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Faço o possível para parecer que não fui atingido pelo que ela acabou de falar e continuo subindo

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Faço o possível para parecer que não fui atingido pelo que ela acabou de falar e continuo subindo. Ela sabe quais armas usar para me quebrar em várias partes e foi exatamente o que ela fez. Usou a minha maior fraqueza e me reduziu às cinzas dizendo que não sou o pai de Bernardo. Eu ainda quero manter em mente que essa possibilidade nunca existiu, já que eu escolhi ser o pai dele. Ele me chama de pai, então não tenho porque estar sentindo meu coração se desfazer por causa de um golpe baixo como esse. Na certa ela não consegue entender como eu consigo amá-lo. Tenho um amor por ele que ela foi incapaz de sentir desde que descobriu que estava grávida. E continua sendo incapaz até hoje.

Preciso afastar essa dor no meu peito, pois tenho coisas vitais para fazer agora. E o cansaço de Bernardo vai me ajudar a fazer isso. Guardar a pasta com segurança é o primeiro passo para sair daqui. Enquanto ele dorme, começo a arrumar uma pequena bolsa com algumas coisas dele, e coloco a pasta dentro. O ponto de partida para retomar as consultas médicas está aqui, e agora nada vai me impedir de ir atrás disso. Enquanto estou arrumando as coisas de Bernardo, noto uma figura pequena parada na porta me observando.

— O que você tá fazendo, pai? Por que tá pegando as roupas e os remédios do meu irmão?

A voz da minha filha, que está sempre carregada de alegria, agora tem um tom choroso. Eu queria poder dizer alguma coisa que revertesse isso, mas infelizmente, o que tenho para falar só vai chateá-la ainda mais. Coloco as coisas dentro da bolsa e vou até ela, me abaixando para ficarmos na mesma altura.

— Nós vamos passar uns dias na casa da tia Camila. Faz uma mala com algumas roupas, uniforme da escola e seu material escolar.

— Não… — ela resmunga e começa a chorar. Será que eu disse algo errado?

— Vai ser só por alguns dias — tento explicar sem dizer muito.

— Não! Eu sei o que isso significa! Você e a mamãe estão se separando…

Fico sem saber como reagir, o que dizer ou o que fazer. Eu quero enxugar as lágrimas dela e explicar mais, principalmente porque Jônatas acaba de surgir querendo entender a razão do choro de Isabela.

— Filha…

— Não mente pra mim, pai. Por favor! — pede aos soluços.

— O que foi agora?! — Jônatas questiona totalmente perdido.

— Jon, eu tô tentando explicar pra sua irmã que a gente vai passar uns dias na casa da sua tia Camila.

Assim que termino de falar, Jônatas desvia o olhar do meu, fazendo gestos negativos com a cabeça.

— Essa história não cola — argumenta ele com um teor de revolta na voz. — E Isabela sabe. Por que não fala a verdade e facilita as coisas?!

Dizer a verdade para os meus filhos irá causar mais dor do que inventar uma mentira. Porém a mentira tem prazo de validade, e uma hora ou outra eles descobririam tudo.

Entre erros e acertosOnde histórias criam vida. Descubra agora