O poder de um sorriso de canto de boca

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Cheguei em casa extremamente cansada, mas tudo o que eu precisava era trabalhar. Quando começou a escurecer, tomei um banho, me arrumei e fui para o clube. Quando Bonnie me viu, se aproximou fazendo uma careta.

-Mas é a sua folga, Pearl!

-Preciso trabalhar. Sei que Rud está viajando e é você que fica responsável.

-Ok. Dia ruim?

Bonnie percebeu o quanto eu estava desgastada.

-Péssimo.

-Quer conversar?

-Agora não.

-Depois daqui vamos sair e comer donuts?

-Topo!

O movimento começou a aumentar, fiquei ajudando no bar e em qualquer outra coisa que ocupasse minha mente. Eu precisava não pensar em nada. Era quase 3 da manhã quando o clube fechou. Ao chegarmos na lanchonete, depois de tomar uma bebida gaseificada de groselha e com toda aquela explosão de açúcar, acabei contando com muitas restrições (e isso incluiu não falar sobre as agressões que sofri), a volta do ex-marido e como terminei tudo com Sebastian. A garota ficou boquiaberta.

-Amiga, eu sinto muito por tudo o que passou com o seu ex, mas acha que precisa terminar com Scott?

-Nós nem somos namorados, Bonnie. Decidi acabar com tudo agora para não piorar de vez. E depois que contei todos os detalhes, acho que ele viu que eu não presto para relacionamentos. Sebastian é pai, tem outra visão da vida. Eu tenho muito do que consertar em mim.

-April, meu conselho é de que precisa descansar sua mente. Você se cobra demais.

-Por isso precisei vir até aqui. Essa rosquinha está maravilhosa.

Bonnie sorriu.

-Elas são a salvação de corações destroçados.

-Então eu preciso de todas.

Falei sorrindo, mas sem sentir alegria.

-Já está preparando seu psicológico para as aulas dele?

-Não. Inclusive não irei essa semana. Fiz merda, não é? De novo me envolvi com um professor. Eu definitivamente não aprendo.

-April, Sebastian parece ser uma pessoa muito legal. O problema foi a circunstância toda. Não compare ele com o seu ex-marido.

-Realmente, ele é incrível. Mas eu não quero um homem limpando as minhas merdas, Bonnie. Ele agora me olha com pena e eu não consigo conviver com isso.

Bonnie não sabia mais o que dizer. Apenas segurou minha mão e me puxou para um abraço apertado.

-Eu estou aqui e ajudo a catar os caquinhos.

Sorri limpando minhas lágrimas. Ficamos por mais um tempo conversando sobre outros assuntos. Cheguei em casa quase 4 e 50 da manhã. Tomei banho, dormi meia hora e me encaminhei para a faculdade. Eu já havia colocado em minha cabeça que não assistiria as aulas dele pelo menos por umas semanas, priorizei outras matérias que tinham no mesmo horário, e por mais que eu estivesse estourada de falta, ainda conseguia recuperar mais para frente.

Quase duas semanas depois, numa quarta-feira, tinha apenas um tempo com a matéria de Scott. Resgatei toda a coragem que reuni durante esse tempo e entrei na sala. Ainda faltavam alguns minutos, tratei de sentar na última carteira. A turma foi enchendo, Henrick me viu, mas acabou acenando de longe. Ele era meu amigo tempo considerável para saber quando eu queria ficar sozinha. Comecei a me convencer de que eu era suficientemente adulta e madura para encarar Sebastian Scott apenas como uma aluna normal. Porém, meu peito queimou quando olhei para o celular e vi que já estava no horário e ele entraria a qualquer momento, com aquele perfume amadeirado que eu tanto gostava. Seus cabelos molhados e levemente arrepiados por causa do corte, sua barba desenhada de forma natural, sua boca rosada e seus olhos expressivos com certeza me fariam sair do eixo. Minha respiração começava a falhar só de imaginar o jeito que ele adentraria por aquela porta. E para minha surpresa, uma mulher apareceu na sala. Levantei meu corpo para saber o que estava acontecendo. Até achei que teria trocado de horário sem querer, mas as palavras dela me fizeram fechar os olhos. Uma reação do meu corpo de não visualizar que possivelmente eu era a responsável pelo professor Scott ter enviado uma substituta. Perguntei para um aluno que estava ao meu lado há quanto tempo ela estava com a turma. Ele me respondeu que era a segunda aula, pois o professor em questão tinha ido a um congresso. Me virei para a frente e tentei acompanhar a aula, me culpando ainda mais por toda aquela situação.

O dia em que reconheci Sebastian ScottOnde histórias criam vida. Descubra agora