24. É ele

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Sofia

O meu pai tem 40 anos. Toda a gente diz que é muito novo quando digo que tenho 16. É um homem alto, de olhos azuis e cabelo negro, tal e qual como eu. Honestamente, admito que sou a sua fotocópia em quase tudo. Adora tudo o que esteja relacionado com desporto (a começar pela sua profissão, Personal Trainer) e com culinária.

Ganhei o gosto do desporto com ele. Desde muito nova que me levava para o ginásio e fazia flexões comigo deitada nas suas costas. Para além de Personal Trainer, o meu pai também é arquiteto e adora desenhar. As paredes de casa estão cobertas de quadros com casas desenhadas com o máximo rigor possível e imaginário. Ele não precisa de réguas. Ele é a "Régua". Todos lhe chamam assim -"Régua"- devido ao seu rigor e quase perfeição, quer no trabalho, quer no ginásio.

Sofia: Vicky? -Chamei-a, quando parecia não me ouvir. -Victória!

Vicky: Sim?

Sofia: Que se passa?

Vicky: Nada!- Respondeu. -Prazer em conhece-lo, Fernando.

Pai: Igualmente, Vic. Preciso da vossa ajuda. Gostas de cozinhar?

Vicky: Gosto, sim. Ajudo no que for preciso.

Pai: Ótimo! Preciso que alguém faça uma salada. Sofia, põe a mesa e depois ajuda a tua 'miguinha.

Sofia: Nhé, sou sempre eu a por a mesa.

x: Mana!

Sofia: Francisca! -Saltou para os meus braços.

A Francisca é minha irmã. Tem 6 anos e, para que nem tudo seja igual ao meu pai, é a réplica mais nova da minha mãe. É a minha alegria e corre para tudo o que é lados. Tem um feitio duro de roer e resposta para tudo. Faz cara feia quando come sopa e só a come quando sou eu a dar-lha.

Mana: Tive saudades tuas! -Disse, sorrindo e escondendo a cara no meu ombro.

Sofia: Tiveste? Mais logo vais querer que a mana vá embora porque hoje há uma menina que vai comer sopa. -Fiz-lhe cócegas. -Onde está o tio Migas? -Apontou para o piso de cima.

Mana: O tio estava-me a ensinar a tocar piano.

Sofia: Então vai para lá ter com ele que a mana já vai. -Saltou do meu colo. -Francisca, já deste um beijinho à Victória?

Mana: Não... -Disse, envergonhada, com a mão na boca.

Vicky: Olá! -Ajoelhou-se.

A minha irmã, sem lhe responder, deu-lhe um beijo e desatou a fugir para o piso de cima.

Sem mais demoras, pus a mesa a correr e regressei à cozinha para ajudar o meu pai e a minha princesa (O amor está-me a deixar demasiado melosa. Estou perto de ganhar diabetes).

Vicky: Tu contaste aos teus pais? -Sussurrou, enquanto separava as folhas de alface.

Sofia: Contei o que?

Vicky: De nós.

Sofia: Não... Não contei. Prefiro esperar algum tempo. Querias que contasse?

Vicky: Não, não é isso. É que queria saber se eles sabiam ou não.

Sofia: Não sabem de nada, olham-te inocentemente, acredita. -Pisquei o olho.

Vicky: Inocentemente? Então quando souberem que eu ando com a filha deles vão me olhar como?

Sofia: Não sei. Esquece isso...

Vicky: Quem era aquele homem que estava na sala?

Sofia: Que homem?

Vicky: Aquele homem. Estava lá um homem. -Olhei para trás. -Ah, aquele. É o Marco. É meu primo.

Ela parecia desconfortável e escondia-me algo. Tentei que me dissesse, mas a única resposta que recebia era a de que estava tudo bem e que estava só cansada.

Quando acabamos de fazer a salada, fomos lá a cima para cumprimentar o meu tio. Novamente, achei a Victória demasiado tensa. Estava fixada na cara do meu tio e só respondia quando a chamava à atenção. Ao saírmos do quarto, entramos na casa de banho, onde nos fechei à chave.

Vicky: Então?

Sofia: O que tens, Vicky?

Vicky: Nada.

Sofia: Victória, não estás bem, não costumas estar assim..

Vicky: Já te disse que não tenho nada! -Exclamou, fria, com as mãos na cabeça.

Fiquei a olhar para ela, surpreendida com o seu tom de voz.

Vicky: Desculpa.

Sofia: O que é que há de errado contigo?

Vicky: Desculpa. -Abraçou-me. Não correspondi.

Sofia: Não te estou a conhecer.

Vicky: Sou eu, Sofia!

Sofia: Hum.

Vicky: Eu só preciso de apanhar um bocado de ar. Estou um bocado tonta, é só isso... Um bocado enjoada.

Sofia: Força. -Abri a porta para ela sair.

Fechou-a.

Vicky: Desculpa! Não te falei daquela maneira por querer. -Colocou as mãos no meu rosto. -Amor...

"Amor"?

Sofia: Sim.

Vicky: Está tudo bem. -Beijou-me, demoradamente. -Está tudo normal, sim?

Sofia: Está mesmo?

Vicky: Está mesmo... Vais-me abraçar ou não?

Olhei para ela com um olhar de rendição, e tomei-a nos braços. Em seguida, saímos da casa de banho e fomos para o jardim, onde estava a minha mãe com a minha tia Manuela e com a Rita.

Os meus tios vieram da América e estão cá a passar férias durante uma semana. Amanhã já partem. Apesar de não termos muita ligação, fico triste. É sempre bom ter a família por perto.

O meu tio esteve preso 10 anos. É algo de que não me orgulho mas não o escondo.

Estou preocupada com a Victória. Apesar de dizer que não, sei que está a esconder algo. Já a conheço e sei que guarda a maior parte das coisas para ela. Estou aqui para a ajudar e estou farta de lhe dizer que pode contar comigo.

Vicky

Não aguento mais estar aqui. É ele. Não acredito que é ele. Logo aqui? Como é possível? O mundo é pequeno. O que faço agora?

Sofia

Mãe: Pessoal, vamos para a mesa. Hoje o almoço para as meninas é à escolha. Há salada, picanha, pizza e bacalhau.

Sofia: O que queres comer?

Vicky: O que tu comeres eu como.

Sentamo-nos à mesa e comemos, basicamente, tudo. Para sobremesa havia pudim, bolo de bolacha, bolo de chocolate, suspiros, baba de camelo, mousse de chocolate e fruta. Só o meu tio comeu fruta. Cortou e tirou a casca à tradicional maçã verde que costuma comer como sobremesa e acabou, bebendo um copo de água ardente e fumando um cigarro. Ele é muito calado e parece que devora as pessoas com o olhar. Já do filho, não se pode dizer o mesmo. Fala demasiado e só diz merda. Odeio-o.

Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora