Juntando as peças

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Assim que Sebastian voltou para o quarto. Não me viu na maca.

-April?

-Oi....Estou aqui.

Falei de dentro do banheiro.

-Ah, tudo bem, eu espero.

-Pode entrar. Na verdade, estou precisando de um pouquinho de ajuda.

A porta estava entreaberta. Scott entrou e me viu sentada na cadeira de rodas que costumávamos usar para tomar banho.

-Tem uma balança aqui no banheiro, eu quis me pesar, mas perdi a força e sentei na cadeira, não consigo me levantar com firmeza. Achei que conseguiria sozinha...

-Vem, se apoie em mim.

Foi a primeira vez que senti o corpo de Scott junto ao meu, desde que acordei. Coloquei meus braços em volta de seu pescoço. Ele me pegou no colo com muita facilidade. Confesso que gostei bastante do contato físico. Acabei colocando minha cabeça em seu peito no curto caminho do banheiro para a maca. Ele me acomodou e eu o olhei bem de perto.

-Acho vou tentar me pesar mais vezes.

Scott sorriu. E aquele sorriso acabava comigo.

-Pode arrumar meu travesseiro?

Ele se debruçou perto de mim e puxou a almofada mais pra cima. Pude sentir o perfume amadeirado que eu tanto gostava. Fechei meus olhos e a sensação parecia me fazer levitar.

-Assim está bom?

-Está ótimo.

Senti que ele ia se distanciar e segurei sua mão.

-Entendi o porquê eu via Jullie como sua filha.

Sebastian respirou mais forte.

-Eu nunca aceitei o pai dela. E graças a Deus ela não tem nenhum resquício dele. Eles não se parecem, em absolutamente nada.

-Ele nunca mais vai chegar perto de vocês outra vez. Eu prometo.

-Obrigada.

Eu esperava que nossas bocas se tocassem. Eu sentia tanta falta dos beijos de Sebastian, que realmente comecei a me convencer de que estava muito tempo naquele hospital e que algo havia mudado.

-Está com fome?

Ele perguntou, me tirando dos pensamentos.

-A não ser que me traga sanduíches, abro uma exceção. Mas a comida daqui eu não aguento mais comer.

-Acho que posso providenciar umas coisas mais gostosas pra você. A comida daqui não é ruim, mas eu também acabei enjoando.

-Ficou internado também?

-Como?

-Nosso acidente de carro.

-Ah. Não...

-Ficou aqui por minha causa?

-Sim.

-Você não precisava...

-Tem razão. Mas eu quis.

-Por Deus, como eu quero que você me beije....

Percebi que Sebastian engoliu seco. Seus olhos verdes me fitaram por um momento, mas acabou olhando para baixo.

-Acho que você não gostaria que nosso primeiro beijo fosse dentro de um hospital...

-Como assim, primeiro?

Sebastian reuniu toda a sua força em menos de 2 segundos.

-Após o acidente. Depois....de termos vindo pra cá.

Ele precisou lembrar das vezes que tinha que se manter firme quando interrogava um suspeito. Pelo menos nisso, seu treinamento policial ajudou.

-Ok, eu vou tentar de todo o meu coração acreditar nisso tudo, e não imaginar que estou um bagaço, pesando feito uma mosca, com um rosto cheio de olheiras, roupinha brega de hospital, precisando de um beijo do namorado, que claramente não se sente à vontade comigo.

-Eu acho que já te disse isso, mas você precisa ser mais paciente. Sabe o que merece? Um jantar, ou melhor, um banquete, num lugar bonito, comigo devidamente bem melhor apresentado, sem barba, cabelo cortado, longe desse hospital.

-Tudo isso por um beijo?

-Você merece. E em breve, isso vai acontecer, te prometo.

Sebastian colocou meu cabelo para trás da orelha. Meu corpo parecia se energizar com seu toque.

-Eu gosto da sua barba. Está maior, o cabelo também, mas gosto.

-Então você curte caras com um visual mais no estilo homens das cavernas? Anotado.

Ele sorriu e eu também.

-Olá, Srta Pearl. Vamos te preparar para mais um exame.

Dois residentes bem jovens se aproximaram de nós. Respirei fundo. Sebastian já havia se levantado da maca.

-Estarei aqui com Jullie quando voltar.

-Ok....

Sorri sem mostrar os dentes. Ele acariciou minha mão e saiu do quarto.

-Não se preocupe. Todo esse tempo ele nunca foi embora. Você tirou a sorte grande, menina.

Um dos rapazes falou sorrindo para mim. Devolvi o sorriso, embora, meus olhos estivessem marejados. Eu não sabia o que era, mas algo estava diferente.

Doutor Liam acompanhou o exame. O mapeamento cerebral foi feito pelo eletroencefalograma, que consistia em transmitir os impulsos elétricos em informações digitais. Primeiro começou comigo deitada, depois sentada. Como meu caminhar livre era bem limitado, não foi possível mapear enquanto eu estivesse correndo, por exemplo. Mas, a julgar pelas expressões da equipe, parecia que tudo estava saindo conforme o planejado.

-Terminamos por aqui! April, seu exame está muito melhor do que eu imaginei. Na próxima semana já estará liberada para fazer a hidroterapia.

-Tenho previsão de quando sairei daqui?

-Vou conversar com a equipe, para vermos isso. Você é muito esforçada, creio que em breve.

-Que notícia ótima! E como é essa hidroterapia?

Enquanto o médico explicava, Alexa me ajudou a descer da maca e tirava os eletrodos grudados na minha cabeça. Fui caminhando bem devagar com ela me auxiliando até a cadeira de rodas. Depois que ele me falou sobre como funcionava esse novo programa do hospital, Alexa me encaminhou para fora da sala de exames, e fomos novamente para meu quarto. No trajeto, ela animadamente me encorajou:

-Você vai gostar bastante da hidroterapia. Pode chamar Sebastian se quiser.

-Eu havia pensado nisso. Não sei se ele aceitaria.... talvez eu pergunte.

-Tenho certeza que sim! Porque a dúvida?

-Bobeira minha. Não é nada.

-Conheço bem esse seu "nada". Antes de irmos para o seu quarto e conversar sobre isso, vamos passar rapidinho no outro corredor, preciso pegar seu exame bioquímico e deixar no prontuário. Prometo que da próxima vez faço um tour melhorzinho contigo.

Achei engraçado o jeito que Alexa verbalizou a frase. Nos encaminhamos para outra ala do hospital e entramos no que parecia ser uma pequena recepção. Ela cumprimentou o jovem garoto que estava no balcão. Fiquei olhando ao redor, não conhecia aquela parte, sempre fazíamos o mesmo caminho do meu quarto para as salas de exames. Corri com o olhar por tudo e ao longe vi a silhueta que eu tão bem conhecia. Sem que Alexa percebesse, me movi um pouco mais para a frente com a cadeira e pude ver Sebastian conversando com uma mulher. Parecia que se conheciam. Estavam bem próximos e aquilo me deixou muito, mas muito incomodada. Ela era jovem, bonita e sorridente. Sorridente até demais. Percebi quando ela apontou o dedo para o rosto dele e depois displicentemente foi com a mão até seu cabelo. Ele não se afastou e riu, passando as duas mãos pela cabeça. Parecia muito confortável com a situação. Será que ele a conheceu no hospital? Estavam saindo? Isso explicava o porquê estava tão estranho comigo...

O dia em que reconheci Sebastian ScottOnde histórias criam vida. Descubra agora