27. Louças Partidas

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Sofia

Não sei o que me deu naquele momento. Senti que estava na hora de finalmente admitir. Apesar de saber que sou correspondida por inteiro ou por metade, sinto-me insegura, até porque ela ficou a olhar para mim como se eu tivesse acabado de dizer um disparate.
A cara séria e pálida outrora feita, desabrochava agora num sorriso doce e aberto. Toda a sua cara sorria e o seu corpo sorria juntamente. Uma sensação de tranquilidade, esperança e alegria apoderou-se de mim e fez-me sorrir também, com um sorriso e um riso infinito e imortal.
Depois de semanas e semanas com este sentimento preso aqui dentro, soltei-o. Deixei-me levar como as folhas são levadas pelo o vento e fui parar a um sítio melhor.
Naquele momento-mais um desses sem fim-reparei em como ela é linda. É algo inexplicável e só consigo vê-la e senti-la. Como é possível, depois de mais ninguém ter conseguido, fazer-me petrificar ao olhar tamanha beleza num só par de olhos verdes? A pele dela é canela e os lábios algodão doce e, como já disse antes, estou prestes a tornar-me diabética!
Ao fim de miseros segundos sem fim, beijou a minha testa. Da minha testa, desceu e beijou o meu nariz, e do meu nariz, passou para os meus lábios.
A noite estava igual àquela em que estivemos aqui deitadas neste sofá, a tentadores centímetros de distância, quando a Rita chegou.

Vicky: Repete. -Acariciou o meu queixo.

Sofia: Eu amo-te... -Disse-lhe ao ouvido. Senti o seu corpo estremecer.

Vicky: Eu nem acredito que estou a ouvir isto!

Sofia: Eu sei que foi difícil esperar que eu dissesse...

Vicky: Mas disseste...

Sofia: Desculpa se..

Vicky: E eu a ti. -Interrompeu-me. -Eu também te amo. Muito... -Abraçou-me. -Já desde ontem, anteontem, antes de anteontem, antes de antes de anteontem!

Sofia: Isto não é real. -Levantei-me.

Vicky: Porque dizes isso?

Sofia: Porque ainda "ontem" soube que existias, porque ainda "ontem" foste atropelada pela minha mãe, porque ainda "ontem" falei contigo pela primeira vez e reparei que tens um rabo mesmo jeitoso. -Ri.

Vicky: Estúpida! -Mandou a palma da mão ao meu ombro levemente.

Sofia: Não quis ir depressa demais connosco... Mas pelos vistos estávamos a ir a uma velocidade normal. Cada dia que passou fez-me ter a certeza de que o que sinto é cada vez maior!

Vicky: Eu via tudo isso nos teus olhinhos lindos...

Sofia: Os teus são mais bonitos. -Agarrei-a pela cintura. -E os teus lábios, e o teu sorriso. -Beijei-a. Não parei.
Tanto não parei que a coisa foi começando a evoluir. Os beijos na boca passaram a beijos no pescoço e no peito e a minha camisola branca de alças passou a estar no chão.
Quando dei conta, estava por baixo dela deitada em cima da mesa de madeira da sala e as coisas antes em cima dela tinham caído ao chão.

Vicky

Quando reparei, estava por cima dela em cima da mesa que estava à nossa frente. As louças estavam no chão, partidas, e os livros à toa. Os cabelos negros e compridos dela estavam entre os meus dedos e a sua cintura estava entre as minhas pernas.
Num movimento mais brusco, senti uma dor horrível; parei. Era a cicatriz. Ainda não estava totalmente cicatrizada e doia-me a cada movimento. Não liguei. Tentei ter mais cuidado e continuei o que estava a fazer. Desapertei, então, o botão das minhas calças. Ela pareceu adivinhar, porque no mesmo instante, despertou o fecho das mesmas. Tirou-as lentamente, passando as mãos pelas minhas nádegas e, finalmente, atirou-as ao chão.
Estava a ficar demasiado calor. Ficamos minutos e minutos até que cada toque nosso provocava faísca. Pareciam movimentos ensaiados. E, num desses ensaios, despi a camisola. Desci-lhe uma alça do soutien e beijei o seu ombro e o seu braço.
Sem demoras, puxei-a pela mão para que se levantasse.
O corpo dela é doce veneno que me cura de qualquer doença! Pele branca e macia e olhos semisserrados a devorarem-me no escuro. Intenso. E a voz dela? Rouca, como sempre. Pausada, sensual, cativante... De outro mundo!
Não havia sido dita nenhuma palavra. Não eram precisas.
Peguei nela pelas pernas e encostei-a à parede.
Os nossos lábios não se separavam. Os nossos corpos fundiam-se um no outro como aço aquecido e tornavam-se num único e singular.

Sofia: As calças...

As calças era a única coisa que faltava. Pu-la no chão e baixei-as.
Ela agarrou-me e deitou-me no sofá, onde ficamos um tempo interminável. As almofadas estavam todas no chão. Tudo estava no chão, tudo estava um caos. Ainda bem que estávamos sozinhas em casa.
Estava a ser uma boa passagem para o aniversário dela. Ela estava prestes a tornar-se da minha idade e eu ia passar esse dia com ela. O primeiro de muitos. O primeiro com a mulher que eu amo!

Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora