Leo - Capítulo 31 - Eu queria ter trago meu violão

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 Eu confesso que estava com saudades de um tempo pra mim, passei a tarde revisando entre ler, assistir séries e escrever alguma coisa, ser sozinho já virou parte de mim, mas Nick e os outros eram partes que eu também gostava, e eu estava prendendo a manter isso em harmonia. Fui dormir cedo pois no dia seguinte acordaria cedo também, esse namorado meio doido que tenho resolveu fazer uma trilha para a serra de Serra Grande, já que eu nunca tinha visto a vista de lá e ele prometeu que me levaria.

Não vejo necessidade de narrar a manhã, vamos pular pra parte que interessa, lá estava Nick na portaria do sítio de tênis e mochila nas costas com os olhinhos brilhando. Ele parecia uma criança que ia pro seu primeiro dia de aula, antes de descobrir como a escola pode ser assustadora. Voltando ao meu namorado, ele sorria para mim, era fofo ver a ansiedade e felicidade (sério, ele estava quicando levemente de tão empolgado que estava).

- Bom dia. - Disse a ele

- Bom dia! - Ele respondeu feliz

- Você conseguiu dormir essa noite? - Perguntei preocupado

- Não. - Respondeu ele ainda sorrindo como se já fosse algo normal

Eu o olhei com uma cara feia e ele abriu um sorriso mais forçado ainda.

- Vai dar tudo certo. - Disse ele - Confia em mim

Eu não tive como dizer não aquela carinha sorridente, mas ele estava errado, não deu tudo certo, ou deu também, depende do ponto de vista. Começamos a subir a estrada de chão da minha casa, eu juro que nunca tinha ido tão longe assim, passamos pela "entrada secreta do lago" e continuamos até chegar no pé do morro, seguimos a estrada de chão morro a cima, ainda havia algumas casas por ali, a maioria com galinhas, cabras e porcos no quintal, então eu ainda estava na minha área.

Chegamos em uma parte onde a rua começou a se estreitar, as árvores se fecharem sobre nossas cabeças tampando o céu, e foi quando eu percebi que já estava no meio do mato. Era uma trilha parecida com a do lago, a única diferença é que a subimos eternamente com a rota um pouco íngreme, a do lago era uma trilha reta e curta porém muito mais fechada.

Após uma hora subindo sem parar, finalmente chegamos, e dessa vez foi a minha vez de dizer:

- Uau!

Estávamos à beira de um precipício e a vista era realmente incrível, você conseguia ver Serra Grande toda de lá, eu conseguia ver o colégio, a casa de Luana, a minha casa estava bem perto e era fácil de achar. Eu fiquei tão impressionado com aquilo que não notei que Nick armou um piquenique para nós, quando me virei me deparei com uma toalha posta e vários lanches.

- Surpresa! - Falou ele - Feliz duas semanas de namoro

Ele estava de joelhos e com um buquê de flores na mão, eu involuntariamente comecei a rir, e ele ficou sem entender nada.

- O que? Eu fiz algo de errado? Meu cabelo está despenteado?

- Não, você está perfeito, isso é perfeito. - Eu o respondi ajoelhando a sua frente - Você é perfeito.

E o beijei, deitamos sobre a toalha e ficamos olhando o céu azul sobre nós ouvindo o som dos pássaros cantando e do vento batendo nas árvores.

- Eu queria ter trago meu violão. Mas a mochila já estava muito pesada com esse bando de coisas.

- A quanto tempo você planejou isso?

- Planejei fazer quando você chegasse de viagem, mas aí teve o problema com a mãe de Olívia, e depois a festa do Nathan... e você pediu um dia de folga ontem.

- Eu só precisava descansar - Respondi entre uma risada

- Acabou que ficou pra hoje, eu queria trazer você para um lugar lindo igual você nos levou em nosso primeiro beijo

- Primeiro beijo roubado. - Corrigi ele

- Mas ainda foi um belíssimo beijo. - Ele completou

Ficamos mais uns minutos em silêncio até uma dúvida surgir em minha cabeça.

- Nick, como você conhece esse lugar?

Ele não respondeu, ficou calado, eu estava deitado em seu peito e levantei a cabeça para ver seu rosto, ele não aparentava estar mexido com a pergunta, apenas se perdeu no tempo.

- Meu pai me trazia aqui quando eu era mais novo, antes dele ir embora.

- Me desculpa.

- Está tudo bem, meu pai não é um assunto que me machuca.

- Você nunca falou dele para mim.

Ele respirou fundo.

- Ele nos deixou quando eu tinha oito anos, arrumou outra família e se foi. Ele vinha me ver toda semana, depois passou para quinze a quinze dias, depois uma vez por mês e depois uma vez por ano. Hoje em dia ele só me liga em datas festivas, eu nunca mais o vi pessoalmente já faz uns três anos.

Eu ouvia tudo atentamente, e ficava impressionado a cada história que ele me contava de sua vida, de como Nick era forte e do quanto eu era sortudo por ter tudo que tenho, inclusive ele. Eu o abracei forte, ele me puxou para cima e me beijou, e quando nos afastamos ficamos ali, centímetros um do outro, encarando seus olhos castanhos, enquanto eu fazia carinho em seu cabelo e ele sorria para mim. Era um silêncio acolhedor, eu confiava nele e ele confiava em mim, e não precisávamos de palavras pra mostrar isso, e por um segundo ele desviou os olhos para cima e levantou.

- Leo, acho melhor voltarmos. - Falou ele serio

- O que houve? - Perguntei levantando preocupado

Ele apontou para cima e começou a guardar as coisas preocupado, havia uma grande nuvem cinza se formando, ela vinha por detrás da montanha, e estava carregada.

- Precisamos nos apressar se não podemos pegar ela durante a descida da trilha ou vamos nos ferrar muito.

Pegamos nossas coisas e corremos pela trilha, pareciamos os vampiros de Crepúsculo correndo por entre as árvores, e apesar da adrenalina e o medo da chuva estávamos rindo disso tudo. Acima de nós as trovoadas ecoavam alto, mas a chuva só começou a cair quando já tínhamos saído da trilha, estávamos na estrada de chão e ainda em cima da serra, e se você acha que paramos de correr alí, você se engana redondamente. Descemos aquela ladeira como corredores Olímpicos, e quando chegamos ao pé da serra, alguns metros antes da minha casa, Nick parou.

- O que foi? - Perguntei

- Eu sempre quis fazer isso. - Ele falou se aproximando

E me beijou mais uma vez, em meio a chuva, todo molhado, como se não houvesse nenhuma possibilidade de um raio cair na nossa cabeça naquele momento. Mas tudo bem, naquele instante nem pareciamos que estávamos na chuva, meu corpo só sentia Nick me segurando, e o frio sumia de mim, eu poderia ficar ali por horas, mas nos afastamos e voltamos a correr em direção a minha casa.

Do Meu ao Seu InteriorOnde histórias criam vida. Descubra agora