15. Estrelas e Cometas

4.4K 243 11
                                    

"God isn't the idea of good. Devil isn't the idea of bad. The thing is, we create images in our own minds to make thinks right. Not everything is what it really seems. Watch out. You may get wrong someday. They say Devil was a fallen angel. Well, could God be a fallen devil?"

Sofia

Farta e triste, fui para o meu quarto "dormir". O regresso da Fabiana já me abalava de mais e, para piorar, a Vicky estava aborrecida comigo.

Sentia-me pesada, como se uma âncora de aço estivesse presa por uma corda ao meu ombro ao penduro.

Mal entrei no quarto, troquei a camisola que trazia por uma já velha e desbotada, como eu me sentia. Assim vestida, e com apenas as cuecas, enfiei-me na cama por baixo dos cobertores, com pensamentos e ideias escuras e carregadas. Ideias zangadas, de facto. Pensamentos "chateados", loucos por sair da minha cabeça e mostrar a sua existência ao mundo. Mundo esse onde eles não cabem e não têm lugar. Um mundo demasiado pequeno para eles.

Não estava apenas revoltada com toda esta situação. Sentia-me triste e a cair aos bocados, como as folhas de um carvalho no Outono. Muitos dizem estar aborrecidos com a vida, mas somos nós os únicos responsáveis por ela. A vida acontece a partir de nós e das nossas atitudes e decisões. É certo que sofremos e somos "torturados" com as decisões dos outros, mas não podemos culpar a vida. A vida não tem vida. A vida tem-nos a nós e nós temo-nos e temo-la a ela.

Em plena escuridão imaginei estrelas por todo o lado. Uma aqui, outra ali, mais uma aculá. No espaço não há pessoas, problemas, nem Fabianas... Há estrelas, buracos negros, cometas e planetas. Tudo lá em cima funciona de acordo com a física, química e com minúsculas partículas de partículas que vieram de outras partículas. Os planetas obdecem a regras definidas por uma explosão e não ousam quebrá-las. Já nós, obdecemos a nós mesmos, às nossas vontades e capríchos e por isso somos fracos. Sedemos. Não devíamos. Eu sou fraca e forte ao mesmo tempo. Eu sou muito mais do que uma partícula mas ao mesmo tempo sou apenas mais uma. Mais uma partícula que se veio deitar na cama de t-shirt negra velha e cuecas, à espera de estalar os dedos e fazer desaparecer o que me atormenta. Partícula frágil, partícula forte. Partícula mágica, partícula ilusória.

Do nada, ouvi o barulho do puxador a abrir-se lentamente. A porta rangia como um violino desafinado. Era a Victória. Não me movi; fiquei impávida e serena. A loira veio para a cama, colocou-se junto de mim e, encostando a testa à minha nuca, sussurrou o meu nome.

Vicky: Desculpa-me. -Não respondi. - Eu sei que exagerei ao bocado.

Sofia: Ai sim?

Vicky: Só acho que deves tomar uma atitude.

Sofia: Se eu não sei o que fazer, não posso tomar uma atitude.

Vicky: Foi muito mau o que se passou entre vocês quando estavam juntas?

Sofia: Não, apenas fui traida quase todos os dias. -Disse, irónica.

Vicky: Hey, calma.

Sofia: Victória, namoramos durante dois anos. -Virei-me de frente para ela. -No fim descobri que durante todo esse tempo fui enganada. Ela finge que não aconteceu nada. Mas eu já ultrapassei isso.

Vicky: Ela traiu-te durante dois anos?

Sofia: Pelo que eu soube, sim. E apanhei-a com outra pessoa.

Vicky: Oh Sofia...

Sofia: Sim.

Vicky: Tu ainda a amas?

Sofia: Não, mas como é óbvio, esta situação ainda mexe comigo. Acabamos há cinco meses. -Ela permaneceu em silêncio. -O que foi?

Vicky: Desculpa. -Colou o seu corpo ao meu e percorreu o meu queixo com o dedo indicador. -É que temos estado tão bem...

Sofia: Sim?...

Vicky: Não quero que fiquemos mal... Só quero estar assim contigo, junto a ti... -Aproximou-se ainda mais.

Sofia: O que é que tu estás a fazer?... -Disse, com a voz fraca e rouca.

Vicky: Eu?... -Agarrou o pano da minha camisola.

Sofia: O que é que tu queres, Victória?...

Vicky: "Victória"..?

Sofia: Vicky...

Vicky: Diz o meu nome mais uma vez, diz... -Rossou o nariz pela minha bochecha.

Sofia: Vicky....

Vicky: Lembraste de ontem na cozinha?...

Sofia: Ontem na cozinha... -Repeti.

Vicky: Quando estavas a tomar o comprimido e te aproximaste de mim assim.. Desta maneira?... -Passou dois dedos pelos meus lábios.

Sofia: Otária... Parva.. -Fechei os olhos.

Vicky: Foi assim que eu fiquei, sabes... Impaciente... Ansiosa... -Agarrei os cabelos dela na nuca.

Sofia: O que é que tu queres de mim?...

Velozmente, tirou os cobertores de cima de mim e sentou-se na minha cintura, tapando-nos de novo com os lençóis.

Vicky: Eu? Isso pergunto-te eu a ti... -Levou a cabeça ao encontro da minha.

Sofia: Eu?... -Disse, entre um intervalo da minha ofegante respiração.

A loira soltou um riso malandro e prendeu-me as mãos, agarrando os meus pulsos contra o colechão. A sua respiração estava calma e controlada e ela divertia-se ao deixar-me assim. Eu estava louca! Queria agarrá-la mas ela não me deixava! Os lábios dela passeavam pelo meu queixo e pelas minhas orelhas, oferecendo luta e resistência... E eu, "impaciente", "ansiosa"...

Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora