É impossível não deixar uma lágrima rolar ao ver cada etapa da coleta de sangue de Maurício. Ele já passou pelo cadastro e fez o teste de anemia. Alguém que não conhece a situação, poderia achar que ele tem medo de agulhas e que está apavorado enquanto é furado pela enfermeira. Porém, é pela emoção de poder estar contribuindo com o seu próprio DNA para que seu filho possa ser operado que ele está chorando. Eu me sinto honrada por poder estar aqui, participando disso. Apenas tomo um susto de vez em quando ao ver as sombras das pessoas que passam pela recepção. Fico achando que Vallentina pode chegar a qualquer instante e estragar esse momento.
Eu vim para o Rio sem saber direito o que me esperava por aqui. A única coisa que eu sabia, era que uma informação nova nos exames de Bernardo iria causar um abalo, e que Maurício e ele precisariam de apoio. Isso me fez imaginar que se tratava de mais uma doença, ou algum empecilho para as cirurgias, mas chegar aqui e receber a notícia de que Maurício é o pai biológico de Bernardo lavou a minha alma. Tantas coisas mudam com essa nova informação que fica até difícil focar em uma só.
As chantagens acabaram. Maurício não precisa mais fingir que reatou com Vallentina para que Bernardo possa receber tratamento médico. Antes, para conseguir a guarda de Bernardo, Maurício deveria relatar ter consciência de que não é o pai biológico de dele, o que deixaria tudo mais difícil, mas agora, as chances dele conseguir dispararam. Não só a guarda de Bernardo, mas de Bela e de Jônatas também.
E por fim, podemos ficar juntos, depois do divórcio, é claro, pois se tem algo que eu aprendi sobre Vallentina, é que ela tem sempre uma carta na manga. E no instante em que ela recobrar a lucidez, vai querer alegar ao juíz que Maurício está em adultério, e vai dar um jeito de ferrar com a vida dele, de novo. Portanto, é bom fazer de tudo para evitar dar a ela uma razão para vencer em mais uma batalha.
— Vai levar uns vinte minutos — avisa a enfermeira. — Não esquece de manter os movimentos de abrir e fechar a mão.
— Pode deixar — ele responde com a voz embargada.
A enfermeira se afasta, indo em direção a outro doador que já terminou de fazer sua parte.
— Isso é tão lindo — falo admirando a máquina que mantém o sangue em movimento. — Quero dizer, eu torço pra que Bernardo não precise de uma transfusão, mas... — não consigo continuar falando. É emoção demais.
— Acabou, Diandra — ele diz, apesar da dificuldade. — Não preciso mais me preocupar com aquele merda lutando na justiça pra tirar Bernardo de mim. E não tô mais acorrentado à Vallentina. Inclusive, acho que você pode até me beijar agora.
Não consigo segurar o riso, apenas controlo minha voz para não chamar a atenção. Até chego a cogitar a ideia de beijá-lo agora, mas me parece um pouco inadequado.
— Te beijar é o que eu mais quero agora, sabia? — falo baixinho, um tanto constrangida por estar admitindo isso dentro de um hospital, enquanto ele doa sangue.
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Entre erros e acertos
ChickLitSer mandada embora de um emprego meia boca em um dia e começar a trabalhar em um novo local no outro, vai virar a vida de Diandra Mello do avesso. Aos vinte e cinco anos, ela vai enfrentar inúmeros obstáculos tendo Vallentina e Maurício Galzerano co...