Vicky
Apressadíssima, alisou os lençóis da cama e empurrou-me para dentro da casa de banho. Pude ouvir a Rita a abrir a porta. Por segundos não eramos apanhadas! Num instante, vesti a roupa e saí. Fui para a sala, onde elas estavam as duas e fingi que nada se tinha passado. Dirigi-me à cozinha para ver o que havia para lanchar. Quando abri uma porta do armário da dispensa... CERELAC! Preparei uma tigela de cerelac e devorei-a sem piedade. Fazíam já oito horas e meia e, inteligente como sou, esqueci-me que não era hora de lanchar. Que se dane. Uma vez não são vezes.
A Sofia veio para a cozinha para fazer o jantar. Disse que ia fazer bifes com batatas fritas (clássico), arroz e salada de alface.
Sofia: Vicky, a Rita está na sala... -Sussurrou, vendo-me aproximar com segundas intenções.
Vicky: E então? Eu não vou fazer nada... -Beijei os seus lábios enquanto lhe passava as mãos pelo avental.-Nada que ela veja...
Sofia
Sofia: Temos de ter cuidado, Victória... -Tentei fazer-me de forte.
Vicky: "Victória"... Que fria... -Beijou-me o pescoço.
Sofia: Assim não consigo... -Puxei o queixo dela para cima e beijei-a durante algum tempo. -Mas agora, chega. Tenho que fazer o jantar e a Rita está na sala, Vicky!
Ai, Vicky, Vicky... Deixas-me louca.
O jantar foi feito e servido. No fim, sentei-me no sofá a ver televisão enquanto as duas lavavam a louça. Não me podia encostar porque me doiam as costas de tanto estarem arranhadas.
Será que está tudo bem com os pais da Vicky? Ontem ela tentou ligar-lhes mas ninguém atendeu. Não queria estar na pele dela, deve ser horrível. Mas, por outro lado, que tipo de pais larga a filha num país, sozinha, e parte para a Rússia?
Vicky: Vou ao Multibanco. Venho já.
Rita: Queres que alguém vá contigo?
Vicky: Não, Ritinha, obrigada. Vou rápido e volto rápido.
Estava tudo calmo e sossegado nos primeiros 10 minutos. O Multibanco era a 5 minutos de casa e era normal haver fila, por isso, pensamos que a Vicky estivesse à espera da sua vez. Passaram-se 20 minutos e nada. Aos 30, já estavamos inquietas, preocupadas e fartas de lhe ligar, mas depois percebemos que não tinha levado o telemóvel. Decidimos sair à rua e ir procura-la. Chegamos ao Multibanco e nada de Victória. A rua estava à pinha e era impossível encontrar a Vicky no meio de tanta gente. Desatei a perguntar a toda a gente que me dava um minuto de atenção, se tinham visto uma rapariga loira de olhos verdes, com uma sweat branca. "Não, não". "Menina, há tantas loiras de olhos verdes na Baixa". "Não vi ninguém". "É impossível, com tanta gente que aqui está".
x: Sim, penso que vi uma rapariga assim ali na fila do Multibanco. Reparei que foi embora com três homens.
Rita: Com três homens? Como assim com três homens?
Sofia: Como eram os homens? Para onde foram?
x: Eram três homens um pouco mais altos do que a menina. Estavam vestidos de fato. Agora, para onde foram, eu não sei.
Sofia: Não reparou para onde eles foram?!
Rita: Para a esquerda, para a direita?
x: Não meninas, lamento.
Rita: Vamos à polícia!
Sofia: Calma. Vamos buscar o carro a casa e dar umas voltas para ver se vemos algo suspeito! -Pedi-lhe, lembrando-me da Vicky me ter dito das ameaças da Máfia em relação à polícia.
Rita: Mas Sofia, três homens levaram-na!
Sofia: Acredita no que eu te digo, a polícia aqui no meio pode acabar com tudo!
Rita: Como assim pode acabar com tudo?!
Sofia: Rita, um dia a Victória fala contigo!
Rita: MAS O QUE É QUE SE PASSA?!
Sofia: UM DIA A VICTÓRIA FALA CONTIGO!
Rita: OH SOFIA, CONTA-ME O QUE SE PASSA OU EU LIGO À POLÍCIA! -Fiquei a olhar para ela, derrotada.
Sofia: Os país da Vicky não foram para a Rússia por causa de negócios. Tiveram que fugir porque a Máfia Italiana quer mata-los a todos e se formos à polícia a Victória morre de vez, percebeste?
Rita: A MÁFIA?
Sofia: SIM, A MÁFIA. POR ISSO, POR FAVOR, VAMOS BUSCAR O CARRO, LEVAR FACAS, LEVAR TUDO O QUE POSSA SERVIR DE ARMA, PORQUE SE ALGUÉM LHE TOCAR VAI FICAR SEM DEDOS E EU NÃO VOLTO PARA CASA ENQUANTO A VICTÓRIA NÃO ESTIVER COMIGO!
Percebido isto, fomos buscar o carro e percorrer as ruas da cidade incansavelmente. Eu estava a desesperar, não a víamos em lado nenhum e a Rita não se calava com a polícia. Estava sempre a dizer que não podíamos fazer isto sozinhas, que precisavamos de ajuda e que tudo se resolveria mais facilmente. Com todo o stress e pressa, quase tivemos um acidente. A Rita estava muito nervosa e carregava no acelarador a fundo. Demos voltas e voltas durante horas e nada. Decidimos voltar a casa no caso de a Victória ter conseguido voltar mas, previsivelmente, não estava lá ninguém. Peguei no telemóvel da Victória e liguei aos pais dela. Como era de esperar, não atenderam. Voltamos a sair de casa para ver dela. Chegamos ao Bairro alto e, numa esquina, vimos alguém deitado no chão. Era ela! Estava cheia de dores, a tossir intensamente e sem forças para se levantar. Ajudamo-la a por-se pé e perguntamos o que se tinha passado. Ela não falava. Olhava para o chão e observava as suas lágrimas caírem na calçada de calcário. Ela estava pálida. A camisola, antes branca, estava cheia de sangue. Tinha feridas nos lábios e um corte no queixo. Pusemo-la no carro e fomos de volta para casa. Ela insistia que não podia ir ao hospital. Dizia que eles a observavam e que sabiam se ela contasse algo a alguém, para além de ter que explicar tudo aos médicos e, mais tarde, à polícia.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...