Sofia
Sempre me prendeu o olhar, aquela tatuagem nos dedos do meu tio. "Hold Fast". Cada letra em casa dedo e o símbolo de copas e paus em cada polegar. Em particular, esta tatuagem (de imensas que ele possui), diz muito sobre ele. As copas e os paus remetem para o "vício" do jogo do meu tio. Adora jogar tudo o que tenha cartas. Inclusivamente, ganha a vida a jogar Poker. De smoking, laçarote e chapéu viaja por países e países apenas com o cartão de crédito na carteira e um baralho de cartas no bolso.
A minha tia Manuela é professora de karaté. A minha família, como podem ver, está ligadíssima ao desporto. O único que não faz nada é o Marco. Percorre quilómetros sem fim com o rabo sentado no sofá a jogar Need for speed (não o julgo, pois também adoro jogar). Temos de falar inglês com ele porque nasceu na América, venera a América e apenas fala americano.
Ao final da tarde, regressamos a casa. O ambiente estava horrível entre mim e a Victória e era impossível insistir com ela. Estivemos duas horas caladas a ver televisão. A Rita tentava fazer conversa. Comentava o conteúdo da TV, mas era perda de tempo. A certa altura, não aguentei mais e fui para a varanda. No mesmo instante e inesperadamente...
Vicky: O teu primo foi um daqueles que me deu porrada. -Direcionei rapidamente o olhar para ela.
Sofia: O meu primo?!
Vicky: Sim.
Sofia: Dizes-me isso agora, Victória?! -Perguntei-lhe, incrédula.
Vicky: Sofia, eu entrei em tua casa e vi aquela cara, fiquei tensa o resto do dia sem saber para que lado me virar. Eu não podia, pura e simplesmente, dizer-te isto naquele lugar! Tu já não te dás bem com ele, se eu te dissesse naquele momento tu perdias a cabeça!
Sofia: Victória mesmo assim, podíamos ter ido embora!
Vicky: Oh, por favor, Sofia. Não ia fazer isso.
Sofia: Estás me a querer dizer que o Marco é da máfia?!
Vicky: Não.
Sofia: Mas, então..
Vicky: Não foi a Máfia, Sofia. -Interrompeu-me.
Sofia: Então quem foi? -Perguntei, irritada.
Vicky: Não tenho a certeza.
Sofia: Desculpa. Eu não devia falar assim contigo, tu não tens culpa nenhuma do que se está a passar.
Vicky: Está tudo bem.
Sofia: Tu sabes como eu sou, enervo-me, digo a primeira coisa que me passa pela cabeça e estrago sempre tudo. -Colocou-me as mãos no queixo e deu-me um beijo rápido.
Vicky:Está tudo bem, pequena.
Sofia: Tu consegues sempre ter mais calma do que eu e quem tem os problemas és tu! Eu só te atrapalho...
Vicky: Eu preciso de ti. -Agarrou a minha mão. -Eu gosto de ti. -Sussurrou, com as lágrimas a caírem pela sua face.
Sofia: Eu também gosto de ti. E tens de mim todo o apoio do mundo. -Abracei-a, com o coração e as emoções a mil. Não acreditava no que tinha acabado de ouvir.
Vicky: Se soubesses as vezes que já pensei em desistir...
Sofia: Não penses nisso agora...
Vicky: Se eu não pensar agora, quando penso, então? -Começou a chorar.
Sofia: Não vais desistir. Eu não deixo e sei que tu não vais. -Encostei a testa à dela. -És forte e um dia vais poder sorrir ao pensar que ultrapassaste o impossível! Eu vou estar contigo nessa altura... dar-te apoio e tudo o que precisares. Os teus pais vão conseguir e não tarda estão aqui junto de ti...
Vicky: Sofia?
Sofia: Sim?
Vicky: Eu só não vou mesmo embora porque não te quero deixar.
Sofia: Oh meu amor. Mesmo que fosses eu ia estar sempre contigo.
Vicky: Não te queria por no meio dos meus problemas.
Sofia: Nós partilhamos tudo! Também estou aqui para te ajudar... não estou aqui só para o bem!
Vicky: Por um lado fico zangada com os meus pais porque me deixaram aqui sem dar explicações nenhumas a ninguém. Tu e a Rita deviam saber. E os teus pais e os da Rita, óbvio.
Sofia: Por falar nisso, eu acho que lhes devias contar o que aconteceu, Vicky.
Vicky: Não quero, Sofia.
Sofia: Porquê?
Vicky: Só vai atrapalhar.
Sofia: Não lhes escondas as coisas, Victória. Assim é pior e estás sujeita a que te aconteça algo igual ou pior...
Vicky: Não sei...
Sofia: E já que não foi a Máfia, podíamos ir à polícia.
Vicky: Hey, calma. Tem calma.
Sofia: Pensa também em mim e na Rita. Como disseste, estamos envolvidas em tudo o que te acontece. Ir à polícia é protegeres-te a ti e a nós... e apanhar um dos culpados é mais fácil, já que é meu primo. -Olhou para mim.
De um momento para o outro, saiu da varanda e dirigiu-se à porta de casa.
Sofia: Que se passa?
Vicky: Tens razão. Eu vou à polícia.
Sofia: Espera! Eu vou contigo!
Rita: Vais à polícia?! Mas tu não disseste que...
Sofia: Depois explicamos, Rita!
Rita: Não! Não vão a lado nenhum sem me explicarem o que se passa! Eu nunca sei de nada, vocês tentam sempre esconder tudo!
Corri para o sofá e expliquei.
Sofia: Esta tarde, a Vicky reconheceu a cara do meu primo. Há 5 minutos atrás disse-me que foi um dos que estiveram envolvidos com o "rapto". Precisamos de ti para irmos à polícia. Tens 18 anos e precisamos de alguém maior.
Rita: Espera lá, calma. Vicky, tu queres mesmo ir à polícia? E a Máfia?
Vicky: Vocês não podem estar em perigo.
Rita: Mas tu sabes quem armou aquilo?
Vicky: Desconfio de uma pessoa.
Rita: Tens provas?
Vicky: Não, mas... pelo menos sabemos que o Marco está envolvido.
Rita: Eu não acredito no que se está aqui a passar. Como assim foi o primo da Sofia?
Sofia: Nem sei o que te dizer, Rita.
Vicky: Rita, vens connosco ou não?
Rita: Claro que vou.
Saímos de casa com toda a velocidade e entramos no Opel Corsa da Rita. O ambiente estava pesado e todas nós estávamos inseguras e assustadas. Curiosamente, cruzamo-nos com os meus pais a caminho da polícia. Perguntei-lhes a que horas os meus tios iam embora amanhã e, ironicamente, ficamos a saber que já estavam dentro do avião, rumo a Miami.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...