8. Estás com medo, Vicky?

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Sofia

Enquanto a Victória foi vestir o pijama, escolhi o filme. Optei por um de terror, porque seria engraçado ver como ela reagia. Pu-lo a dar no DVD e esperei que ela viesse, sentada no sofá.

Victória: Já escolheste?

Sofia: Já, chama-se "The Door".

Victória: Eu juro que te mato se for de terror.

Sofia: Matas depois do filme...- Puxei-a para o sofá no momento em que me levantei para apagar as luzes.

Victória: Se queres que eu passe a noite acordada com as luzes da casa inteira acesas, parabéns, vais conseguir!

Sofia: Mission accomplished!- Sentei-me de novo no sofá.

Enquanto o filme passava, os meus tímpanos sofriam "alfinetadas" de elevados decibeis provenientes das cordas vocais da menina Victória.

Sofia: O meu ouvido direito está surdo.- Ri.

Victória: Ahahaha, que piada!- Riu ironicamente, agarrando o meu braço com força.

Sofia: Medricas... Já acabou, vês?

Victória: Odeio filmes de terror. Só vi hoje porque me obrigaste!

Sofia: Foi? Vais sofrer tanto comigo cá em casa...

Victória: Ai sim?...- Olhou para mim.

Desliguei a televisão, deixando toda a casa às escuras.

Sofia: Também tens medo do escuro?

Victória: Depois de ver filmes de terror, sim.

Aproximei a minha mão da dela, tocando-lhe polegar.

Sofia: Já podes ir dormir se quiseres. O filme já acabou.- Sorri para ela.

Victória:Agora vais ter que me aturar...- Agarrou a minha mão aos poucos.

Sofia: Não faz mal, eu sei cuidar de crianças!

Largou a minha mão e deitou-se no sofá.

Victória: Amuei.

Sofia: Coitadinha...

Victória: Loooool.

Sofia: Victóriaaaaaa...- E nada de me responder.- Victória!

Levantou-se.

Victória: Chama-me Vicky.

Sofia: Vicky?

Vicky: Vicky.

Sofia: Gosto de Vicky.- Acariciei o cabelo dela.

Vicky: Toda a gente me chama Vicky. A minha mãe, o meu pai, o meu tio..- Parou de falar.

Sofia: Hey, que se passa?

Vicky: Nada, nada. É só que..

Sofia: Que?

Começou a chorar.

Sofia: Hey... Vicky...

Estava a ficar preocupada e aflita com ela. Ela não parava de chorar e eu não sabia o porquê! A única coisa que fiz foi deitar a cabeça dela nas minhas pernas e abraça-la, enquanto sussurrava "shhhhh..." para a acalmar. Enquanto ela ficava mais calma, beijei-lhe a testa mil vezes, até que parou de chorar.

Sofia: Estás melhor?- Limpei-lhe as lágrimas e acariciei-lhe a bochecha.

Vicky: Estou.- Abraçou-se à minha cintura.

Sofia: O que se passou, pequena?- Puxei-a para cima.

Vicky: O meu tio morreu, e ainda não me habituei a isso. Então, cada vez que penso nele fico muito triste e, ultimamente, tenho pensado muito. Demais até, acho.- Soluçou.

Sofia: Ouve: Eu sei o quanto isso custa. E também sei que doi muito quando nos abrimos com uma pessoa para partilhar algo desse género. Eu não sei se queres falar ou não, mas se não quiseres, quero que saibas que te percebo perfeitamente. Lembras-te do que te disse sobre a zona de conforto?

Vicky: O meu tio foi assassinado.-Gelei.- E deixou-me apenas este colar e o nome "Vicky".

Ficamos ali no sofá, encostadas uma à outra, enquanto ela me contava tudo o que dizia respeito à familia dela. Não estava preparada física nem psicologicamente para ouvir uma história tão aterradora, que parece que só existe nos filmes.

Ela está cá sozinha porque o pai corre perigo de vida, assim como a mãe, por ser casada com ele, claro. E está aqui, sem saber de nada, com a única certeza de que a morte vai chegar.

Sofia: Eu não sei o que te dizer.

Vicky: Eu sei, custa a "digerir".

Sofia: Eu sei que "vai correr tudo bem" deve ser a frase que tu mais ouves das pessoas quando lhes contas isso..- Interrompeu-me.

Vicky: Eu nunca contei a ninguém.-Olhou para mim.

Sofia: Contas-te a mim. Eu estou aqui, e estamos seguras.- Levei a mão à sua nuca e encostei a testa à dela. Abraçou-me, deitando-me no sofá com o impulso.- Estás com medo, Vicky?

Vicky: Não. Estou contigo.

Os meus olhos brilharam.

Aproximou-se de mim, fazendo com que o nariz dela quase tocasse no meu, e acariciou o meu pescoço, raspando de levezinho as unhas nele. Foi-se aproximando mais, até que parou quando já conseguíamos sentir a respiração de uma da outra nos lábios. Os nossos olhares encontravam-se de vez em quando, quando não olhavamos para a boca uma da outra. Até que...

Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora