O domingo foi tranquilo. Eu voltei ao sítio mais uma noite, para mais um luau, na tentativa de animar Olivia, mas a segunda-feira chegou e com ela, alguns problemas. Eu havia chegado cedo para recepcionar a Olivia e o Leo, mas, pelo jeito, não fui só eu. A Luana e o Natan já estavam no estacionamento, esperando-os, também. E já estavam discutindo entre si.
Pensei em ligar para o Leo e avisá-lo para entrarem pelo outro lado, mas já era tarde, ele tinha acabado de surgir na entrada, de bicicleta, com a Olivia pedalando logo atrás, em outra bicicleta azul com uma cestinha na frente. A face dela ao ver Luana e Natan a esperando foi a mais difícil de decifrar que eu já vira, mas a de Leo era óbvia, ele me encarou com cara de quem pede socorro. Eu me aproximei para tentar dar apoio e peguei a discussão no auge.
- ...para a minha casa. - Falou Luana.
- Mas, é meu filho, então ela vai para a minha.... - Falou Natan, antes de ser cortado.
- Eu não irei para a casa de nenhum dos dois, ficarei na casa do Leo enquanto eles me aceitarem. - Decretou Olivia, por fim. - Agora, se me dão licença, eu tenho aula.
Ela passou pelos dois e foi sozinha para dentro da escola, irritada. Natan xingou alguns palavrões e também saiu, esbarrando em mim de propósito, com toda sua força.
- O que aconteceu com o tempo para si própria e esquecer Olivia? - Perguntou Leo, enquanto acorrentava as bicicletas na mesma corrente.
- Não posso abandoná-la nessa situação. - Respondeu Luana. - Posso marcar de ir um dia na sua casa?
- Vai me visitar ou visitar a ela? - Perguntou ele com o deboche de sempre.
Luana não respondeu, apenas o encarou.
- Converso com você quando chegar na sala. - Falou Leo, por fim.
Ela xingou alguns palavrões e também se foi.
- Acho que as boas vindas que eu pretendi dar aos dois foi por água abaixo. - Falei.
- As coisas estão difíceis. - Disse ele, se levantando e olhando para mim com um grande sorriso no rosto. - Mas é sempre bom te ver.
Respondi com outro sorriso e fomos juntos à biblioteca.
- Agora vamos ler "A maldição do Titã"? - Perguntou Leo.
- Depois de tudo que aconteceu, acho que merecemos uma pausa para ler. - Respondi. - Como estão as coisas na sua casa?
- Obrigado! - Eu abri a porta da biblioteca e fiz um gesto para ele entrar - Meus pais estão levando bem, Olivia ajuda minha mãe em casa e eu fiquei apenas com o trabalho de ajudar meu pai.
- Isso é bom, então, reduziu o seu trabalho. - Falei.
Pegamos o livro na estante e fomos em direção à mesa da bibliotecária.
- Sim, - Respondeu ele. - está tudo bem. Olivia me faz companhia nas minhas séries e filmes, com ela lá eu me sinto menos estranho.
- Olá, meninos. - Saudou a Senhora Lin, do balcão.
- Bom dia. - Respondeu Leo.
- Olá! - Respondi, também. - Como assim, menos estranho? - Voltei ao assunto.
Leo revirava a mochila, pegando o outro livro para entregar à bibliotecária.
- É que, às vezes, eu me sinto desligado do mundo real. Passando o tempo todo preso no sítio assistindo algum filme ou série, ou com a cara enfiada em um livro. Achei! - Falou ele, tirando o livro da mochila e entregando-o - A única coisa que me mantinha unido ao "mundo real" era Luana, e mais tarde você. Com Olivia em casa parece que estou sempre em contato com o mundo real.
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Do Meu ao Seu Interior
RomanceLeo e Nick são dois jovens cursando o último ano do ensino médio em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Leo mora na parte mais abastada do município, numa fazenda acessível apenas pela longa estrada de terra que delimita os limites da cidade...