Vicky
Rita: Pensei que eles iam embora amanhã.
Sofia: Não percebo. Como é possível terem arranjado um voo mesmo em cima da hora?
Vicky: Esqueçam isso. Não vale de nada.
Sofia: Vale sim, isto não pode ficar desta maneira.
Vicky: Mas ele já não está em Portugal!
Rita: Temos que ir na mesma! -Carregou no acelerador. -Nem que se mostre uma fotografia.
Sofia: Eu não tenho fotografias dele... só se for no Facebook.
Rita: Qualquer coisa serve!
Eu não queria ir. Mas mesmo não querendo, fui. Contrariei-me porque elas merecem estar em segurança e não posso continuar a viver às escondidas. Há mil e uma decisões que vou tomar e fazer, nem que isso me custe uma bala cravada no peito.
Demoramos uma hora para lá chegar. Tinha havido um acidente e a estrada estava interrompida.
Quando chegamos à PSP comecei a sentir um nervoso miudinho. Nunca na vida fiz uma queixa na polícia!
Senhor Agente: Boa Noite, em que posso ajudar?
Rita: Boa noite. Viemos fazer uma queixa de um acontecimento passado há cerca de uma semana e meia, no Bairro Alto.
O homem pediu-me para descrever a situação. À medida que eu falava, passava tudo para um papel. Tudo era nervos em mim. A Rita e a Sofia estavam sentadas nos sofás e ouviam tudo atentamente. Tirou fotografias aos meus ferimentos ainda visíveis e guardou-as numa pen para mais logo as revelarem e juntarem à queixa. Em seguida, pediu o número de telefone e a morada do Marco. A cada paço avançado, sentia uma força enorme que me tentava fazer parar e ir embora. Mas não cedi. Chamei a Sofia para que lhe desse tudo o que fosse preciso. O problema surgiu quando o guarda ouviu "América". Arrumou a folha e disse-nos, com uma voz ausente de esperança, que iam fazer o possível.
Logo à saida da PSP, recebi um telefonema dos meus pais. Prometeram vir a Portugal para a semana. Disseram que tinham uma surpresa. Insisti com eles, pois queria saber o que era. Costumo conseguir sempre o que quero, mas desta vez foi impossível. Tem estado tudo calmo, felizmente.
Decidimos ir uma horinha ao ginásio onde a Sofia treina. Fiquei super contente porque adoro ginásios! É muitíssimo melhor treinar lá do que sozinha em casa (experiência própria). Fizemos o plano de treino da Sofia. Consegui fazer tudo, com algumas adaptações. Já a Rita deu-se um bocado mal com a passadeira rolante. Mal aumentou a velocidade de passo para corrida, perdeu o controlo da passada e foi projetada para o chão. Como se não se tivesse passado nada, levantou-se de seguida a olhar para todos os lados e a repetir "ninguém viu, ninguém viu!". De facto, toda a gente tinha visto. Toda a gente estava às gargalhadas (incluindo a Sofia, porque a Sofia consegue rir-se de qualquer situação caricata, quer tenha piada, quer não) e vieram ter com ela para lhe perguntar se se tinha magoado. Conheci a Rita versão pimento naquele momento.
Para "matar" o dia, decidimos ir dar um último passeio. Fomos ao Castelo de São Jorge para contemplar as vistas.
Sinto-me tão contente por poder andar de mão dada com a Sofia em plena cidade! Sinto-me radiante por estar com ela. Tenho que admitir que gosto mesmo muito dela. MUITO mesmo. Mas às vezes tenho vergonha de lhe dizer.
A Rita também tem sido muito importante. É muito sensata e divertida. Ela é do tipo de pessoa que se levanta às duas horas da tarde quando pode e fica de pijama o dia todo, mas quando tem compromissos, não lhes falha. Já a Sofia adora levantar-se cedo, tomar um duche gelado e estar pronta e vestida a partir das oito da manhã. "O dia é lindo e deve ser aproveitado." Eu, entre meio termo, gosto de acordar e sentir que já dormi o suficiente, quer sejam oito, quer sejam duas horas.
Nessa noite, a Rita não dormiu em casa. Uma amiga ligou-lhe a meio do nosso passeio e pedir a presença dela. Soubemos imediatamente que o irmão dessa tal amiga, a Rafaela, tinha morrido numa queda de elevador num hotel. Seguimos, então, para casa, onde passamos a noite a duas.
Vicky: Que morte tão trágica...
Sofia: Estás a ver porque é que eu não gosto de andar de elevador?
Vicky: Oh doce, o elevador daquele hotel era velho.
Sofia: Não importa. O seguro morreu de velho.
Vicky: Eu não acredito que tens medo de andar de elevador. -Disse, com uma enorme vontade de rir.
Sofia: Não é medo.
Vicky: Aí não? Então é o quê?
Sofia: É só um desconforto pequenino.
Vicky: Claro, até porque tu nunca tens medo de nada, só tens desconfortos pequeninos. Até me admira que não andes com uma almofada atrás!
Sofia: Vou andar com aquela almofada redonda que parece um Donut que as pessoas usam quando são operadas ao rabo.
Vicky: Se não admites que tens medo opero-te já nesse sítio! -Dei-lhe um pequeno soco na barriga.
Sofia: Tenho porque já fiquei presa uma vez.
Vicky: 'Tadinha da menina! -Sentei-me no seu colo.
Sofia: Não teve piada, aquilo deu um pulo para baixo e parou! -Gargalhei. -Não te rias! Ia lá com o Filipe.
Vicky: O Filipe tinha que estar metido nisto.
Sofia: A culpa foi dele.
Vicky: Aí sim?
Sofia: Ele esteve comigo nesse dia. Nessa altura ainda morava num prédio, por isso havia dois elevadores. Queria levar-lo à garagem para me ajudar a lavar o carro do meu pai e, quando estávamos dentro do elevador, ele lembrou-se de me ensinar a dançar a Macarena. Tudo estava bem até saltamos os dois na parte final da dança... e por causa disso, o elevador parou. Ficamos lá dentro uma hora.
Vicky: Tu passaste-te não passaste?
Sofia: Óbvio. Primeiro andava todo medroso porque "Ai Sofia, eu sou claustrofóbico!" e cinco minutos depois estava a tirar sefies em frente ao espelho do elevador.
Vicky: Já sei o que fazer quando for num elevador contigo!
Sofia: Nem penses!
Vicky: Ai penso, penso... -Atirei-a para o sofá. Prendi-lhe as mãos.
Sofia: Assim gostava de estar presa num elevador...
Vicky: Mau era se não gostasses... -Dei-lhe um beijo nos lábios de leve e larguei-a. Levantei-me do sofá.
Sofia: Não vás... -Agarrou-me.
Vicky: O que é que eu recebo em troca? -Aproximei os meus lábios aos dela.
Sofia: Não fujas... -Tentou beijar-me.
Vicky: O que é que eu recebo em troca? -Esquivei-me.
Sofia: Eu amo-te! -Paralisei. -Amo-te. Fiquei a olhar para ela, espantada.
Continuei estática. Era como se o mundo continuasse a rodar e eu estivesse parada no tempo.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...