Entrelaçando-se

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Descemos até o térreo. Ali ficavam as outras repartições da delegacia. Por onde passava, Scott cumprimentava a todos. Fez questão entrelaçar sua mão na minha enquanto andávamos e confesso que fiquei me achando. Ao longe, Rebecca ao celular prestava atenção em tudo o que via.

-Eu já consegui algumas informações. Mas não posso falar agora. Todo cuidado é pouco, você sabe disso. Foi difícil conseguir esse estágio, não estrague tudo! E sim, ela está aqui. E pare de ficar ligando, como quer que eu descubra as coisas, se não me deixa trabalhar? Assim que eu tiver a ficha dela, eu te entrego!

A garota de cabelos ruivos apressou-se em desligar o aparelho, ajeitou-se e sorrateiramente voltou à sua mesa.

-Sem mais desculpas. Hoje eu te busco no clube.

-Scott, eu saio tarde, hoje fico até às duas da manhã. E atrapalho toda a sua rotina, meus horários são horríveis.

-Não me importo com seus horários malucos, e eles não me atrapalham. Quero poder ficar a sós com a minha namorada, ou acha que não estou doido pra te espremer na parede do meu quarto? Estou com saudades de percorrer cada centímetro do seu corpo, com a boca.

Seu sorriso era malicioso. Uma de suas mãos apertou minha cintura e eu senti um arrepio subindo pelas costas.

-Então é assim que vamos selar a paz depois da discussão?

-Com toda certeza. Prometo caprichar no meu pedido de desculpas.

-Capricharei no meu também.

Sebastian chegou perto do meu rosto e me deu um beijo nos lábios. Ele queria intensificar aquele contato, mas se conteve. Experimentei o café, os salgadinhos, fui apresentada ao pessoal restante e depois de alguns minutos, estávamos nos despedindo do lado de fora. Voltei para casa, fiz algumas pesquisas da faculdade e quando vi, já era hora de entrar no trabalho. Tomei um banho quente, vesti meus jeans, tênis, um gorro e casacos, já que estava se aproximando do final do ano e as temperaturas caíam drasticamente. Cheguei ao clube. Seria mais uma noite normal. O agito não estava tão intenso. O frio espantava um pouco os clientes. Felizmente as horas foram passando de maneira rápida.

-Em posição, alfa. Águia se aproximando do ninho, repito, águia se aproximando do ninho.

Bonnie estava do meu lado terminando de servir um rapaz, falou comigo entredentes.

- Mas o que você está querendo dizer, criatura?

-Sebastian acabou de chegar! Quis te avisar para que você pudesse ser fria e calculista. Ele deve ter vindo para vocês se reconciliarem!

-Pois então... eu não terminei de te contar, mas eu fui até à delegacia mais cedo.

-Como você omite uma coisa dessa para mim???? Você foi até lá? Conversaram? Se entenderam?

-Sim! Eu não aguentei, precisei vê-lo. Pedimos desculpas um ao outro, e embora a gente não tenha conversado de fato sobre o que houve, acredite em mim, devido ao meu histórico isso é um ótimo avanço. Não sei por qual motivo só consigo falar sobre as coisas depois que elas acontecem.

-Entendo bem.... só HOJE que você foi me contar o porquê de terem discutido.

-Foi nossa primeira discussão de casal, não é verdade quando falam que o namoro engata depois que discute?

-Quem disse isso?

-Ah, todo mundo...claro que depende muito da discussão, falta de respeito, xingamento não vai fazer nenhum namoro engatar, mas falam que é na primeira briga que realmente vamos nos conhecendo.

-Bom, a julgar pelo início de vocês, já se conhecem muito bem, porque tenho que te lembrar que começou odiando Scott? Lembro- me muito bem das suas palavras: " Não temos nada a ver", " ele é um metido" " Acha que pode conquistar todas as garotas, mas EU NÃO!"

Começamos a rir. Realmente eu havia falado daquela forma e cá estava hoje, apaixonadíssima pelo "metido"

-Ei!

Sebastian chegou ao balcão, me debrucei e o beijei, tocando seu rosto.

-Pensei em vir um pouco mais cedo, sabe que eu gosto dos pistaches e amendoins daqui...

-Cruzes, que insensível! Pois eu jurava que você gostava da barista! Não te defendo mais, Scott!

Bonnie fez uma careta, ele riu.

-Com a barista eu me entendo mais tarde.

E me lançou uma piscadinha que fiquei desconcertada.

-Agora entendi por qual motivo você separa os pistaches mais bonitos....

-Droga, Bonnie. Assim você revela meus truques de conquista.

A garota sorriu e me acertou com o pano da cozinha que estava em seus ombros. Enquanto estávamos ali conversando e nos divertindo, um olhar nos reparava. E o dono desse olhar ficou esperando ao longe, para constatar realmente o que via. Assim que percebi quem era, meu primeiro impulso foi tirar a mão que estava em cima da mão de Sebastian e disfarçar mexendo no meu cabelo. O rapaz alto veio em nossa direção.

-Oi Sebastian!

-Alden! E aí, cara?

Fiquei parada olhando a cena.

-Já passou da hora do engomadinho dormir...

Tentei me manter o mais natural possível, mas eu já sabia que àquela altura, Alden poderia ter visto.

-O engomadinho aqui tem um voo marcado para as duas e quarenta da manhã.

-Vancouver?

Perguntei disfarçando meu nervosismo. Eu ainda não havia contado pra ninguém da minha família sobre Sebastian.

-Sim, precisarei resolver umas coisas urgentes por lá. Mas que surpresa te ver aqui, Scott...

-Então, eu venho com uma certa frequência. Deveria fazer o mesmo, o ambiente é muito bom.

-Ótimo você me convidar, April é tão relapsa comigo que nunca me convidou, acredita?

-Até parece que vou convidar alguém que fala " relapsa"

-Sente-se, esses pistaches são divinos.

Alden consentiu e sentou-se ao lado de Scott. Obviamente que para ele, não havia climão algum, mas eu estava parecendo um boneco de cera. Meu primo pareceu super à vontade, como não fez nenhuma gracinha, imaginei que ele não nos viu e isso me deixou um pouco mais tranquila. Devido ao meu trágico relacionamento anterior, eu tinha muito medo de me abrir com a minha família, pois diante de tudo que havia me acontecido, eu sentia vergonha por não ter os escutado quando deveria. Portanto, conversar com eles sobre meu namoro com Sebastian era algo que precisava de preparo.

-Pearl?! Alou, Terra chamando!

Alden estalou os dedos e só assim percebi que ele havia feito alguma pergunta.

-O que disse?

-Se você retornou às ligações da minha mãe.

-Ah, eu estou sem celular! Quebrei o meu hoje, já providencio outro. Não sabia que ela havia me ligado. Amanhã eu falo com ela.

-Ela vai ficar feliz. Está planejando sobre o Natal. Como passaremos todos aqui, já sabe o que te espera.

-Sei, Secret Santa da Família Pearl....

-Exato, seja criativa no presente, nada de abacate ou abacaxi!

-Ei, são as regras, oras! Primeira inicial do nome, é o presente.

-Blá ,blá, blá. Depois conversamos melhor sobre isso. Já deu minha hora. Volto na quinta e te vejo na Columbia. Scott, foi bom ver você. Craquinha, arrume logo teu celular.

-Pode deixar. Boa viagem.

Até mais, Alden. Boa viagem.

Sebastian também se despediu. Meu primo se levantou e antes de ir, aproveitou que Scott não estava olhando, virou pra mim e na língua de sinais disse: " Eu vi vocês e estou feliz". Fiquei roxa e não sabia onde enfiar minha existência.

O dia em que reconheci Sebastian ScottOnde histórias criam vida. Descubra agora