Vicky
Juro que tentei por tudo para não adormecer. Queria dar-lha os parabéns à meia noite, ainda que isso seja meio cliché.
Estávamos deitadas no sofá. A cabeça dela em cima da minha perna e ambas em trajes menores. Não demorei muito a perceber que ela já dormia. Sempre que adormece o seu braço direito tem um espasmo. Tem piada ao ouvir mas assusta porque acontece de repente!
Faltavam 5 minutos para a meia noite e PLIM! Fez-se luz, tive uma ideia. Tentei deitar a cabeça dela no sofá sem que acordasse e levantei-me sorrateiramente. Fui pé ante pé até à cozinha e abri o frigorífico. Chocolate, ovos, leite. No armário fermento, açúcar e farinha. Fechei a porta da sala e a da cozinha para não acordar a minha menina que dormia pacificamente. Pus mãos à obra e comecei a fazer um bolo. O bolo de aniversário dela. 17 anos não é para todos (e eu ainda falo como se já tivesse passado deles)! Tive medo de a acordar. Espreitei-a para ver se ainda dormia e confirmou-se, por isso continuei.
Depois de duas horas, o bolo estava pronto. Era redondo e tinha cobertura de chocolate com brigadeiro. Tive de me conter para não o provar!
Com a cozinha arrumada mas com o avental ainda vestido, fui até à sala para levar a Sofia para a cama. Chamei-a baixinho e logo acordou. Estava sonolenta e não completamente desperta. Não se segurava em pé, por isso peguei nela ao colo e levei-a para a meu quarto.Sofia: Porque é que estás de avental? -Perguntou, cheia de sono e com os olhos semisserrados.
Vicky: Estás a sonhar. Continua, está tudo bem.
Sofia: Hum hum. -Deitei-a na cama.
Coitadinha! Adormeceu logo. Mas realmente, porque raio ainda estou de avental? Fui à cozinha guarda-lo e regressei ao quarto.
Sentei-me na cadeira em frente à cama e descansei. No meu telemóvel estava uma mensagem da Rita que imediatamente li:
"Vic, não sei se estás a dormir. Se te acordar desculpa. Preciso de desabafar, isto 'tá a dar cabo de mim."
Tentei ligar-lhe mas desligou a chamada. Percebi que não podia falar e, por isso, esperei que me enviasse outra mensagem.
"Não posso atender."
"O que se passa?", respondi eu.
"Sabes a Rafaela? A rapariga que me pediu para vir dormir com ela hoje."
"Sim, o que tem?"
"Eu acho que sinto algo por ela."
Wow.
"Como assim?"
"Não te contei mais cedo porque não tinha a certeza. Quer dizer, ainda não tenho, não sei o que é isto! Eu sempre gostei de rapazes..."
"Tem calma, é algo normal! Ela sabe?"
"Não. Nem pode saber. Ninguém pode saber!"
"Hey, sossega! Porque estás tão aterrorizada?"
"Porque é estranho para mim. E para ela também vai ser. E para ti também!"
"Para mim? Como é que vai ser estranho para mim se eu própria sou lésbica?"
"Isto é estranho, Victória. Sinto-me estranha assim. Prefiro que isto passe!"
"Preferias que o que eu sinto pela Sofia passasse em vez de lhe contar?"
"Não!"
"Então porque raio estas a dizer isso sobre ti?"
"Exatamente por isso! Porque é sobre mim!"
"Se estivesses aqui estava a berrar contigo."
"O que faço?"
"No teu lugar, primeiramente, aceitava o facto de eventualmente estar a sentir algo pelo mesmo sexo que eu."
"Mas se eu não consigo fazer isso..."
"Se não consegues fazer isso não consegues fazer nada. Vais-te esconder, esconder, esconder até ao dia em que dás em louca e explodes."
"Isso aconteceu contigo?"
"Yup."Rita
Isto não me pode estar a acontecer. Isto é só uma impressão. Uma confusão qualquer, sei lá. Eu gosto de rapazes, sempre fui heterossexual! Não posso desiludir os meus pais nem os meus irmãos. O que vai ser de mim? O que faço eu?
Rafaela: Rita?
Rita: Sim?
Rafaela: Anda para a cama.
Rita: Eu tenho que falar com os meus pais, já vou!
Rafaela: Às três da manhã?
Sou mesmo estúpida. Arranja outra desculpa, Rita. Pensa, não te podes aproximar assim dela!
Rita: Sim! É a pausa deles no trabalho e...
Rafaela: O que se passa contigo?
Rita: Nada...
Rafaela: Eu conheço-te...
Rita: Estou só cheia de sono e...
Rafaela: Então vem para aqui...
Vicky
A Rita deixou de me responder e eu acabei por cair no sono. Deitei-me ao lado da Sofia e adormeci agarrada a ela.
Acordei de manhã cedo para preparar as coisas. Pus a mesa e o bolo no centro dela.
Tomei um duche demorado porque sabia que ela ia demorar a acordar. Ao vestir-me, ouvi a campainha a tocar. Fui à porta ainda com o cabelo um pouco molhado e, para minha surpresa (ou não), aparece-me aquela cabra outra vez à porta.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...