Era muita coisa pra digerir, eu entendia totalmente o porquê dela querer beber daquele jeito, mas eu estava preocupado com o bebê e com a saúde dela, além de tudo isso, da mãe. Depois de Nick quebrar o silêncio de quase dois minutos eu ousei perguntar.
- E o que você vai fazer?
- Disse a ela que ainda era muito cedo pra voltar, - Respondeu ela - que ainda tinha muita coisa pra acontecer.
- Quando que aconteceu tudo com seu padrasto? - Perguntou Nick
- Um dia depois do ocorrido no park, ela soube o que aconteceu e eles brigaram feio. Ela o culpou por todo o estresse e o tirou de casa.
- Pelo menos ela está longe dele agora. - Comentou Nick
- Essa não é a primeira vez que ela o tira de casa, já houve outras, por mais medo que ela sinta, volta e meia ela o manda embora, e na semana seguinte ele já está de volta.
- Mas dessa vez pode ser diferente, - Insistiu ele - tem uma criança envolvida.
- Nick eu já não tenho esperanças de nada, isso aconteceu mais vezes do que posso contar e é sempre a mesma história. Eu sempre me iludia achando que "dessa vez vai ser diferente", e no final dava sempre no mesmo. Então não vou mentir pra mim de novo, só vou sentar e aguardar o que vai acontecer.
Os olhos de Olivia estavam sem o brilho habitual dela, aquilo que ela sentia era a falta de esperança, um coração tão machucado que já não podia acreditar em um futuro melhor com a própria mãe.
- E quais são os termos dessa sua espera? - Perguntei
- Vou visitá-la duas vezes na semana, ver como estão as coisas e se ela precisa de ajuda. Quando ela conseguir um emprego e estabilidade sem ele, deixei bem claro essa última parte, eu volto.
- Achei aceitável. - Comentei
- Eu também. - Concordou Nick - Podemos ir com você se quiser, não é?
- Com toda certeza. - Concordei
- Obrigado meninos, eu não sei o que seria de mim sem vocês.
Nós abraçamos na calçada, deu para sentir o quanto Olivia estava abalada, mas ela era forte, passou por muita coisa nesse verão, coisas que ela não merecia, e no fundo ela sabia que esse era só o começo.
- Vamos para casa? - Pediu ela - Estou cansada.
- Claro. - Eu disse levantando
- Acho que vou guardar isso então. - Comentou Nick sobre a garrafa de bebida
Fomos caminhando até a casa dele para buscar a minha bicicleta que estava no quintal.
- Que tal irmos ao lago amanhã? - Sugeri - Estamos de ferias mesmo.
- Boa! Você já tava me devendo mesmo.
- Quem fugiu da última vez foi você. - Respondi
Peguei a bicicleta do chão e ele ia se apressando para buscar a dele.
- Não. - Eu pedi - Deixe eu te deixar em casa desta vez.
- Ok, Romeu. - Respondeu ele
Eu ri disso, olhei pra janela lembrando. Ele me abraçou, queria ter dado um beijo mas sabia que ali não era o lugar pra isso.
- Tchau, Leo.
- Tchau, Nick.
Ele abraçou Olivia e entrou, ou melhor, ficou da porta nos olhando ir. Olivia estava sem bicicleta então fomos caminhando um ao lado do outro. E no momento em que passamos pela praça de novo ela travou.
Segui os olhos dela e entendi o porquê, seus olhos se encontraram com Nathan que estava sentado com os outros meninos conversando.
- Você quer falar com ele? - Perguntei
- Eu não sei... - Ela respondeu
Mas já era tarde demais, ele já nos tinha visto e vinha em nossa direção.
- Ainda dá tempo de correr. - Comentei entre os dentes
- Oi! - Falou ele se aproximando
- E ai?! - Respondi
- Você está melhor?
- Sim. - Respondeu Olivia - Obrigado por ter me ajudado naquela noite.
- Não precisa agradecer. Eu só queria saber se você está bem.
- Estou sim. - Finalizou ela
- E o escritor aqui? - Perguntou ele olhando para mim
- Está tudo bem. - Respondi
- Muito bom, fala pro Nick que quero conversar com ele.
- Sobre? - Perguntou Olivia antes de mim
- Quero agradecê-lo por cuidar de você. - Ele respondeu
- Você não é meu dono pra agradecer o que as pessoas fazem por mim... - Respondeu ela
- Calma eu só quero me resolver com ele. - Falou ele cortando ela
- Por que agora? - Perguntei
- Porque eu não quero nada me impedindo de me reaproximar de Olivia.
- Natan, eu...
- Por favor, não fale nada. - Ele interrompeu ela de novo - Eu sei que suas palavras vão ser pra me manter longe, mas eu quero que seja diferente. Não precisa que fiquemos juntos, eu só quero te ajudar e ajudar o nosso filho. Sem segundas intenções.
- Tudo bem. - Ela falou por fim - Nós falamos depois.
- Tudo bem, boa noite. - Ele se virou e voltou para seus amigos
E nós seguimos nosso caminho, em silêncio por alguns minutos. Até já estarmos no caminho de terra, quando só os grilos e vagalumes pudessem nos ouvir.
- O que acha? - Ela perguntou
- De qual parte?
- As duas.
- Por mais babaca que ele possa ser, achei sincero da parte dele, e que em partes é responsabilidade dele também. Então podemos dar um braço a torcer para ver onde isso vai dar.
- Huhunn, e sobre a parte do Nick?
- Não sei como Nick vai reagir a isso, mas na verdade seria uma boa ele estar perto de Natan para acompanhar o que ele pretende fazer.
- E você acha que ele vai aceitar?
- Não sei... Falo com ele amanhã sobre isso.
Na verdade ter Natan por perto pode ser melhor para o Nick do que só isso. Ele precisa de mais amigos mesmo, pra não cair quando eu estiver muito tempo longe como aconteceu. Mas vai ser uma grande luta fazê-los serem amigos de novo.
Chegamos em casa e começou a reunião familiar em casa, todos nós sentamos a mesa para jantar e conversar sobre o que acontecerá com Olivia. Assim como eu, meus pais acharam os termos que Olivia impôs à própria mãe muito bons, e frisaram que sempre terá um lugar para ela naquela casa. Depois disso fomos todos dormir pelo dia longo e cansativo que tivemos.
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Do Meu ao Seu Interior
RomanceLeo e Nick são dois jovens cursando o último ano do ensino médio em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Leo mora na parte mais abastada do município, numa fazenda acessível apenas pela longa estrada de terra que delimita os limites da cidade...