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O assoalho da sala de espera já deve estar a ponto de pegar fogo com o atrito do meu sapato sobre ele enquanto ando de um lado a outro esperando por notícias dos dois: Bernardo e Diandra

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O assoalho da sala de espera já deve estar a ponto de pegar fogo com o atrito do meu sapato sobre ele enquanto ando de um lado a outro esperando por notícias dos dois: Bernardo e Diandra. É inacreditável que Diandra tenha vindo para cá para ajudar, sem nem saber direito o que estava acontecendo. Ela se colocou nessa para tirar Bernardo do perigo, e eu me recuso a aceitar que ela tenha sofrido qualquer arranhão por isso.

— Como ela está? — viro-me na direção da voz e me irrito imediatamente ao ver Ângela no batente.

— Como você ousa vir aqui perguntar qualquer coisa sobre ela? — faço uma pausa aguardando uma resposta atravessada, mas ela não vem. — Pouco tempo atrás tava ofendendo ela, agora tá dando uma de santa imaculada?

Minha ira não resulta em nada. O silêncio de Ângela me faz perceber que eu estou apenas tentando culpá-la do que aconteceu com Diandra. A passos lentos e apreensivos, ela se aproxima de mim.

— Eu não fazia ideia de que Vallentina seria capaz de algo tão... tão...

— Perverso — falo. — Brutal, cruel, desumano.

Eu poderia continuar dizendo de várias formas como essas atrocidades de Vallentina são monstruosas, porém, Ângela começa a chorar sem se importar de estar fazendo isso na minha frente. Não consigo consolá-la ou dizer qualquer coisa que amenize o que ela está sentindo, porque eu estou precisando de algo assim e não tenho.

Desvio o olhar e vejo as cadeiras vazias da sala de espera. Parece que não tenho outra opção a não ser me sentar e continuar desejando que Diandra esteja bem, e que a cirurgia de Bernardo esteja ocorrendo dentro do planejado. Contudo, assim que me sento a inquietação volta. Sinto vontade de levantar e continuar andando sem rumo pela sala de espera, ou de repente, de andar pelos corredores e vigiar se Vallentina já não deu um jeito de fugir da psiquiatria de novo.

— Quando vocês vão levar Vallentina daqui?

Ângela tira um lenço do bolso e limpa as lágrimas enquanto anda em minha direção. Não quero proximidade, quero uma solução.

— As coisas estão mais complicadas agora, Maurício. Vallentina machucou uma pessoa. Cometeu um crime dentro do hospital em que ela veio para cuidar do filho...

— O que ela fez foi tentativa de homicídio, Ângela. E antes de tenta matar Diandra, ela cogitou matar Bernardo, o filho que ela veio pra cuidar. — os olhos dela encontram os meus com um tom de espanto. — Se as coisas estão complicadas do jeito que você tá falando, a polícia precisa me ouvir. E ouvir Diandra, quando ela voltar do atendimento.

— Já te disseram alguma coisa sobre ela?

— Não — respondo a contragosto. — Olha, vocês desceram depois de mim, viram algo mais pelas câmeras e tem muito mais a dizer do que ficar me perguntando.

Agora quem desvia o olhar é ela, olhando tudo e não vendo nada, com o olhar perdido pela sala.

— Vallentina abriu a porta atrás dela e entrou com Diandra, a médica entrou rapidamente... acho que para tirar o bisturi da mão de Vallentina, mas em seguida a porta se fechou e... não conseguimos ver mais nada, por isso descemos também.

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