O rapaz corpulento fechou a porta. Estendeu o braço para que eu me sentasse à sua frente. Colocou um gravador em cima da mesa. Papel e caneta em mãos.
-Então Srta Pearl, vamos começar.
-Foi um grande mal-entendido. Vou explicar com todos os detalhes e isso pode custar a minha carreira aqui dentro, mas.... já chega. Não posso mais ficar calada.
Comecei a contar desde o início. Desde quando conheci Thomas. E sim, o que eu nunca tinha falado antes, agora se tornaria público. Contei todos os detalhes de como nos conhecemos, o relacionamento, a gravidez, a perda do bebê e como até hoje ele me procurava. Relatei tudo até chegar ao fatídico dia em que ele possivelmente havia me incriminado por posse de drogas. Foram mais de 40 minutos falando.
-Certo. Já enviarei tudo isso para os redatores, e terá seu direito de resposta publicado ainda essa semana. Ajudo em algo mais?
-Não, Sr. Wastmon. Agradeço pela paciência.
Levantei-me e estiquei meu braço para cumprimentá-lo. Ele fez o mesmo, dando um sorriso sem graça. Assim que saí pela porta, exclamou em palavras baixas:
-Que você caia logo seu desgraçado! E nunca mais volte a me incomodar.
Como era esperado, Thomas havia feito " amizades" na Columbia. Passava-se por bom moço e com isso pegava todos os segredos das pessoas para jogá-los contra elas caso precisasse. E fez isso com Huggie Wastmon. Ele descobriu que o professor (na época era monitor) havia tido um caso com uma menor de idade e esperou para começar a chantageá-lo para que o ajudasse em publicações que envolvesse meu nome. Esse crápula era meticuloso e inteligente. Previu todos os meus passos para que no fim conseguisse exatamente o que tanto desejava: Ter novamente controle sobre mim. E sem eu saber, estava indo onde ele queria.
Saí de lá com o sentimento de dever cumprido e pensando que havia feito o melhor para todos e principalmente para mim. Coloquei esperanças naquela matéria, pois Thomas era extremamente vaidoso e cuidadoso com a sua imagem, então com tudo o que falei sobre ele, talvez assim ele pudesse me deixar em paz. Cheguei em casa, comi algo leve, adiantei coisas da faculdade, tomei um banho e dormi. Em breve eu voltaria para a rotina maluca do trabalho então resolvi descansar o máximo que podia.
Alguns dias se passaram e lá estava eu saindo da faculdade indo de encontro ao homem mais lindo daquele lugar inteiro. Scott me esperava encostado no carro como de costume e aquela cena era uma delícia de ver. Passaríamos em sua casa antes dele me deixar no clube, eu voltaria a trabalhar aquela noite e estava ansiosa, mesmo que fosse extremamente cansativo, eu gostava muito daquele lugar. Notei que algumas pessoas me olhavam, mas eu já estava acostumada. Sabiam que ele tinha sido professor lá e sabiam da " minha fama" que estava estampada no jornal interno da faculdade. O beijei calmamente assim que me aproximei.
-Com fome? Minha ex-sogra fez pizzas e estão lá em casa....
-Pizzas, no plural mesmo?
-Sim, e olha...não comi todas, mas as que provei estão maravilhosas.
-Eu quero!
Entrei animada no carro e seguimos para sua residência. Jantamos, conversamos, ficamos um tempinho assistindo televisão até que deu o horário para que eu enfim, fosse trabalhar. Sebastian me deixou no clube e comecei minha jornada. A casa estaria bem agitada, muitos turistas pela cidade então com certeza teríamos muto movimento pela frente.
-Bem-vinda de volta!
Bonnie me recebeu com um sorriso no rosto.
-Hoje pelo visto será punk...
Falei-me indo para a parte de trás do balcão e comecei a descer as garrafas.
-Possivelmente ficará sozinha aqui no bar. Vou te ajudando no que posso, dois funcionários faltaram, Rud está em casa por ordens médicas e MINHAS.
-Liguei pra ele, disse que se conseguisse escapar do cárcere privado daria uma passadinha aqui.
-Ele não é doido! Desenvolveu ansiedade por causa da rotina maluca aqui do clube e o médico diminuiu a carga de trabalho dele. Se ele aparecer aqui vai ser expulso a garrafadas.
Ri da maneira que Bonnie falou. Continuei limpando o balcão quando um grupo de pessoas vieram em nossa direção. Alguns pediram cerveja, outros água e refrigerante. Estavam sentados nas mesas um pouco mais afastadas do bar.
-Você é a moça da faculdade, não é?
Um rapaz perguntou e eu sem graça, consenti com a cabeça.
-Não é ruim ficar servindo bêbados o tempo todo?
-Não. Nem todo mundo que tá aqui tá alcoolizado.
-Mas tem dia que deve estar uma loucura. Já fui barman, sei como é. E se posso te dar uma dica, investe no seu outro hobbie.
-Como assim?
-Olhe, eu não julgo, tá? Mas se você puder passar umas paradas para mim, seria ótimo. Terá minha total discrição.
O cara deu uma piscadinha e saiu. Respirei fundo. Me deu vontade de vomitar. Não demorou 5 minutos e duas garotas cambaleantes chegaram.
-Oi! Acabamos de saber que você é a moça da faculdade! Queremos saber se você tem alguma coisinha pra incrementar na nossa bebida....
-Vocês só podem estar de brincadeira!
-Ué, você não vende?
-Poderia por gentileza voltar pra sua mesa?
-Nossa, que mal humor..... deve vender só pra homem.
As duas idiotas saíram de perto e eu fiquei com os punhos cerrados por debaixo do balcão.
Passadas algumas horas, meu turno estava quase no fim, hoje eu conferiria o caixa e faria a reposição das bebidas. Muitos universitários estavam no local, alguns acenavam pra mim e eu não tinha ideia de quem eram. Um outro rapaz veio pedir cerveja e aproveitou para lançar mais uma gracinha.
-Está bem conhecida, April.
-Que ótimo, já posso me candidatar à presidência.
-Com certeza eu votaria em você, seria uma presidente bem bonita.
-Suas cervejas.
O rapaz pegou na minha mão.
-Eu não ligo para o que falam de você. Sempre te achei bem interessante.
-Obrigada. 8 dólares.
Falei tirando minha mão debaixo da dele, com a expressão do rosto fechada. Ele sorriu.
-Mas, quem sabe você me dá uma chance depois que eu me formar e virar professor, né?
Não me aguentei. Eu estava limpando um copo enquanto ele falava e o mesmo foi parar no chão.
-VAI SE FODER!
Virei as costas e saí do bar.
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O dia em que reconheci Sebastian Scott
Storie d'amoreApril Pearl é a protagonista, uma garota de 28 anos que resolveu voltar para NY depois de um casamento fracassado no Canadá. Ao voltar, encontra vários desafios, sendo um deles continuar seu curso na Columbia, que passou por mudanças , voltar a faze...