Sofia
Vicky: Bom dia, há algum problema? -Escutamos, escondidas no corredor, olhando discretamente para as duas a falar no hall de entrada.
Fabiana: Já disse que quero falar com a Sofia!
Vicky: A Sofia está a dormir e ia agradecer se voltasses mais tarde!
Fabiana: Olha lá. -Olhou a Victória de cima a baixo. -Tu só tens que a ir chamar e dizer que sou eu, e não tarda nada ela está aqui ajoelhada aos meus pés! Mas se não vais tu, vou eu. -Ameaçou, colocando um pé dentro de casa. -Onde é que ela está?!
Vicky: Escuta lá sua parvalhona, tu deves ter a manía de que a Sofia gira à tua volta! -Empurrou-a para fora de casa. -Ela não quer vir ter contigo, não percebes? Aff! És burra, o teu elevador não deve chegar ao último piso! Agora, faz-nos um favor e vai embora!
Imediatamente, a Fabiana deu um estalo na cara da Victória e fez-se silêncio. A Vicky estava de boca aberta, indignada, a fuzilar a Fabiana com os olhos.
Vicky: Qual é o teu problema?! -Deu-lhe outro estalo.
A cena estava a ficar feia, por isso ganhei a coragem que já devia ter tido e dirigi-me ao hall para as separar.
Sofia: Meninas... -Meti-me no meio da Terceira Guerra Mundial, abri os braços e separei-as como se fossem duas crianças a arrancar cabelo uma à outra por causa de um brinquedo. -Já chega. Fabiana, sai, por favor.
Fabiana: Sofia... -Agarrou-me. -Eu amo-te Sofia, tu tens que voltar para mim! Tu sabes que só estás bem comigo, tu amas-me! -Com os olhos em lágrimas, empurrei-a para fora de casa e impedi a sua entrada.
Sofia: Não admito que venhas a minha casa fazer estas cenas tristes como se eu fosse UMA COISA tua. Tu precisas de ajuda. Vai procurá-la. -Fechei a porta e fui em direção à casa de banho para me trancar lá dentro. A Victória e a Rita vieram atrás de mim e ficaram do outro lado da porta a pedir para eu a abrir. Eu não ouvia nada, nem via nada. Sinceramente, não queria mesmo ouvir nem ver. Só queria estar no vazio a olhar estupidamente para o nada.
Ouvi o meu telemóvel tocar: Era a minha mãe. A conversa foi curta e seca e ela percebeu que eu não estava bem. Eu não lhe quis contar, não agora. A minha mãe odeia a Fabiana, por isso era bem capaz de ir atrás dela com uma bazuca e lhe dar um tiro (nada que ela não merecesse, não é?)
Depois de muita insistência, abri a porta e dei de caras com a Vicky sentada no chão.
Sofia: Porque é que estás aí sentada?
Vicky: Cansei-me de esperar em pé.
Sofia: Já te podes levantar agora.
Vicky: Porque é que não te sentas tu?
Fiquei a olhar para ela três segundos e sentei-me à sua frente.
Sofia: Feito.
Vicky: O que é que aquela miúda queria?
Sofia: Eu não sei.
Vicky: Não sabes? Da maneira que ela falou pareceu-me que sabias! -Disse, irritada. -E já que agora estou metida no assunto, tenho o direito de saber.
Sofia: É a minha ex, Vicky.
Vicky: Tens uma ex um pouco possessiva demais.
Sofia: Eu não tenho culpa.
Vicky: Ela vai continuar a vir cá a casa fazer estas figuras?
Sofia: Muito provavelmente, vai. -Fiz uma expressão séria.
Vicky: O que é que tens Sofia?
Sofia: Nada.
Vicky: Nada?
Sofia: Nada.
Vicky: A tua ex vem a tua casa fazer-te uma cena, tu fechas-te na casa de banho à chave e sais com essa cara pálida e a falar dessa maneira e não tens nada? Tu gostas dela? -Não respondi. - Sofia, tu ama-la?
Sofia: Não. -Os meus olhos encheram-se de lágrimas; olhei para o chão.
Vicky: Hey. -Abraçou-me, vendo-me começar a chorar.
Eu e as minhas lágrimas derretemos naquele abraço e acalmamos instantaneamente.
Sofia: Não é a primeira vez que isto acontece. Aliás, nem a décima deve ser.
Vicky: Olha para mim. -Encostou a sua testa à minha. -Vai correr tudo bem. Ela não vai fazer isto eternamente.
Sofia: Eu não sei.
Vicky: E se fossemos almoçar fora para desocupares essa cabeça? Apanhar ar, passear pela cidade. O que dizes?
Sofia: Pode ser... -Deu-me um beijo no nariz e levantou-se.
Fomos almoçar à Pizza Hut e passear por Alfama. Todos os meus problemas desapareceram durante horas e parecia que só existia a Victória. O sol batia-lhe nos cabelos cor de ouro e o sorrido dela fazia os planetas girar e o universo expandir-se. Ela é tão linda! A certa altura agarrou-me a mão e andamos, por algum tempo, de mão dada. Quando olhei para ela, vi o seu rosto e um risinho envergonhado e os nossos dedos soltaram-se. Eu estava corada e não conseguia olhar para ela muito tempo: despanchava-me a rir de vergonha e de felicidade! Mas o que é que se está a passar comigo?
Vicky
Hoje fiquei a conhecer melhor Lisboa. Fomos a Alfama e a Belém. Almoçamos e jantamos juntas e falamos e rimos tanto que ela ficou rouca.
Quando chegamos a casa, a Rita tinha saído novamente. Deixou-nos um recado a avisar que só chegava amanhã e que a Fabiana tinha voltado... Fiquei incomodada.
Sofia: Vês? Ela não desiste.
Vicky: Já pensaste em ir à polícia?
Sofia: Não queria ir tão longe!
Vicky: Tu é que sabes, Sofia. -Virei costas e pus-me à janela.
Sofia: Victória... -Olhei para ela. -Não é assim tão simples.
Vicky: Tu é que sabes.
Sofia: Vais ficar assim? -Não lhe respondi. -Tu é que sabes, até amanhã.
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Fica Comigo (Lésbicas/Gay) PT
RandomVictória é uma rapariga de 17 anos com uma árvore genealógica muito obscura. Nasceu e viveu em Itália grande parte da sua vida mas, forçosamente, teve que ir para Portugal. Com o passar do tempo, conhece Sofia, uma rapariga Lisboeta uns meses mais...