Leo - Capítulo 1 - Não destrate a Cíntia

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 Já pararam pra pensar em quanto tempo passamos esperando por algo que, às vezes, acontece da maneira mais estranha e inexplicável possível, como se o destino tivesse preparado tudo para aquele momento exato, e toda a bagunça em que sua vida estava começa a fazer sentido?

Pois bem, nunca achei que chegaria onde estou agora, mas ainda bem que cheguei. Vou contar tudo do começo para vocês entenderem direito essa novela. Eu me chamo Leonardo, tenho 18 anos e moro no interior do interior do Rio De Janeiro. A fazenda onde moro ocupa o canto mais remoto da cidade, onde só se vê mato para os lados e o horizonte para cima.

Não tenho muito o que fazer fora dos limites do sítio e só saio de casa para ir e voltar da escola. Trabalho na fazenda minhas diversões se limitam aos filmes, séries e livros que assisto e leio. Muito agito, não?

Tudo começou a mudar no dia 28 de outubro de 2011, sexta-feira e último dia da semana na escola. A Fox ia maratonar a terceira temporada de "Glee" naquela noite, e eu pretendia assistir cada episódio, do início ao fim. Esse era o plano, mas quando saí da aula fui surpreendentemente abordado no meio do pátio.

- Você vai, né? - Luana se aproximou com a intensidade de um furacão, cruzando os corredores a minha procura. - Por favor! Diz que você vai!

Ela se forçava a ser fofa para tentar me convencer das coisas. Luana era minha âncora no "mundo real" (como eu gosto de chamar a cidade) e me mantinha atualizado de tudo que acontecia no pacato (ou não tanto) municipio de Serra Grande. Ela era meu exemplo de força, sempre sendo ela mesma independente de tudo. Tinha um estilo peculiar, usando as roupas da parte masculina da loja, seu peso não era um empecilho para sua vida e Deus sabe o quanto ela sofreu com a perseguição da sua sexualidade nessa cidade mixuruca.

- Na festa de Halloween? - eu já sabia a resposta.

- Hahann - Ela balançou a cabeça.

- Na casa do Natan? - De novo eu já sabia a resposta.

- Hahann - Concordou ela de novo.

- Cheia de pessoas fantasiadas se beijando livremente como se DST's não existissem?

- Haaaa! Para de pensar desse jeito, cara!. - Ela me fez parar no meio do pátio. - Você já não sai a um tempão, só fica enfurnado dentro de casa, tem que conhecer gente nova!

- Eu já conheço gente o suficiente. - Respondi.

- Os bichos da Fazenda não contam.

- Não destrate a Cíntia. Ela me ama.

- Claro! Você alimenta ela. Qualquer um se apaixona por quem o alimenta. Mas voltando aqui, você vai vir sim porque você ta me devendo uma dessa vez.

- Eu pensei que tinha pago! - A expressão fechada dela já mostrava a resposta. - Tem certeza que quer que eu a pague com isso? Pode ser um lanche na cantina?

- Eu aceitaria se minha namorada não quisesse muito ir a essa festa.

- Então a Olivia está por trás de tudo? - Cansei de ficar em pé e me sentei em um banco próximo.

- Sabe que eu faço de tudo por ela. - Ela se sentou ao meu lado. - E você precisa socializar um pouco e largar os livros e filmes às vezes.

- Eu não tenho interesse.

- Você não tem interesse por nada que não seja fictício. Eu vou te mandar o endereço da casa, te espero às 20h.

- Mas eu não concordei qu... – Ela se levantou e saiu ao encontro de Olívia.

Elas se beijaram e Olívia me deu um olá de longe. O namoro delas era de fato fofo, parecia um clichê lésbico que todo mundo gosta. Olívia era a típica menininha que gosta de usar vestidos e usa maquiagem de forma natural, ela tem seus cabelos com pequenos cachos na altura dos ombros e a pele morena. Sempre foi muito carinhosa comigo e é uma ótima companhia para quando estou sem Luana. Mas confesso que tenho ciúmes, pois sem as duas eu fico sozinho, e era assim que eu estava naquele momento, totalmente sozinho sentado no meio do pátio da escola.

Do Meu ao Seu InteriorOnde histórias criam vida. Descubra agora