Vicky
Eu não conseguia dormir nem parar de pensar no que estava a acontecer naquele momento. Tinha muita coisa na minha cabeça: os meus pais; se a viagem está a correr bem; se já chegaram; eu; a Sofia...
De repente, ela acordou.
Sofia: Vicky?- Levantou a cabeça e sentou-se.
Vicky: Sim, palerma?
Sofia: Estás aí...- Mormurou, com a voz falha e rouca do sono.
Vicky: Estou aqui...- Puxei-a para baixo e deitei a cabeça dela no meu peito. -Podes dormir.
Sofia: Vicky?
Vicky: Sim?
Sofia: Não tens frio?
Vicky: Não, porquê?
Sofia: Vou buscar o cobertor da minha cama.
Quando se levantou, senti a ausência do calor do corpo dela; senti frio.
Ao voltar, não vi a Sofia. Apenas vi um cobertor gigante por cima dela, que se arrastava pela sala em direção a mim (imaginem um cobrertor ambulante).
Sofia: Estou com muito frio.- Disse, deitando-se de costas para mim, aconchegando-se.
Vicky: Sofia, estão 22 graus. -Virei-a para mim e pus-lhe a mão na testa. -Estás quente...
Sofia: Estou bem, só estou com frio. -Cobriu-se até às orelhas.
Vicky: Sofia, vamos medir a febre...
Sofia: Eu não tenho tremómetro. E se a Rita tem, eu não sei onde está. -Começou a tremer.
Vicky: Tenta não tremer, se tremeres ficas com mais frio. Vais ver que adormeces já.
Uma hora depois de ter adormecido, acordou de novo, cheia de frio e dores no corpo.
Sofia
Eu estava cheia de dores e não parava de tremer com o frio por mais que me agasalhasse. A Victória estava atrás de mim a dormir, toda descoberta. Tentei não a acordar, mas mal eu me virei, ela acordou e perguntou-me o que se passava.
Sofia: Está-me a começar a doer o corpo... -Levantou-se. -Onde vais?
Vicky: Vou-te fazer um chá e buscar um benuron.
Sofia: Não é preciso, eu estou bem!
Vicky: Shiu. Volto já.
Vicky
Quando dei conta, a Sofia tinha vindo atrás de mim, com o cobertor agarrado a ela. Ficou encostada à porta, a ver-me fazer o chá.
Vicky: Toma, come umas bolachinhas. -Disse eu, a comer também.
Ela estava muito calada e séria a olhar para mim. Estava pálida. Não deixava de ser uma visão cómica: Um rosto no meio de um cobertor pasmado a observar cada um dos meus movimentos como se fossem as maiores incógnitas do mundo.
Vicky: Pareces um hamster a meter a cabeça de fora da toca. -Rimos.
Quando fui tirar a água do fogão, senti o corpo dela abraçar-me pelas costas e o seu queixo a apoiar-se no meu ombro. Virei o rosto, surpresa.
Sofia: Estás quentinha. -Sorriu.
Vicky: Tu também.- Virei-me para ela, ficando entre o fogão e os braços dela. Como diz a expressão popular "entre a espada e a parede". -Estás a ferver.
Pus-lhe o benuron na boca e dei-lhe o chá.
Sofia: Já está. Contente?
Vicky: Muito!
Ela agarrou no cobertor e envolveu-nos às duas dentro dele, encurtando a distância entre nós. À medida que eu observava os seus movimentos, ela aproximava-se mais de mim e olhava para os meus lábios de segundo a segundo.
Sofia: Sabes o que é que eu queria fazer agora?
Eu não respondi. Apenas fiquei em processo de compreensão e a acompanhar o olhar dela.
Ela pôs uma madeixa do meu cabelo para trás da minha orelha e foi-se aproximando mais, até os nossos narizes se encontrarem e os nossos olhos se fecharem. Ela percebeu que eu estava vulnerável, "indefesa". Senti um arrepio pelo corpo inteiro, uma inquietação. Seria agora?
Vicky: Sofia... -Sussurrei.
Ela deixou-se ficar assim: com o corpo colado ao meu, quente e firme. Quando pensei que ela ia avançar, apenas acariciou a minha bochecha, sorriu e arrastou os seus doces lábios para perto da minha orelha. Deu-me um beijo tão carinhoso...
Ela afastou-se e puxou-me pela mão para irmos para a sala.
Que nervos! Porque é que ela fez isto?? Fazer isto tudo para no fim me dar um beijo na cara?? Mas porque é que eu estou a reagir assim? Eu não me devia estar a sentir desta maneira. O que é que eu estou a fazer, afinal?
Sofia: O que é que se passa? Estás chateada?
Vicky: Não, porque??
Sofia: Estás com uma cara...
Vicky: É do sono. Estou com sono. Tu não tens?
Definitivamente, eu não sei mentir.
Seguidamente, lançou-me um olhar de dúvida e desconfiança. Senti-me desconfortável, mas tentei não mostrar que estava "aborrecida". "Aborrecida"? Afinal de contas, eu estou "aborrecida" pelo quê? Eu não estou aborrecida. Isto deve ser do sono, por isso amanhã já devo estar bem.
No momento em que olhei para ela, vi que também estava estranha.
Vicky: Sofia?
Sofia: Diz.- Respondeu, com os seus olhinhos colados ao chão.
Vicky: Sofia! -Coloquei-me à sua frente e puxei o seu queixo para cima, de modo a que ela olhasse para mim.
Sofia: Não é nada. Estou um pouco mole. Vamos dormir? São quatro da manhã. -Disse, com um sorriso doce.
Agarrei na mão dela e levei-a para o meu quarto. Fiz isso porque o meu quarto é o mais quente da casa e sempre é mais confortável do que o sofá. Disse-lhe para se deitar, que ia à casa de banho e que já ia para a beira dela.
Ela deitou-se por baixo dos lençóis e fechou os olhos. E eu, fiquei a olhar para ela, encostada à parede. Fiquei a vê-la adormecer. O rosto dela estava calmo e sereno. Cada traço seu transmitia paz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...