Essa ponte aérea está ficando cada vez mais cansativa. Não só cansativa, está parecendo um caminho que vai se estreitando aos poucos. A cada vez que eu preciso voltar para Pedra Bonita, tenho um problema mais sério para resolver. A sensação que fica, é que em algum momento não terei mais capacidade para resolvê-los. Já quase abri um buraco no meio da sala de estar de Camila de tanta impaciência. Alberto, o advogado que está analisando o caso, está vindo para cá para conversarmos sobre o que podemos fazer.
Eu sou leigo. No máximo tenho alguns conhecimentos porque vez ou outra, preciso de assessoria jurídica para a transportadora, mas eu jamais recorreria ao advogado da minha empresa para resolver uma questão familiar. E nem sei se isso é possível. Mas como Félix já foi casado e passou por situações no mínimo semelhantes às minhas, o advogado dele é a pessoa mais preparada para me ajudar nisso.
— O que você acha de sentar e tentar sossegar um pouco?
— Sossegar, Camila? Parece que você tá falando com um dos seus filhos.
— Mas você tá se comportando como um deles. Não para quieto. — ela se justifica com as mãos no ar.
Os meninos e Isabela foram passear com o Félix para termos privacidade para conversar com o advogado. Eu diria que Camila já está com saudades dos filhos pelo jeito que ela está falando comigo, mas ela tem razão. Estou parecendo uma barata elétrica e tonta. Estou prestes a me render e me sentar ao lado de Diandra quando a campainha toca.
— Eu abro! — aviso já indo em direção à porta. Não aguento mais esperar. Assim que abro a porta, minha respiração começa a ficar um pouco mais relaxada. O cara deve ter uns cinquenta e cinco anos de idade, o suficiente para ter trabalhado em casos como o meu por muitos anos. Desde que passei a precisar de ajuda com os problemas que minha separação está me rendendo, a mediação entre esse advogado e eu estava sendo feita por Camila e Félix. Agora, finalmente, estamos frente à frente.
Apesar de ter aberto a porta, fico sem saber exatamente o que dizer além de uma saudação e um aperto de mão. Camila passa a minha frente e pede para que Alberto entre. Só depois de todas as devidas apresentações é que eu começo a sentir a adrenalina desse momento. Essa conversa vai definir meus próximos passos, e eles podem seguir para o caminho em que meu filho poderá trilhar com seus próprios pés. Pensar assim faz meu coração se apertar e a quase derreter ao mesmo tempo, mas não posso me dar o luxo de ficar emocionado agora. O que eu tenho que fazer é desengasgar de uma vez por todas.
— Alberto, minha ex-mulher conseguiu a porcaria de uma tutela de emergência e tirou meu filho de uma consulta médica. O que a gente pode fazer? Eu posso pedir uma tutela dessa pra que meu filho possa ser tratado logo?
Consigo ver o peito do advogado descendo e subindo com sua respiração pesada ao afrouxar a gravata e se sentar à nossa frente. O silêncio na casa não me deixa mais calmo diante de sua hesitação.
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Entre erros e acertos
ChickLitSer mandada embora de um emprego meia boca em um dia e começar a trabalhar em um novo local no outro, vai virar a vida de Diandra Mello do avesso. Aos vinte e cinco anos, ela vai enfrentar inúmeros obstáculos tendo Vallentina e Maurício Galzerano co...