As coisas precisam ser diferentes agora. Sei que já falei isso algumas vezes, mas tenho a sensação de que já experimentamos tudo de ruim, e agora podemos nos precaver. Então fui à recepção da pediatria e solicitei a troca de quarto de Bernardo, mesmo que tenham aumentado a vigilância no setor onde Vallentina está. Eu não me sinto mais seguro com a presença dela aqui, inclusive, pedi que reforçassem a segurança no centro cirúrgico, pois na minha mente, ela pode querer ir lá para terminar o que começou com Diandra. Posso estar sendo paranóico, mas se eu contar o que aconteceu a qualquer pessoa, não acreditariam.
Quando Bernardo saiu do centro cirúrgico, já foi levado para um quarto novo, onde eu já estava aguardando-o. Mesmo que os médicos tivessem dito que ele poderia demorar a acordar, eu fiquei na expectativa de que ele já pudesse chegar acordado, o que não aconteceu. Porém, acho que eu precisava assisti-lo dormir um pouco. Vê-lo dormir sempre me trouxe paz. Eram momentos em que eu sonhava um dia poder descobrir uma forma de melhorar sua qualidade de vida, e hoje isso começa a se tornar realidade. É claro que ele não vai acordar e sair andando, já que as células vão ficar em cultura por alguns dias antes de serem inseridas na coluna dele, onde realmente a mudança pode acontecer, mas um passo grande foi dado e isso já me faz sentir que não poder andar já faz parte de um passado distante.
O sono de Bernardo me possibilitou fazer algo que eu pensei que demoraria para acontecer: depor e fazer o exame de corpo de delito. É claro que eu exigi fazer isso no quarto de Bernardo, porque de maneira nenhuma eu o deixaria novamente. Devido às circunstâncias, minha exigência foi atendida, e eu contei detalhe por detalhe como tudo aconteceu, e parecia que estava acontecendo de novo. Doeu como se os ferimentos que Vallentina causou em Diandra tivessem sido feitos em mim. Todos os envolvidos nessa situação já foram ouvidos, exceto Diandra, que ainda está em cirurgia. Eu queria que ela pudesse ficar isenta disso, para não ter que relembrar o que aconteceu, pois se já foi doloroso para mim, imagino para ela.
Bernardo se mexe de leve na cama dando sinais de que vai acordar, e no mesmo instante, meu coração dispara, então me aproximo um pouco mais, arrastando a poltrona de acompanhante sem fazer muito barulho, pois não quero que ele se assuste. Toco em seus cabelos e os acaricio, olhando atentamente cada reação sua. De olhinhos ainda fechados, ele boceja, mas em seguida volta a dormir.
— Acorda, bebê — sussurro. — Quero bater um papo com você. Como você tá se sentindo, hein? — aos poucos, seus olhinhos vão se abrindo, e não consigo me conter. Me levanto um pouco e me inclino em sua direção, sentindo o aroma gostoso de seus cabelos. Deixo um beijo em sua testa e me sento de novo, ganhando sua atenção sonolenta. Bê olha para todos os lados com curiosidade, talvez estranhando o ambiente do quarto novo, ou do hospital em si. Todas as manhãs no hotel eram assim, então é só uma questão de tempo até ele se acalmar um pouco. Só percebo que dessa vez é um pouco diferente quando seus olhos se enchem de lágrimas. — O que foi, meu amor?
Bernardo olha para mim fazendo beicinho.
— Mamãe. — meu coração volta a doer ao ver que ele está lembrando dos momentos horríveis que passou no colo de Vallentina umas horas atrás. Com certeza está com medo de que ela apareça aqui de novo e tente outra crueldade. Me ergo da poltrona e tiro o cobertor de cima dele, ajeito-o de forma que o envolva melhor e o pego no colo.
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Entre erros e acertos
ChickLitSer mandada embora de um emprego meia boca em um dia e começar a trabalhar em um novo local no outro, vai virar a vida de Diandra Mello do avesso. Aos vinte e cinco anos, ela vai enfrentar inúmeros obstáculos tendo Vallentina e Maurício Galzerano co...