13. Fabiana

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Vicky

O constragimento da dúvida do momento era tal que ficamos uma eternidade caladas depois daqueles beijos. Era como se escutassemos o silêncio com atenção, com medo de perder uma palavra do que não estava a ser dito.

O corpo dela era robusto. Fofo como algodão mas rijo como um tronco de uma árvore. Num momento de "quebrar o gelo", passei lentamente a palma da minha mão pela sua barriga. Pude sentir ligeiramente a forma dos seus abdominais, como se fossem quadradinhos de uma tablete de chocolate. Ela estremeceu, olhou para a minha mão, e estranhou. Observando-a, contornei os seus quadradinhos de chocolate com o dedo anelar, um por um, como se estivesse a tentar encontrar a saída de um labirinto. Os seus olhos, cor de céu e de mar, fecharam-se numa tentativa de saborear os meus passos naquele labirinto.

Sofia: Os teus pais ligaram.

Ao ouvir isso, levantei-me com uma rapidez de fazer inveja ao Flash e agarrei no telemóvel. Quatro chamadas não atendidas: duas do meu pai e duas da minha mãe. Numa fração de segundos, liguei-lhes e aguardei até que atendessem. Dez, vinte, trinta segundos do estremamente irritante "tuuut", "tuuut"e nada. Liguei de novo. Dez, vinte, trinta segundos e nada. Liguei mais uma vez, e nada de novo. Desliguei a chamada e mandei o telemóvel em direção à cama, que acabou por cair do chão. Comecei a stressar, a pensar no que poderia ter acontecido, se eles estavam bem, se não estavam. A minha cabeça estava a explodir, o meu coração batia a mil e os nervos tomaram conta de mim.

Sofia

Ela encostou a testa à parede, a roer as unhas e as peles dos dedos, desesperadamente. Hesitando, levantei-me silenciosamente da cama e fui em direção a ela. Toquei-lhe no ombro e chamei-a: Nada. Eu sei o que as pessoas precisam quando estão desta maneira, por isso abracei-a como se estivesse a proteger uma criancinha perdida da mãe no meio do supermercado. As mãos desta criança agarravam as minhas e o seu corpo deixava-se consumir pelo meu. Era como se o corpo dela se estivesse a desfazer. Agarrei em dois dedos e coloquei-os no seu pescoço, para sentir a sua pulsação. O seu pobre coraçãzinho parecia correr uma maratona, não parava, não descansava nem relaxava. Ao contrário de um corredor, ele não conseguia parar. Ela não conseguia fazer com que ele parasse, então resolvi faze-lo eu. Virei-a para mim e encostei-a à parede, direcionando o meu olhar para o seu e falei. Falei muito, acalmei-a. Contei-lhes "histórias de embalar", para a sossegar.

O seu coração estava, agora, normal, relaxado, descontraido. Mas o meu não. O meu queria sair do meu corpo e entrar no dela, para se juntar ao seu coração, formando um maior e mais forte.

Duas horas mais tarde, e depois de tanta conversa, o telemóvel dela tocou. Eram, finalmente, os "fugidos" pais.

No final da chamada, encarou-me com um sorriso.

Vicky: Está tudo bem. Eles chegaram bem da viagem. Estavam a arrumar as coisas e a conhecer a cidade, por isso não me atenderam.

No momento em que lhe ia responder, a Rita bateu à porta e entrou.

Rita: Sofia, está uma moça ali fora a dizer que quer falar contigo urgentemente. Parece importante.

Sofia: Quem é? Disse-te como se chamava?

Rita: Disse que se chamava Fabiana e que é lá da escola.

O meu mundo desabou: a Fabiana é a minha ex-namorada e o seu nome é sinónimo de problemas. Encendeia tudo por onde passa e destroi tudo o que se põe à sua frente. Senti um suor frio no meu corpo, e pedi à Rita para dizer que eu estava a dormir, ou outra desculpa qualquer. A Rita tentou, mas a Fabiana insistiu. Insistiu tanto que prometeu ficar lá fora à espera que eu "acordasse" ou pudesse falar.

Num ápice, a Victória saiu do quarto e dirigiu-se à porta de entrada. Eu não ouvia nada, apenas temia o que vinha aí e tentava perceber se ela tinha ido falar com a Fabiana. Como eu disse, ela "destroi tudo o que se põe à sua frente"...

Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora