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Quando Vallentina começou a perder o juízo por causa da gravidez de Bernardo, eu já carregava uma sensação dentro do peito que me dizia que nada mais seria como antes

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Quando Vallentina começou a perder o juízo por causa da gravidez de Bernardo, eu já carregava uma sensação dentro do peito que me dizia que nada mais seria como antes. Tentar abortar várias vezes o filho que eu escolhi chamar de meu só me provou isso. Por quase um ano eu fiquei lamentando o fato de que eu não tinha mais um bom casamento. Depois disso, passei a lamentar que eu estava preso a esse péssimo casamento. E há alguns meses, já tinha aceitado esse fato. Era isso. Ou eu me divorciava e ficava longe dos meus filhos, ou viveria ao lado de uma mulher que, além de não amar mais, me causava asco. Isso tudo só para poder estar perto dos meus filhos.

Seja lá por qual razão, eu sempre detestei coisas erradas. De matar um ser humano a matar um inseto. Caráter? Eu não sei. Talvez. Então entrar naquela boate com uma camisinha recém comprada na farmácia foi algo muito desafiador. E errado. Naquela semana, Vallentina e eu brigamos pelo menos duas vezes por dia. De lei, uma briga era sempre quando eu chegava do trabalho. A outra era por ligação, no meio do dia. Muitas vezes eu tive que desligar o celular para que esse número de discussões não chegasse a três ou mais. O motivo? Eu evitava ao máximo estar em casa ao mesmo tempo que ela. E não era só porque eu não a amava mais, mas porque ela transformava qualquer conversa em um combate.

Bela queria aprender a andar de skate. Vallentina agiu como um general de guerra quando ouviu isso da nossa filha na mesa de jantar. Tocar piano e fazer balé. Isso são coisas que ela não só poderia, mas deveria fazer. Eu tentei intervir e explicar que não haveria problema algum nisso, mas a discussão só piorou. Outra vez, Jônatas pediu para pagarmos um curso de programação de gamers. Eu quis pagar. Ele gosta de jogos. Mas preciso dizer no que isso deu? E se as coisas já eram assim com nossos filhos mais velhos, como iriam ser para Bernardo, com suas limitações?

A criação de Vallentina fez ela ser assim, porém, à partir do momento em que os filhos dela tem um pai, que sou eu, eu deveria poder opinar e articular nos assuntos referentes a eles. Mais que isso. Eu deveria ser ouvido e autorizar, ou não, qualquer pedido deles também. Nem que para isso precisássemos sair de cena e debater entre nós até que chegássemos a um acordo. Eu já não tinha participação em uma coisa quando ela estava presente. Então por qual razão eu deveria estar lá? Eu estava farto de tudo. Exceto dos meus filhos.

Viajei para negociar a venda de dois caminhões velhos para a compra de um novo. Uma viagem de apenas dois dias, mas que foram os dois dias mais tranquilos depois do caos que minha vida havia se transformado. Eu estava me sentindo vivo de novo. Por duas noites não tive a apreensão de voltar para o ambiente mais nocivo que já pisei, aquela mansão. Quando voltei para Pedra Bonita, não me senti pronto para voltar para aquilo. Faltava algo. Algo que eu não já não fazia com a minha mulher há algum tempo. Algo que eu fantasiava um dia poder fazer com outra mulher se um dia conseguisse me separar. Mas essa separação era impossível. Então a hora para fazer isso era aquela.

Transar com uma mulher qualquer naquela noite já não parecia um erro tão grande, tendo em vista tudo o que eu estava aturando de Vallentina. Eu só precisava ter o cuidado de encontrar qualquer mulher que não fosse de Pedra Bonita. Ou que pelo menos não me conhecesse, ou que não conhecesse a minha esposa. Só que, embora Diandra não nos conhecesse, ela não era uma mulher qualquer. E quando eu a vi dentro da minha casa, a casa que eu morava com a minha mulher, constatei que eu não poderia conviver com aquele erro todos os dias. A questão é que não foi preciso mais que dois dias para que eu me desse conta de que ela foi o meu maior acerto.

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