A situação estava tensa. Leo foi ao telefone falar com os seus pais e Olívia, se afastou um pouco de nós para isso. Eu coloquei a mãe dela sentada no banco, ela soluçava e respirava fundo, me ofereci para comprar uma água ali perto, mas ela negou e apenas repetia que tudo que precisava era ver sua filha.
- Olívia está vindo para cá com meus pais. - Falou Leo voltando do telefonema
- Muito obrigada.- Falou ela limpando as lágrimas - Acho que vou aceitar a água agora.
- Vou buscar. - Falei
- Eu vou com ele.- Falou Leo - Voltamos logo, por favor não saia daqui.
Ela concordou com a cabeça, e voltamos para a sorveteria.
- Meus pais acharam melhor trazer Olívia para que a mãe dela não saiba onde ela está hospedada.- Comentou Leo - Caso dê algum problema, ela precisa de um lugar que saiba que sua mãe não vai aparecer do nada lhe causando dor de cabeça.
- Eles são espertos. - O respondi.
Entregamos a garrafa de água mineral a ela, suas mãos tremiam, eu queria muito perguntar se estava tudo bem, o que tinha acontecido, mas aquilo não era da minha ossada, eu não ajudaria em nada e talvez só pioraria o estado dela. Não demorou muito para os pais de Leo chegarem, Olívia estava receosa, nem conseguia imaginar tudo que ela passou antes de sair daquela casa ao ponto de ter medo da própria mãe.
Sua mãe por outro lado não parou de chorar, quando viu a filha as lágrimas aumentaram, ela abraçou a filha com tamanha força que assustou a todos, e Olivia também não se conteve e caiu em lágrimas.
- Filha, volta pra casa. Eu estou sozinha.
- O que houve com o Yago? - Perguntou Olivia
- Ele me bateu... - Ela não completou a frase
E nem foi preciso, Olivia a abraçou mais forte ainda. Achamos melhor deixá-las sozinhas para conversar, fomos para o carro e ficamos do lado de fora as observando e dando espaço ao mesmo tempo.
- Acha que ela pode voltar para casa? - Perguntou Leo a sua mãe
- Olivia não pode pensar só nela agora, ela tem um vida delicada crescendo dentro dela.- Respondeu a mãe dele - Ela vai ter que pensar bastante a respeito do que fazer.
- De qualquer forma nossa casa sempre vai estar aberta para ela.- Completou o pai de Leo
Era muito bonito ver o quanto eles acolheram ela em sua casa, abriram suas portas para a ajudar em uma dificuldade sem nem pensar duas vezes, isso me deixava curioso pra saber como eles reagiriam sobre o relacionamento que eu e Leo temos. Mas Leo já falou que não era uma boa ideia, que era melhor ver até onde isso vai.
Não demorou muito pra Olivia vir falar com a gente, informou que iria até a casa da mãe resolver algumas coisas, mas que retornaria para a casa de Leo mais tarde.
- Eu pretendia ficar aqui com o Nick, posso esperar até a hora de você voltar para irmos juntos.- Sugeriu Leo
- Pode ser.- Respondeu Olivia - Eu não sei se vou demorar, então se ficar muito tarde pode ir sem mim.
- Sabe que eu não vou fazer isso.- Contestou Leo
- Tudo bem!- Disse a Mãe de Leo - Vamos voltar para casa pois ainda temos muito o que fazer.
- Obrigada por terem me trago até aqui.
- Sem problemas! - Respondeu o Pai de Leo entrando no carro.
- Daqui a pouco eu volto. - Falou Olivia por fim indo embora com a mãe
E ficamos só eu e Leo mais uma vez para curtir o fim da tarde.
- O que quer fazer? - Perguntei
- Olha, nem eu que bebo, acho que preciso de um copo agora. - Ele respondeu em tom sarcástico
- Agora você tá falando a minha língua. - O respondi sorrindo
...
- Você sabe que eu não estava falando sério, não é? - Disse ele me encarando
- Leo, para de estragar a festa. - O respondi
- Mais alguma coisa? - Perguntou a moça do caixa depois de ter passado a garrafa
- Não. - Respondi
- Deu 10 reais.
Eu entreguei a nota, agradecemos um ao outro e saímos de lá com a garrafa nas mãos.
- Eu nunca bebi uma gota de álcool na minha vida. - Disse Leo
- Pra tudo se tem um começo meu amado. - Eu o respondi
Acabamos por voltar a praça onde estávamos antes, sentamos em um banco e eu abri a garrafa.
- Vai beber quente? - Perguntou Leo
- O efeito vai ser o mesmo. - Respondi
Dei uma golada e senti o gosto de álcool e corante vermelho na minha boca. Terminado isso entreguei a garrafa para Leo.
- Isso vai me deixar bêbado? - Perguntou ele
- É uma vodka de sabor, isso não deixa nem o cheiro de álcool em você.
Ele então aproximou o bico da garrafa na sua boca e bebeu, e depois afastou com uma careta engraçada.
- Isso é muito...
- Não diga que é ruim, diz que é diferente.
- Mas quando algo é ruim nós precisamos dizer.
- Você achou ruim ou só não atingiu suas expectativas?
- Ainda estamos falando da bebida?
- Mas é claro que sim... Porque?
- Nada... Tem razão, não é ruim, eu só preciso me acostumar. - Respondeu ele bebendo mais uma vez
Dessa vez a careta era menos pior, ele me passou a garrafa e eu bebi um gole. Eu sorri pra ele mesmo não entendendo o que ele quis dizer. O celular dele tocou e ele atendeu, falou brevemente e desligou.
- Olivia ta vindo pra cá. - Falou
- Poxa, vai estragar nosso encontro. - Respondi
- Olha se você considera isso um encontro eu não quero nem ver quando fizermos um ano de namoro. - Ele comentou
- Vamos chegar até lá? - Perguntei com medo da resposta
- Quem sabe? - Respondeu ele dando mais um gole na garrafa
Ele fez uma careta, eu ri disso e me segurei para não beijá-lo bem ali, tinha muitas pessoas passando, mas a vontade foi muito grande. Alguns minutos depois Olivia chegou.
- E ai? - Perguntei
Ela respirou fundo, sentou no meio de nós, roubou a garrafa da minha mão e deu um gole.
- Acho que você não deveria fazer isso... - Comentou Leo
Ela continuava bebendo como se fosse água engarrafada.
- Tá bom... - Falei tirando a garrafa de sua boca - Pode deixar um pouco pra nós.
- Desculpa. - Falou ela limpando a boca - Eu acho que tava precisando.
- Você tem uma sede que, meu Deus... - Comentei
- Onde aprendeu a beber álcool assim? - Perguntou Leo
- Isso nem tem álcool direito, é vodka de sabor. - Respondeu ela
- Eu falei. - Comentei
- Eu e Luana saímos muito pra beber no começo de tudo. - Continuou ela
- E o que aconteceu pra você tá bebendo assim? - Perguntei dando mais uma golada antes dela roubar a garrafa de novo e acabar com tudo.
- Bom, basicamente minha mãe expulsou aquele nojento de casa, está sozinha e precisando de muita ajuda. Ela quer que eu volte a morar com ela e que crie minha filha perto dela, ela disse que vai me ajudar com tudo e implorou para não deixá-la sozinha.
- Uau. - Comentei depois de alguns minutos de silêncio constrangedor
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Do Meu ao Seu Interior
RomanceLeo e Nick são dois jovens cursando o último ano do ensino médio em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Leo mora na parte mais abastada do município, numa fazenda acessível apenas pela longa estrada de terra que delimita os limites da cidade...