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Posso não saber o motivo dos desentendimentos entre Vallentina e Maurício, contudo, sobre a briga de ontem à noite eu tenho uma suspeita

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Posso não saber o motivo dos desentendimentos entre Vallentina e Maurício, contudo, sobre a briga de ontem à noite eu tenho uma suspeita. E detesto pensar em mim como pivô disso. O cenário fica pior quando penso na possibilidade de Maurício ter me autorizado a levar Bernardo para a rua como uma forma de provocação à Vallentina.

Meu instinto raramente falha, e ele me diz que os dois estão tendo problemas em aceitar a forma como estou trabalhando. Quem era contra, agora está a favor. E quem não conhecia meu jeito de fazer as coisas, está tendo surpresas um tanto desagradáveis.

Eu não vou deixar uma criança doente com uma empregada que tem mais empatia com uma vassoura do que com pessoas. E não entendo como a própria mãe dele pensa diferente de mim. Não consigo compreender o porquê dela não mostrar o filho às pessoas. Não sei de qual ponto de vista ela analisa essa situação, mas tenho a certeza de que ela está em um ponto cego. Uma visão unilateral, onde ela só consegue ver a própria opinião em relação ao filho, sobre protegê-lo de coisas que só ela vê.

Convencer Isabela a descer e tomar café da manhã não foi tão difícil depois da nossa conversa. Difícil foi para mim. Ouvir o que a incomodava foi um gatilho para relembrar de vários momentos ruins que vivi com a minha mãe. Caí em um abismo sem fundo. Cenas de horror passaram a martelar minha mente, me transportando para o passado. Uma época ruim em que minha mãe me trancava no banheiro para que eu não a visse sendo agredida, espancada. Isso quando eu não era o alvo das agressões.

— Não quero ter aulas de piano hoje — diz ela antes de terminar de beber o leite.

— Por que não? — indago.

— Não quero.

Sem sombra de dúvidas, ela ainda está abalada com a briga dos pais. Quando eu passava por isso, também evitava as pessoas, só não faltava às aulas, pois eram meus momentos de fuga do meu pai. Eu precisava tomar cuidado para não chamar a atenção das professoras, já que meu pai ameaçava me bater ainda mais se eu contasse a alguém o que ele fazia comigo e com minha mãe.

Eu vou ligar para o professor dela e dizer que ela não está muito bem, e que é melhor cancelar a aula de hoje. Qualquer coisa, digo à Vallentina que o professor não pôde vir. Ela não vai saber a verdade a menos que ela ligue para ele e confirme a história. As coisas só mudam quando o professor, que se chama Otávio, diz que já está a caminho, e que por morar muito longe, vai vir aqui nem que seja apenas para ver como Bela está. O que não a agrada muito, já que receber visitas era justo o que ela não queria.

Assim que abro a porta para receber o professor, sou encarada por um par de olhos confusos. O homem de meia idade, magro e grisalho está me olhando como se eu tivesse três cabeças.

— Você não é a Mayara — diz ele.

— Não, senhor. Me chamo Diandra e sou a nova babá das crianças. — dou espaço para que ele entre, mas ele continua a me encarar.

Entre erros e acertosOnde histórias criam vida. Descubra agora