Depois da linda vista da roda gigante, nós passamos o resto da noite indo em brinquedos que não envolvessem altura, a não ser pela montanha-russa em que foram Luana, Nick, Gus e Elis. Eu e Olivia ficamos de fora, fazendo um lanche.
- Como foi o passeio na roda gigante? - Perguntou ela, colocando um punhado de batatas frita na boca.
- Foi legal, apesar do medo de altura, foi tranquilo.
Ela sorriu para mim como se estivesse olhando filhotes de cachorros brincando.
- E você e a Luana? - Me atrevi a perguntar. - Como estão?
Ela se calou por um tempo, molhou a boca com refrigerante, tomou um ar e respondeu:
- Nos acostumando a ser só amigas. Aparentemente é mais difícil para ela, o que torna difícil para mim, também.
Se colocar no lugar de outra pessoa nunca foi uma dificuldade para mim, eu era acostumado com interpretação de texto e exemplos complexos dos livros de investigação criminal que eu lia. Então eu imaginei isso acontecendo comigo e com o Nick. É claro que era uma balança totalmente desregulada, Luana e Olivia passaram meses juntas, enquanto eu e Nick estávamos juntos há apenas duas semanas. Mas, mesmo assim, era fácil de entender a relutância de Luana e a dificuldade de Olívia para serem só amigas.
- Posso me sentar aqui? - Perguntou uma voz, interrompendo meu raciocínio e as batatinhas de Olívia.
Era Nathan com toda a cara de pau do mundo e um cachorro-quente na mão.
- Sim. - Respondeu ela, após um breve tempo em silêncio.
Ele sentou entre Olivia e eu, estávamos em uma daquelas mesas quadradas de bar que tinham quatro cadeiras, uma em cada extremidade, eu estava sentado em uma ponta e Olívia em outra, para ficarmos de frente um para o outro e conversarmos olho-no-olho. Ele pegou a cadeira de um dos lados, sentou e ficou em silêncio por um tempo, a torta de climão estava servida à mesa.
- Estão animados para as férias de verão? - Perguntou ele, quebrando o gelo.
Eu balancei a cabeça respondendo que sim, eu realmente tinha um grande pé atrás com ele por todas as histórias que já escutei de Olívia e Nick. Eu deveria odiá-lo? Provavelmente sim, mas não poderia tomar minha decisão final sobre uma pessoa com base no que outras pessoas me disseram. Minha ideia sobre ele deveria ser formada pelo nosso convívio, e ele havia me tratado bem, em todas as ocasiões em que estivemos juntos. Mas é claro que alguns lobos se vestem de cordeiro no começo da história, e eu não era ingênuo também, tinha uma noção do terreno em que estava pisando e vi uma chance de avaliar esse indivíduo.
- O que pretende fazer agora que terminou o ensino médio? - Perguntei a ele.
- Iniciarei meus estudos em uma faculdade de matemática. - Respondeu ele, sem pensar duas vezes.
- Que escolha interessante. - Eu falei.
- Por quê? - Perguntou ele confuso.
- Você tem porte atlético, sempre o vejo no campo jogando futebol, imaginei que se interressaria por algo mais voltado para educação física.
- Não se pode julgar o livro pela capa. - Falou ele, em meio a uma risada.
Olívia estava calada, devorando suas batatinhas, talvez imaginando o que aconteceria quando os outros voltassem da montanha-russa.
- E o que você pretende fazer? - Ele me perguntou.
- Literatura, na PUC.
- Uau, espero que consiga nota para isso.
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Do Meu ao Seu Interior
RomansaLeo e Nick são dois jovens cursando o último ano do ensino médio em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Leo mora na parte mais abastada do município, numa fazenda acessível apenas pela longa estrada de terra que delimita os limites da cidade...