Prólogo

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Junho de 2001 - Nova York

Isis Clay Collins voltava da escola andando pelas ruas movimentadas de Nova York. Ela detestava todo aquele movimento barulhento da cidade grande - carros, buzinas, homens e mulheres com roupas formais passando apressados de um lado para o outro enquanto reclamavam de alguma coisa. Entretanto, Howard Collins, seu pai, trabalhava em um daqueles prédios grandes do Distrito Financeiro, e não trocaria o emprego - especialmente o salário - por nada.

Isis, com seus quase 10 anos, mais baixa do que a maioria das crianças da sua idade, apressava os passos dados pelas pernas curtas para acompanhar a Sra. Evans. A mulher de mais ou menos 55 anos era a vizinha dos Collins, e professora do colégio em que Isis estudava. Todos os dias ela acompanhava a menina até em casa, fazendo um favor para o Sr. Collins e sua esposa.

A Sra. Evans era o oposto de Isis, enquanto a menina era baixinha, magrela como um palito e tinha rosto delicado rodeado por cabelos com vários tons de loiro – tipo água de macarrão, como o pai gostava de chamar – a mulher de meia idade era alta, robusta, com um rosto levemente agressivo e os cabelos pretos como a noite, retocados uma vez por semana, sem nem sequer um fio branco.

Quando elas viraram na esquina da rua mais silenciosa onde as duas moravam, a menina imaginou se a mãe teria preparado lasanha para o jantar, seu prato favorito. Era sexta-feira, e sua mãe preparava lasanha em quase toda sexta-feira. Seu estomago bateu palmas só de pensar naquele sabor delicioso da comida de sua mãe.

As duas param em frente ao portão preto de ferro da casa de Isis, sua mãe esperava na porta com um sorriso no rosto, o diário de couro na mão e o avental branco amarrado em volta do vestido cor de rosa, com mangas compridas mesmo naquele verão de 35°C.

Evelyn Collins era uma mulher jovem e muito linda, o cabelo da cor do sol estava sempre bem escovado, emoldurando aquele rosto bonito e delicado, assim como o de Isis. Elas eram bem parecidas, a diferença mais aparente era a cor dos olhos, a mulher tinha um par da cor de avelã, um castanho claro gracioso, enquanto Isis tinha os olhos verdes esmeralda, assim como os do pai.

A menina correu para abraçar a mãe quando Sra. Evans soltou sua mão, Evelyn sorriu e abraçou a filha de volta.

— Mamãe você fez lasanha? Diz que sim! Diz que sim! Diz que sim! — Cantarolou enquanto saltitava em direção à porta, as tranças loiras balançavam de um lado para o outro.

— Isis Collins! Onde estão seus modos? O que se diz para a Sra. Evans? — Perguntou a mãe em tom de sermão para a garota apressada, que parou e olhou para a senhora no portão.

— Obrigada por me trazer, Sra. Evans. — A senhora sorriu e acenou com a cabeça, Isis finalmente correu para dentro de casa.

— Obrigada de novo, Lucy — Evelyn também agradeceu com um tom de voz gentil.

— Vocês estão criando uma boa menina Evelyn, eu gosto de acompanhá-la — A senhora falou e depois se despediu, Evelyn entrou e fechou a porta de casa.

Isis tirou o tênis e colocou a mochila ao lado da porta antes de correr para a cozinha. Para o parâmetro da vizinhança, a casa era grande e a família tinha boas condições financeiras. Os Collins não eram milionários, mas Howard ganhava o suficiente para sustentar a família com padrões elevados. Evelyn não trabalhava, ela e Howard se casaram quando ela tinha 20 anos e seu marido prometeu sustentá-la para que ela só se preocupasse em cuidar dos filhos e manter a casa em ordem.

Depois de Isis nascer, Howard e Evelyn passaram 2 anos tentando engravidar novamente, até que eles descobriram que a mulher desenvolvera uma complicação no útero, tornando quase impossível uma nova gravidez. Desde então, Howard culpa a mulher por só ter gerado uma criança, e fica mais transtornado ainda por não ter sido um menino, igual ao que ele sempre desejou.

Monstros do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora