O dia em que reconheci Sebastian Scott

A calmaria durou pouco

Alguns dias se passaram. Estávamos na véspera do Ano Novo. Os pais e a irmã de Sebastian estavam na cidade e passaríamos o feriado juntos. Isso estava me deixando extremamente animada. O pouco contato que tive com eles foi o suficiente para querer estar sempre por perto e fazer parte da vida deles era algo que me fazia muito bem. Eu trabalharia no dia 30, mas sairia às 21h. Isso me daria um certo tempo de tomar um banho, me arrumar e ir até à sua casa. Tia Penny foi junto com Alden, Cara e Esteban para o Canadá, os pais de Cara moravam lá e gostavam muito da minha tia. Ela havia estudado com a mãe de sua nora no ensino médio, já se conheciam e eram amigas. Relutou um pouco, mas como dei minha palavra de que não passaria o Ano Novo sozinha, viajou sem problemas. No clube, Bonnie estava do meu lado e exclamou sorrindo:

-A sua carinha está ótima!

-Final do ano sempre era um martírio pra mim, mas esse está diferente. Estou feliz e isso é incrível!

-Fico feliz por isso! Você merece!!!

Enquanto conversávamos, o rapaz que havia sido contratado como freelancer para ajudar o clube na temporada alta que estaria por vir, derrubou uma bandeja inteira com copos de vidro. Rapidamente nos viramos e fui ajudá-lo.

-Merda! Me desculpe....

Ele disse abaixado tentando catar o que havia se quebrado.

-Relaxa, se machucou?

Também abaixei e o questionei.

-Não...só o ego. Olha a vergonha que tô passando.

-Isso acontece! Eu já derrubei bebida, na frente de clientes, fique tranquilo, abrimos agora, nem tem muita gente aqui dentro.

-Mas os poucos que estão aqui, perceberam, estão me olhando. Eu tenho ansiedade, estou me tremendo todo!

-Vamos fazer o seguinte, vai lá no depósito, separa um pano e uma vassoura pra mim e deixe-os próximo ao bar, no balcão. Eu termino de limpar tudo aqui e isso dá tempo de você tomar um ar.

-Obrigado April.

O rapaz saiu rápido. Entrou pela porta próxima a nós, mas ao invés de ir ao depósito, foi até o vestiário, onde na frente ficavam os armários. Abriu o que tinha o meu nome, não tínhamos o costume de trancar. Rapidamente colocou dois pequenos pacotes dentro da minha bolsa. Ao sair, foi sorrateiro ao depósito. Tirou do bolso da calça um outro pacote, com um pó branco e passou nas mãos e no cabo de um esfregão que estava ali. Alguns segundos depois eu apareci com os cacos dos copos na bandeja, deixei em cima de uma mesa.

-Você acabou de passar pelo ritual do principiante. Já aconteceu com todo mundo.

Falei tentando confortá-lo. O nome dele era Alex, estava no período de experiência há algumas semanas. Era um rapaz muito solícito e educado com todos.

-April, você é incrível! Obrigado mesmo! Se importa se eu ficar arrumando a bagunça aqui? Estou realmente com muita vergonha.

-Sem problemas. Dou um jeito.

Ele me entregou o esfregão, o peguei e me direcionei para fora. Em pouco tempo já estava tudo limpo. Jamais imaginei que aquilo tudo fazia parte de uma grande encenação. Percebo meu telefone vibrando. Sorri naturalmente ao ver a chamada.

-Como estão os preparativos aí?

Falei equilibrando o celular no rosto com o ombro e terminando de enxugar o chão.

-Abby já me ligou três vezes, ela sempre reclama que minha cozinha é uma bagunça e nunca encontra nada. Lolla acabou de deixar as crianças lá com eles em casa. Estou finalizando o trabalho aqui e estou indo. Me ligue assim que sair, que irei buscá-la.