Blackout

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Acordei com o barulho do chuveiro. Passei a mão pelo rosto, cocei os olhos e me espreguicei. Respirei fundo. A força que tive antes de vir na casa dele, tinha se esvaído. Eu queria ir embora pelo bem de todos, mas ao mesmo tempo não queria porque o amava. Era a decisão mais difícil que teria que tomar. Mas lembrei de tudo, absolutamente tudo. Por mais que nos amássemos, eu era uma bomba e não seria justo com ele todo o meu caos. Fui pegando minhas roupas e as vestindo. Cheguei até à sala, peguei minha bolsa. Sentei no sofá e o esperei. Percebi quando o chuveiro desligou. Meu coração estava apertado novamente. Menos de 5 minutos ele apareceu.

-Eu preciso ir pra casa.

-Entendi. Eu te levo.

-Não precisa se incomodar, eu só não saí antes porque achei que seria falta de respeito. Ontem eu vim porque eu queria me desculpar. Não imaginei que ficaria até tarde.

-São quase 4 da manhã April, acha que eu te deixaria pegar um táxi essa hora?

-Ok....

Respondi quase sem força. Ele pegou sua jaqueta e nos encaminhamos para fora. Entrei no carro. Minha respiração estava pesada. O clima também. Assim que cruzamos a esquina, Sebastian resolveu falar.

-Acabou, não é?

Meus olhos arderam.

-Eu não sei o que dizer.

-Não diga nada, não era essa sua intenção?

-Não queria que fosse assim, eu sinto muito.

-Sente tanto, que vai embora e não teve a decência de me falar.

-Co....como é?

Minha voz não saiu direito.

-Você tinha tudo planejado já. Não foi até minha casa para se desculpar. Foi pra se despedir.

-Não...eu...

-E eu caí, feito um besta.

-Olhou minhas coisas?

-Não foi intencional, sua bolsa estava no chão, as roupas também, eu fui guardar, vi o bilhete do horário do interestadual.

-Eu não conseguiria ir se falasse pra você!

Tudo bem, não me importa mais. Achei que tudo o que passamos valeria o sacrifício.

-Tá vendo como não damos certo? Todas as minhas decisões são erradas aos seus olhos...

-E se fosse eu que tivesse fazendo isso? Você acharia certo? Eu ir embora sem falar absolutamente nada? Não mereceria uma explicação? No fundo April, você só se preocupa consigo mesma.

-Isso é injusto! É muito injusto!

-É injusto mesmo! Estive ao seu lado todo o tempo, todas as vezes que a coisa ficava ruim, não era eu que sumia ou se afastava! Eu merecia uma consideração pelo menos! Imaginou o que eu falaria para os meus filhos? Você também entrou na vida deles!

-FALE QUE JÁ ACHOU UMA SUBSTITUTA! ATÉ CAFÉ JUNTOS JÁ FORAM TOMAR! NÃO ESTÁ SENDO DIFÍCIL PRA VOCÊ!

Eu berrei dentro do carro por não aguentar mais aquela situação. Sebastian socou o volante.

-Você é inacreditável....

-Pare o carro por favor, eu quero sair daqui.

Falei em meio as lágrimas.

-De jeito nenhum, eu vou te deixar em casa. Não piora esse momento, é pedir muito?

-Eu não aguento ficar aqui, para logo esse carro!

-Eu não vou te deixar no meio do nada, de madrugada.

-Respeita a minha vontade, pelo amor de Deus!

-Alguém tem que ser o adulto dessa relação, que já não existe mais, então por favor, não me tira mais do sério....

-Tem razão, não existe mais, então pode parar de querer ser o racional, senhor certinho! Já encontrou outra pra poder se consolar, me deixe em paz!

-Então reclamou que eu mexi nas suas coisas, mas andou me espionando? Baixo até pra você!

-O mundo só gira ao seu redor né? Como se eu tivesse parado a minha vida pra te seguir! Eu queria muito não ter visto o que vi, mas chega dessa conversa idiota. PARE ESSE CARRO AGORA!

Eu acabei gritando ainda mais, o sinal fechou e Sebastian não viu, para que não batêssemos numa van, ele jogou o veículo todo para o lado esquerdo e acertamos um poste. O impacto fez com que eu batesse minha cabeça no para-brisa. Eu havia esquecido de colocar o cinto.

-PUTA QUE PARIU. VOCÊ ESTÁ BEM?

Scott imediatamente veio em minha direção, pegou meu rosto com as duas mãos.

-Eu quero sair daqui.

Abri a porta do carro e saí letárgica. Ele fez o mesmo, foi atrás de mim me chamando e como eu não respondia, me alcançou e segurou meu braço. Um flash passou pela minha cabeça e me lembrei da época que Thomas me segurava dessa forma, meu único reflexo foi juntar as duas mãos no peito de Scott e empurrá-lo para longe.

-NUNCA MAIS ME SEGURE ASSIM!

Berrei a plenos pulmões. Scott ficou parado.

-Desculpe. Por favor April, você está sangrando. Vamos a um hospital.

-Me deixe em paz.

Saí tentando correr. Ele até pensou em vir atrás de mim, mas isso só pioraria a situação. O sangue começava a escorrer da minha testa, eu chorava muito. Avistei uma farmácia na esquina, não olhei e atravessei com tudo, ainda me sentindo tonta. Foi quando senti um impacto muito forte no meu peito, que me fez cair no chão. Por meio segundo eu imaginei ter sido atropelada, fui me levantando devagar enquanto percebia Scott correndo em minha direção e gritando meu nome. Quando ele estava chegando perto, alguém começou a puxá-lo. Senti mais um golpe, dessa vez foi mais forte. Eu não consegui levantar, meu peito queimava. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. Veio o terceiro. Tudo pareceu sumir. Eu tinha morrido? Era essa a sensação de morte? Eu me sentia leve, parecia que eu estava dormindo, meu corpo não pesava mais. Foi quando eu acordei.

O dia em que reconheci Sebastian ScottOnde histórias criam vida. Descubra agora