Sofia
O meu pai tem 40 anos. Toda a gente diz que é muito novo quando digo que tenho 16. É um homem alto, de olhos azuis e cabelo negro, tal e qual como eu. Honestamente, admito que sou a sua fotocópia em quase tudo. Adora tudo o que esteja relacionado com desporto (a começar pela sua profissão, Personal Trainer) e com culinária.
Ganhei o gosto do desporto com ele. Desde muito nova que me levava para o ginásio e fazia flexões comigo deitada nas suas costas. Para além de Personal Trainer, o meu pai também é arquiteto e adora desenhar. As paredes de casa estão cobertas de quadros com casas desenhadas com o máximo rigor possível e imaginário. Ele não precisa de réguas. Ele é a "Régua". Todos lhe chamam assim -"Régua"- devido ao seu rigor e quase perfeição, quer no trabalho, quer no ginásio.
Sofia: Vicky? -Chamei-a, quando parecia não me ouvir. -Victória!
Vicky: Sim?
Sofia: Que se passa?
Vicky: Nada!- Respondeu. -Prazer em conhece-lo, Fernando.
Pai: Igualmente, Vic. Preciso da vossa ajuda. Gostas de cozinhar?
Vicky: Gosto, sim. Ajudo no que for preciso.
Pai: Ótimo! Preciso que alguém faça uma salada. Sofia, põe a mesa e depois ajuda a tua 'miguinha.
Sofia: Nhé, sou sempre eu a por a mesa.
x: Mana!
Sofia: Francisca! -Saltou para os meus braços.
A Francisca é minha irmã. Tem 6 anos e, para que nem tudo seja igual ao meu pai, é a réplica mais nova da minha mãe. É a minha alegria e corre para tudo o que é lados. Tem um feitio duro de roer e resposta para tudo. Faz cara feia quando come sopa e só a come quando sou eu a dar-lha.
Mana: Tive saudades tuas! -Disse, sorrindo e escondendo a cara no meu ombro.
Sofia: Tiveste? Mais logo vais querer que a mana vá embora porque hoje há uma menina que vai comer sopa. -Fiz-lhe cócegas. -Onde está o tio Migas? -Apontou para o piso de cima.
Mana: O tio estava-me a ensinar a tocar piano.
Sofia: Então vai para lá ter com ele que a mana já vai. -Saltou do meu colo. -Francisca, já deste um beijinho à Victória?
Mana: Não... -Disse, envergonhada, com a mão na boca.
Vicky: Olá! -Ajoelhou-se.
A minha irmã, sem lhe responder, deu-lhe um beijo e desatou a fugir para o piso de cima.
Sem mais demoras, pus a mesa a correr e regressei à cozinha para ajudar o meu pai e a minha princesa (O amor está-me a deixar demasiado melosa. Estou perto de ganhar diabetes).
Vicky: Tu contaste aos teus pais? -Sussurrou, enquanto separava as folhas de alface.
Sofia: Contei o que?
Vicky: De nós.
Sofia: Não... Não contei. Prefiro esperar algum tempo. Querias que contasse?
Vicky: Não, não é isso. É que queria saber se eles sabiam ou não.
Sofia: Não sabem de nada, olham-te inocentemente, acredita. -Pisquei o olho.
Vicky: Inocentemente? Então quando souberem que eu ando com a filha deles vão me olhar como?
Sofia: Não sei. Esquece isso...
Vicky: Quem era aquele homem que estava na sala?
Sofia: Que homem?
Vicky: Aquele homem. Estava lá um homem. -Olhei para trás. -Ah, aquele. É o Marco. É meu primo.
Ela parecia desconfortável e escondia-me algo. Tentei que me dissesse, mas a única resposta que recebia era a de que estava tudo bem e que estava só cansada.
Quando acabamos de fazer a salada, fomos lá a cima para cumprimentar o meu tio. Novamente, achei a Victória demasiado tensa. Estava fixada na cara do meu tio e só respondia quando a chamava à atenção. Ao saírmos do quarto, entramos na casa de banho, onde nos fechei à chave.
Vicky: Então?
Sofia: O que tens, Vicky?
Vicky: Nada.
Sofia: Victória, não estás bem, não costumas estar assim..
Vicky: Já te disse que não tenho nada! -Exclamou, fria, com as mãos na cabeça.
Fiquei a olhar para ela, surpreendida com o seu tom de voz.
Vicky: Desculpa.
Sofia: O que é que há de errado contigo?
Vicky: Desculpa. -Abraçou-me. Não correspondi.
Sofia: Não te estou a conhecer.
Vicky: Sou eu, Sofia!
Sofia: Hum.
Vicky: Eu só preciso de apanhar um bocado de ar. Estou um bocado tonta, é só isso... Um bocado enjoada.
Sofia: Força. -Abri a porta para ela sair.
Fechou-a.
Vicky: Desculpa! Não te falei daquela maneira por querer. -Colocou as mãos no meu rosto. -Amor...
"Amor"?
Sofia: Sim.
Vicky: Está tudo bem. -Beijou-me, demoradamente. -Está tudo normal, sim?
Sofia: Está mesmo?
Vicky: Está mesmo... Vais-me abraçar ou não?
Olhei para ela com um olhar de rendição, e tomei-a nos braços. Em seguida, saímos da casa de banho e fomos para o jardim, onde estava a minha mãe com a minha tia Manuela e com a Rita.
Os meus tios vieram da América e estão cá a passar férias durante uma semana. Amanhã já partem. Apesar de não termos muita ligação, fico triste. É sempre bom ter a família por perto.
O meu tio esteve preso 10 anos. É algo de que não me orgulho mas não o escondo.
Estou preocupada com a Victória. Apesar de dizer que não, sei que está a esconder algo. Já a conheço e sei que guarda a maior parte das coisas para ela. Estou aqui para a ajudar e estou farta de lhe dizer que pode contar comigo.
Vicky
Não aguento mais estar aqui. É ele. Não acredito que é ele. Logo aqui? Como é possível? O mundo é pequeno. O que faço agora?
Sofia
Mãe: Pessoal, vamos para a mesa. Hoje o almoço para as meninas é à escolha. Há salada, picanha, pizza e bacalhau.
Sofia: O que queres comer?
Vicky: O que tu comeres eu como.
Sentamo-nos à mesa e comemos, basicamente, tudo. Para sobremesa havia pudim, bolo de bolacha, bolo de chocolate, suspiros, baba de camelo, mousse de chocolate e fruta. Só o meu tio comeu fruta. Cortou e tirou a casca à tradicional maçã verde que costuma comer como sobremesa e acabou, bebendo um copo de água ardente e fumando um cigarro. Ele é muito calado e parece que devora as pessoas com o olhar. Já do filho, não se pode dizer o mesmo. Fala demasiado e só diz merda. Odeio-o.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...