eu sou verdadeiro demais e não conseguiria mentir e inventar alguma desculpa para ir sozinho, então prefiro ser transparente e falar que vou dar um ponto final ao que mal comecei com Diandra. Porém, quando me dou conta, vejo que já inventei uma mentira.
Assim que ela termina a ligação, começo.
— Val, eu preciso... — cesso minhas palavras quando o telefone que ela mal bateu na base, toca. Ela bufa e atende.
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Entre erros e acertos
ChickLitSer mandada embora de um emprego meia boca em um dia e começar a trabalhar em um novo local no outro, vai virar a vida de Diandra Mello do avesso. Aos vinte e cinco anos, ela vai enfrentar inúmeros obstáculos tendo Vallentina e Maurício Galzerano co...