A conversa

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Eu ainda não conseguia compreender como aquilo tudo não tinha acontecido.

-Não quero forçar nada, mas nunca vimos alguém tão comprometido quanto ele. Algumas pessoas vieram trabalhar aqui depois que você chegou e achavam que ele era seu namorado. Diversas vezes, enfermeiros novos o identificavam como sendo da família. Então, na verdade, quem se apaixonou por uma desconhecida foi ele!

-Capaz! Ele só estava fazendo....

-O trabalho dele? Que é ser um investigador policial? E o que o trabalho dele estaria relacionado a estar todos os dias com você no hospital?

-De certo esperando que eu acordasse, para colher depoimento...

-Scott conhece sua família April, desde antes de te conhecer. Com certeza ele teria alguma informação se você tivesse acordado antes, não precisaria ficar aqui.

-Não é possível ele ter se apaixonado por uma mulher quase morta!

-Ele salvou a sua vida!

-Por isso mesmo.... deve ser essa a sensação quando se salva alguém. Ainda não acredito que eu apenas o conheci em sonho. Estava bom demais para ser verdade.

-É tudo muito novo, não tente achar explicações agora.

Alexa me ajudou a terminar o banho, me secou e voltamos para o quarto. Eu ainda tinha mais alguns exames para fazer, todos neurológicos e bem cansativos. Estavam mapeando todas as minhas atividades neurais e demoravam horas. Depois que acabamos, o cansaço me consumia tanto, que mal ficava de olhos abertos. Aproveitei e mandei mensagem para o celular de Sebastian.

"Oi....eu ainda não estou processando muito bem o que aconteceu, então diante disso, acho melhor que não venha mais aqui. Desculpe por todo o transtorno que causei e obrigada por ter salvo minha vida, mas já pode seguir com a sua."

Enviei e adormeci. Eu tinha um novo dia pela frente, tentando me acostumar com a nova realidade que pairava sobre mim.

Sebastian pegou o celular assim que o sentiu vibrando em cima da mesa de canto de sua sala. Ele tinha tirado um cochilo no sofá e acordou com o barulho ao longe. Seus olhos ainda estavam se acostumando com a luminosidade do aparelho. Ao terminar de ler, suspirou e os fechou. Não queria ter lido aquilo. Na verdade, ele não sabia o que pensar. Era óbvio que aquele tanto de informações que despejaram sobre mim, me faria sentir o peso enorme. Pensou em escrever de volta, mas decidiu não fazer isso.

Uma semana inteira se passou e eu não tive mais notícias dele. Na verdade, o misto de sensações era constante. Por mais que eu havia pedido que se afastasse, todas as vezes que alguma figura masculina se aproximava da porta, por uma fração de segundos eu achava que poderia ser Scott. Durante todos os dias meus olhos o procuravam. Decidi que não falaria disso com ninguém. As visitas de minha família aliviavam um pouco a saudade que eu sentia dele. Saudade essa que não deveria existir porque nada aconteceu entre nós. Eu havia feito progressos consideráveis. A hidroterapia ajudava bastante, eu já estava me alimentando sem sentir dores. Consegui ganhar peso e Dr. Liam liberou que eu fizesse passeio no pátio do hospital, com supervisão da fisioterapia. A primeira vez que saí, chorei de emoção. Sentir o sol entrando pelos poros da minha pele foi incrivelmente reconfortante. Fechei os olhos e respirei fundo. A parte detrás do hospital era bem bonita, tinha bastante árvores, com bancos brancos, similar a uma pequena praça. Pude notar algumas pessoas ali. Eram visitantes, parentes ou amigos que saíam para tomar um ar. Como eu já estava conseguindo andar, usava apenas uma muleta que me deixava com um pouco mais de firmeza. Era um sábado à tarde, o vento estava um pouco mais gelado, do jeito que eu sempre gostava.

-April!

Escutei a voz de Alexa vindo em minha direção. Como imaginei que já estava no meu horário de voltar, me levantei segurando na muleta e me virei.

O dia em que reconheci Sebastian ScottOnde histórias criam vida. Descubra agora