Sofia
Okay, um embrulho enorme. O que será? É maior que eu!
Filipe: Esta prenda vai ser a coisa mais nostálgica que vais receber em toda a tua vida! -Olhou-me, com a maior alegria nos olhos. -Primeiro de tudo, quero que saibas que saibas que és uma parte de mim. O que está dentro do embrulho é uma parte de nós.
Sofia: Não acredito! É o que eu estou a pensar?!
Deu-me o embrulho enorme e moldável para as mãos. Abri-o devagar, com medo e ansiedade.
Sofia: Não acredito! Encontraste-o! Como é possível??
Tratava-se de um urso de peluche enorme com mais de 9 anos que eu tinha oferecido ao Filipe no seu sétimo aniversário. Julgava-mo-lo desaparecido até há 6 anos atrás, talvez porque o pai dele não gostasse da nossa amizade e tivesse deitado o urso fora.
Filipe: Encontrei-o em casa do meu irmão... O Ricardo levou-o para sua casa quando mudamos de cidade. Encontrou-o na nossa casa antiga abandonado e trouxe-o. Agradece-lhe! -Disse, apertado pelo meu abraço. -Ofereceste-mo no meu sétimo aniversário, agora ofereço-to eu no teu décimo sétimo! Parabéns, irmã!
Sofia: Obrigada! Foi das melhores coisas que já me deste, a seguir à tua incansável dedicação, amor e carinho ao longo de todos estes anos... Mas agora chega de tanto mel, que daqui a bocado escorrego! -Brinquei.
Com o passar do tempo chegaram a Margarida e a Maria João. Cantou-se os parabéns e comeu-se basicamente tudo o que havia. A casa estava a abarrotar. Chegava sempre mais gente. Gente até para mim desconhecida; amigas da minha mãe que afirmavam ter pegado em mim ao colo quando eu não pesava nem metade do que peso hoje.
A meu pedido, e como todos sabem que esta ano passei a adorar praia, (coisa que eu nunca esperava que fosse possível), fomos passear à beira mar, onde acabamos por jantar um cachorro numa esplanada lá perto.
O dia passou-se desta forma. Cheio de alegria e despreocupações. Estava um dia quente e solarengo, mesmo como eu gosto, com o céu azul sem nuvens cinzentas e carregadas. Um dia feliz!
A sós, foi me entregue, pelos meus pais, uma última prenda: um envelope. Olhei para o pedaço de papel muito desconfiada, como se tivesse chegado de Hogwarts e que fosse uma carta de aceitação para a minha tão desejada entrada no mundo maravilhoso de Harry Potter. Obviamente, o meu sonho de criança não se realizou, mas o que lá estava dentro compensou a pequena desilusão. No interior do envelope, estavam 5 bilhetes de ida e volta para a Califórnia. CA-LI-FÓR-NIA! NO WAY!
Pai: Espero que gostes da ideia!
Sofia: Não acredito, vocês estão a brincar, vocês não fizeram isto!
Mãe: Nós sabíamos que querias muito ir. Não te vamos deixar andar por lá sozinha, por isso vamos contigo, mas como já tens cabecinha e responsabilidade, não vamos andar atrás de ti o tempo inteiro.
Sofia: Mas estão aqui 5 bilhetes!
Mãe: O quinto bilhete é para levares alguém contigo desde que seja de maior idade ou tenha a companhia ou autorização dos pais.
Pai: Tenho mais ou menos em mente quem vais querer levar. -Piscou-me o olho.
Eu estava arrasada. Completamente incrédula. É tão bom ou ainda melhor do que Hogwarts!
Sofia: Eu não sei como vos agradecer! -Abracei-os com a maior força possível e imaginária. -Já sinto a adrenalina na barriga! -Mas, vamos ficar aonde?
Mãe: Em casa dos tios.
Fuck.
Sofia: Em casa dos tios? Mas nós nem costumamos falar...
Pai: Não há problema, piriquita. A viagem já está planeada há muito tempo e os tios já sabiam dela antes de ti. É uma oportunidade para os conheceres melhor, ou não?
Sofia: Sim, claro... -Fiquei estranha.
Pai: Que se passa, Sofia?
Sofia: Nada! É que ainda nem acredito! -Tentei esconder.
Temos aqui um grave problema.
Com o entusiasmo já a passar, regressamos para a companhia do restante pessoal, que já não era muito. O Filipe, a Rita, a Vicky, A Margarida, a Maria João e a minha irmã estavam sentados nos passadiços de madeira à beira da areia e falavam entre gargalhadas e jogos, já esquecidos que por nós esperavam.
Com esta brincadeira de passar o dia todo ao Sol, fiquei morena. What? Sim, a pálida de serviço ficou morena, aleluia!
Com o convite dos meus pais, fomos todos dormir a casa deles. Temos um sótão enorme onde caberia uma equipa de futebol.
Entramos em casa numa desordem total. Os meus pais não nos controlavam e só pediam para não fazermos barulho, que acordávamos os vizinhos. Que vizinhos? Só se forem os do outro lado da rua.
Sofia: Lá se foi o avental... -Sussurrei ao ouvido da minha loira linda.
Vicky: Vai imaginando...
Sofia: Já te comi umas 300 vezes na minha cabeça hoje.
Vicky: Gosto de te fazer esperar! Sossega, babe...
Maria João
Maria João: BAAAAAABES! O que é que fazes andam a fazer, safadas??
Vicky: Nada, parola!
Sofia: Estávamos a ter uma conversa saudável e bonita de duas adolescentes de 17 anos, Joãozinha.
Maria João: Estão a discutir como duas lésbicas fazem "bebés"?
Vicky: Quem não sabe?
Maria João: Eu! -Ironizei.
Sofia: Até a minha irmã deve saber!
Maria João: Então, vamos perguntar-lhe! -Preparei-me para a ir buscar.
Sofia: Está calada, João, que depois ela não nos larga. Nem sequer sabe o que é sexo! Ainda pensa que o meu pai semeou mesmo uma semente na barriga na minha mãe.
Margarida: Clássico! Eu pensei que tinha vindo de um envelope, de acordo com o que os meus pais me diziam.
Vicky: What the fuck?
Rita: Deixem lá. Pelo menos os vossos pais contaram-vos verdadeiros eufemismos. A mim explicaram-me desde cedo que vim do sexo! Por isso hoje sou traumatizada. -Disse, entrando na brincadeira.
Vicky: Olha lá, temos de falar. -Reparei na forma sorrateira como a Vicky tinha comunicado com a Rita.
Rita
Olhei para a Vicky com um olhar rendido, que ela entendeu como um "okay".
Ainda estava um bocado "tocada" com o que aconteceu com a Rafaela. Penso que ela gosta de mim. Pelo menos tem atitudes que me fazem pensar tal. Ou talvez seja só impressão minha. Tive a sensação, quando me deitei com ela para ir dormir, que nos íamos beijar. Aquele momento em que olhamos para uma pessoa e sentimos uma energia estranha vinda do nada e tudo nos puxa para a boca dela. Tive de resistir. Isto não pode nem vai acontecer.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...