Passar a noite conversando me fez acordar tarde no sábado. E, quando digo tarde, quero dizer às 13h. Quando desci do meu quarto a mesa do almoço já estava posta e meus pais estavam sentados, comendo.
- Pensei que não ia mais acordar. - Caçoou meu pai. - Quase liguei para o IML e pedi para levarem o corpo.
- Senta, filho! - Disse minha mãe, serena como sempre.
Sentei-me entre os dois, ainda com a cara amarrotada, o cabelo desgrenhado e embaraçado.
- Como foi com seu amigo? - Perguntou a minha mãe, oferecendo a jarra de suco de laranja. - Ficou praticamente o dia todo na rua ontem.
- Ele tem depressão, não estava se sentindo bem, havia sumido da escola por três dias. Então achei melhor ir vê-lo.
- E ele está se sentindo melhor? - Perguntou meu pai.
- Sim. - Respondi. - Conversamos a noite toda pelo celular, eu acredito que tenha melhorado, pela forma que estava me respondendo.
- Com você como amigo, ele com certeza irá melhorar. - Respondeu minha mãe.
- O que quer dizer com isso? - Questionei.
- Você tem uma aura de paz e tem tanta bondade dentro de você... Se passar 25% do que exala para ele, ficará bem em instantes. - Ela sorriu para mim ao dizer aquelas palavras.
Naquele momento, entendi de onde vinha toda a paz que ela disse que eu emanava, era dela. Tudo vinha dela, meu pedaço de paz na terra conturbada e barulhenta. O resto do almoço foi silencioso. Após terminar, retiramos a mesa e, dessa vez, era minha vez de lavar a louça.
Uma mensagem do Nick chegou no celular, mas com a mão molhada não pude ver o que era. Alguns minutos depois ele ligou.
- Desculpa, eu estava ocupado e não consegui ver sua mensagem. - Respondi ao atender.
- Eu preciso de ajuda. - Respondeu ele, do outro lado da linha.
- Aconteceu algo?
- Consegue vir aqui? - Perguntou ele.
- Quem é? - Perguntou minha mãe, me vendo ao celular.
- É o Nick, eu posso ir vê-lo? - Respondi.
- É claro. - Respondeu ela.
- Estou a caminho. - Respondi a ele.
- Sabe onde Olivia mora? - Perguntou ele.
- Sim.
- Então, me encontra na frente da casa dela. - Ele respondeu.
- Ok.
Peguei a bicicleta e saí em disparada.
- Onde vai? - Perguntou meu pai ao me ver passar na velocidade de uma bala.
- Acho que aconteceu algo...
- Então vai! - Ele me interrompeu. - Coloquei óleo nas correntes, ela vai estar a todo vapor.
- Obrigado, pai.
Subi nela e acelerei como nunca antes, a velocidade fazia subir uma nuvem de poeira da estrada de terra seca. Em alguns minutos eu já havia chegado ao asfalto, e me vi seguindo em direção à casa da Olivia, na mesma velocidade. Já havia os visto de longe, Nick e Olivia estavam sentados na calçada, conversando. Enquanto eu me aproximava, notei que Nick estava com o cabelo preso, usando tênis, uma bermuda preta e uma camiseta azul-escura da adidas, na qual estava escrito "just do it". Ele estava com os fones pendurados no pescoço e plugados ao celular, que estava em seu bolso. Olivia estava vestida da forma habitual, com uma bermuda jeans e uma camisa amarela. Porém, seu rosto estava inchado, de tanto chorar. Havia uma mala e uma mochila atrás dela. Nick parecia fazer de tudo para acalmá-la, e quando me viu se aproximando, ele se levantou para me recepcionar.
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Do Meu ao Seu Interior
Storie d'amoreLeo e Nick são dois jovens cursando o último ano do ensino médio em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Leo mora na parte mais abastada do município, numa fazenda acessível apenas pela longa estrada de terra que delimita os limites da cidade...