Buscando o entendimento de tudo

22 7 14
                                    

Comecei a escrever sobre o dia que o conheci. Como ele estava impecável naquele jeans despojado, era o professor mais lindo de toda a universidade. Mas não nos demos bem de início, havia aquela tensão toda no ar, era uma mistura de atração com nervosismo, uma coisa doida. Contei que demoramos pra dar o primeiro passo, que antes disso rolou uma briga, mas que eu estava me apaixonando por aquele loiro de olhos verdes.

-Eu jamais me esqueceria de você. Nosso primeiro beijo, nossa primeira vez...nossas inúmeras outras vezes.

Dei uma risadinha, mas ele se mantinha estático lendo tudo.

-Lembro-me da viagem para Sag Harbor, você me ensinou a atirar! Logo eu que sempre tive medo de armas.... mas você fez tudo ficar tão incrível...Seus pais, a surpresa que fez no meu aniversário, nosso natal, o ano novo não foi legal e a partir daí as coisas desmoronaram.... mas obrigada por estar comigo. Mesmo eu te afastando, como me falou... Eu imagino o quanto você deve estar cansado. Pelo que entendi estou aqui há um tempo por causa do acidente....

Scott prestava atenção em tudo. As coisas ainda não faziam sentido em sua cabeça. Mas ele não sabia como ficar perto de mim. Percebi o seu leve afastamento e perguntei devagar:

-Você está bem?

-Sim....estou.

Ele respondeu colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.

-Você tem descansado?

-Não muito...

-Ei, já está tudo bem, porque não vai pra casa? Eu não vou a lugar nenhum. Mal consigo dobrar minhas pernas.

Escrevi para que ficasse num tom engraçado, mas ele não esboçou nenhuma reação.

-Acho que preciso mesmo. Tenho que ver Robert.

-Como eles estão? E Jullie?

-Estão bem...

-Traga- os, por favor.... saudades!

-Claro, trarei. Bom, eu vou indo, ok?

-Ok....

Eu esperava um beijo, um carinho mais íntimo, mas, tudo o que ganhei foi um pequeno sorriso. Ele saiu de cabeça baixa. Não sei o que havia acontecido, mas percebi que algo mudou entre nós. Antes que eu me afundasse nesses pensamentos, a fisioterapeuta chegou e iniciamos uma sequência dolorosa de movimentos. Eu sentia dores no corpo inteiro, e graças à ótima equipe, eu não fiquei com escaras, aquelas feridas horríveis que surgem quando se fica acamado por muito tempo. Porém, minha locomoção tinha ficado extremamente comprometida. Eu emagreci consideravelmente, perdi massa muscular então teria que fazer fortalecimento antes de dar os primeiros passos. Após muito esforço, consegui movimentar o tronco sozinha, ainda era lenta, mas eu conseguia sentar e deitar. Precisei de ajuda para me colocarem na cadeira de rodas e tomar banho. Pedi para me deixarem mais tempo no chuveiro. A sensação de tomar banho era muito gostosa. Deixei a água cair pesadamente sobre meus cabelos. Uma enfermeira estava comigo e me ajudou a ensaboar meu corpo. Me veio um estalo na consciência. Um flash muito rápido do meu apartamento, onde eu subia as escadas com Jullie de mãos dadas, ríamos, mas ao encontrar a porta aberta, imediatamente a coloquei atrás de mim. E o flash acabou por aí. Eu ainda estava confusa. A noite chegou e Sebastian estava no final do seu terceiro copo de uísque.

-Me vê mais um.

Ele disse e olhava para o copo vazio.

-Scott.... Acho que já deu por hoje.

Bonnie respirou fundo.

-Eu só preciso relaxar. Por favor, minha sanidade está por um fio.

-Prepare outro, minha linda. Eu cuidarei do grandão aqui.

Frank havia chegado, deu uma piscadinha para a garota, que ainda relutante, começou a preparar outra dose.

-Ei, cara, pense pelo lado positivo. Ela acordou! Depois de meses. Seu maior medo era que ela morresse. E ela está viva!

-E me reconhece. E acha que temos um relacionamento.

-Ok, preciso de mais informações aqui. Como assim?

Frank sentou ao lado do amigo.

-Passei 5 meses e meio conversando com uma garota em coma, Frank. Eu me apaixonei por ela. Mas não falei isso. Ou pelo menos não me lembro, eu falava para ela acordar, para voltar ao convívio da família, que eu gostaria de conhecê-la fora do hospital. Eu conversava sobre o dia, sobre como ela tinha uma vida toda pela frente, tentando fazer com que ela acordasse, mas não imaginei que no dia que ela despertasse, eu ficaria transtornado. Ela não se lembra da filha. Acha que Jullie é minha. Hoje me contou como nos conhecemos. Eu disse que fui professor da Columbia, mas isso foi há anos atras. Mas para ela, nos conhecemos na sala de aula.

-Então ela sonhou? Foi tipo um sonho "real"? Tudo o que você falava, ela ouvia e estava numa realidade paralela?

-Eu não sei, nem o médico entende. E de alguma forma, para ela nós temos um relacionamento, tanto que acha que está no hospital porque batemos o carro.

-Acidente de carro?

-Isso! Você tá vendo como tudo é confuso? Que acidente, se ela não sai há 6 meses?

-Sim....

-Eu mencionei como fui afastado da polícia, por isso comecei a dar aulas, mas comentei isso com Alden, dentro do quarto, quando ele ia visitá-la. Conversamos sobre a nossa época da escola, e ela estava escutando tudo. Exatamente tudo!

-Cara, isso é uma loucura total.

-Você nem sabe da metade. Eu conversava sozinho no quarto, só eu e ela. Contei sobre o clube, sobre você, Bonnie, Rudolph... Ela contou à tia que eu vinha aqui, que apresentei meus amigos para ela aqui no bar porque trabalhava no turno da noite....

-Ela trabalhou aqui sim, mas isso foi há muito tempo. Lembra que te falei que conheci ela e aquele desgraçado do Thomas... Rudolph disse que April saiu do emprego por causa dele. Vinha fazer cena de ciúmes quase sempre.

-Lembro. De alguma forma as coisas que contei embaralharam na mente dela e ela se incluiu na história. Na cabeça dela, nós nos beijamos, tivemos um encontro... Frank, eu nunca toquei nela nesse sentido. O máximo que fiz foi segurar a mão, fiz massagem nos braços e nos pés, mas sempre tinha alguém no quarto. E eu pedia permissão da tia. E agora ela acorda, me reconhecendo, sabendo da existência da minha família, dos meus pais, e achando que somos namorados. Ela disse que transamos! Eu não fiz nada com ela, Frank, eu não a toquei, eu juro por Deus!

Sebastian tinha as mãos trêmulas, seus olhos estavam vermelhos e as lágrimas escorriam por todo seu rosto. 

 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


O dia em que reconheci Sebastian ScottOnde histórias criam vida. Descubra agora