14. Duas Crianças

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Sofia

Vicky: Bom dia, há algum problema? -Escutamos, escondidas no corredor, olhando discretamente para as duas a falar no hall de entrada.

Fabiana: Já disse que quero falar com a Sofia!

Vicky: A Sofia está a dormir e ia agradecer se voltasses mais tarde!

Fabiana: Olha lá. -Olhou a Victória de cima a baixo. -Tu só tens que a ir chamar e dizer que sou eu, e não tarda nada ela está aqui ajoelhada aos meus pés! Mas se não vais tu, vou eu. -Ameaçou, colocando um pé dentro de casa. -Onde é que ela está?!

Vicky: Escuta lá sua parvalhona, tu deves ter a manía de que a Sofia gira à tua volta! -Empurrou-a para fora de casa. -Ela não quer vir ter contigo, não percebes? Aff! És burra, o teu elevador não deve chegar ao último piso! Agora, faz-nos um favor e vai embora!

Imediatamente, a Fabiana deu um estalo na cara da Victória e fez-se silêncio. A Vicky estava de boca aberta, indignada, a fuzilar a Fabiana com os olhos.

Vicky: Qual é o teu problema?! -Deu-lhe outro estalo.

A cena estava a ficar feia, por isso ganhei a coragem que já devia ter tido e dirigi-me ao hall para as separar.

Sofia: Meninas... -Meti-me no meio da Terceira Guerra Mundial, abri os braços e separei-as como se fossem duas crianças a arrancar cabelo uma à outra por causa de um brinquedo. -Já chega. Fabiana, sai, por favor.

Fabiana: Sofia... -Agarrou-me. -Eu amo-te Sofia, tu tens que voltar para mim! Tu sabes que só estás bem comigo, tu amas-me! -Com os olhos em lágrimas, empurrei-a para fora de casa e impedi a sua entrada.

Sofia: Não admito que venhas a minha casa fazer estas cenas tristes como se eu fosse UMA COISA tua. Tu precisas de ajuda. Vai procurá-la. -Fechei a porta e fui em direção à casa de banho para me trancar lá dentro. A Victória e a Rita vieram atrás de mim e ficaram do outro lado da porta a pedir para eu a abrir. Eu não ouvia nada, nem via nada. Sinceramente, não queria mesmo ouvir nem ver. Só queria estar no vazio a olhar estupidamente para o nada.

Ouvi o meu telemóvel tocar: Era a minha mãe. A conversa foi curta e seca e ela percebeu que eu não estava bem. Eu não lhe quis contar, não agora. A minha mãe odeia a Fabiana, por isso era bem capaz de ir atrás dela com uma bazuca e lhe dar um tiro (nada que ela não merecesse, não é?)

Depois de muita insistência, abri a porta e dei de caras com a Vicky sentada no chão.

Sofia: Porque é que estás aí sentada?

Vicky: Cansei-me de esperar em pé.

Sofia: Já te podes levantar agora.

Vicky: Porque é que não te sentas tu?

Fiquei a olhar para ela três segundos e sentei-me à sua frente.

Sofia: Feito.

Vicky: O que é que aquela miúda queria?

Sofia: Eu não sei.

Vicky: Não sabes? Da maneira que ela falou pareceu-me que sabias! -Disse, irritada. -E já que agora estou metida no assunto, tenho o direito de saber.

Sofia: É a minha ex, Vicky.

Vicky: Tens uma ex um pouco possessiva demais.

Sofia: Eu não tenho culpa.

Vicky: Ela vai continuar a vir cá a casa fazer estas figuras?

Sofia: Muito provavelmente, vai. -Fiz uma expressão séria.

Vicky: O que é que tens Sofia?

Sofia: Nada.

Vicky: Nada?

Sofia: Nada.

Vicky: A tua ex vem a tua casa fazer-te uma cena, tu fechas-te na casa de banho à chave e sais com essa cara pálida e a falar dessa maneira e não tens nada? Tu gostas dela? -Não respondi. - Sofia, tu ama-la?

Sofia: Não. -Os meus olhos encheram-se de lágrimas; olhei para o chão.

Vicky: Hey. -Abraçou-me, vendo-me começar a chorar.

Eu e as minhas lágrimas derretemos naquele abraço e acalmamos instantaneamente.

Sofia: Não é a primeira vez que isto acontece. Aliás, nem a décima deve ser.

Vicky: Olha para mim. -Encostou a sua testa à minha. -Vai correr tudo bem. Ela não vai fazer isto eternamente.

Sofia: Eu não sei.

Vicky: E se fossemos almoçar fora para desocupares essa cabeça? Apanhar ar, passear pela cidade. O que dizes?

Sofia: Pode ser... -Deu-me um beijo no nariz e levantou-se.

Fomos almoçar à Pizza Hut e passear por Alfama. Todos os meus problemas desapareceram durante horas e parecia que só existia a Victória. O sol batia-lhe nos cabelos cor de ouro e o sorrido dela fazia os planetas girar e o universo expandir-se. Ela é tão linda! A certa altura agarrou-me a mão e andamos, por algum tempo, de mão dada. Quando olhei para ela, vi o seu rosto e um risinho envergonhado e os nossos dedos soltaram-se. Eu estava corada e não conseguia olhar para ela muito tempo: despanchava-me a rir de vergonha e de felicidade! Mas o que é que se está a passar comigo?

Vicky

Hoje fiquei a conhecer melhor Lisboa. Fomos a Alfama e a Belém. Almoçamos e jantamos juntas e falamos e rimos tanto que ela ficou rouca.

Quando chegamos a casa, a Rita tinha saído novamente. Deixou-nos um recado a avisar que só chegava amanhã e que a Fabiana tinha voltado... Fiquei incomodada.

Sofia: Vês? Ela não desiste.

Vicky: Já pensaste em ir à polícia?

Sofia: Não queria ir tão longe!

Vicky: Tu é que sabes, Sofia. -Virei costas e pus-me à janela.

Sofia: Victória... -Olhei para ela. -Não é assim tão simples.

Vicky: Tu é que sabes.

Sofia: Vais ficar assim? -Não lhe respondi. -Tu é que sabes, até amanhã.

Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PTOnde histórias criam vida. Descubra agora