14 - "Forte"

2.7K 362 1.3K
                                        



Isis

Abri os olhos lentamente, me acostumando com a claridade que entrava pela janela. Demorei alguns segundos para perceber que eu estava feliz, de verdade, porque eram raros os dias em que eu não acordava depois de um pesadelo ou com uma sensação ruim.

Lavei o rosto antes de sair do banheiro e prendi meu cabelo em um coque, fazendo uma nota mental de que eu preciso hidratar o cabelo depois da chuva de ontem. Eu ainda estava de pijama quando o cheiro de café invadiu meu quarto.

Seguindo o cheiro, fui até a sala e parei de andar quando cheguei no balcão que a interligava com a cozinha. Eu não estava preparada para a cena: Heitor estava de costas, preparando café da manhã, ovos mexidos ou alguma coisa assim. Perfeitamente normal, se ele não estivesse usando apenas uma calça de moletom preta.

Não consegui evitar e percorri as costas dele com o olhar. Ombros largos, braços fortes, pele bronzeada. Heitor estava com o cabelo levemente molhado, o que indica que ele deve ter acabado de sair do banho.

— Bom dia — Ele disse, ainda de costas, sentindo minha presença.

— Heitor Ferrara preparando café da manhã e usando calça de moletom... Essa é uma cena que eu não imaginava — Me sentei em uma das banquetas do balcão.

— E por que não? — Se virou para mim, com a sobrancelha arqueada, e eu me recusei a descer o olhar.

— Ah você sabe — Dei de ombros — Você tem toda essa vibe de vilão rico, eu pensei que seu guarda-roupas só teria ternos e camisas sociais. No máximo uma camiseta preta — Um canto do lábio dele se levantou.

— Bom, as vezes eu gosto de usar moletom só para saber como vocês, pessoas comuns, se sentem — Me entregou uma caneca com café e apoiou o cotovelo do outro lado do balcão, ficando na minha frente.

— Você é ridículo — Neguei, dando um gole no café.

Nós dois tomamos café da manhã juntos e, por mais que eu odeie admitir, Heitor sabe cozinhar. Quando estávamos conversando eu contei que precisava pegar meu vestido para o casamento na loja hoje, que era perto do prédio comercial em que ele tinha uma reunião.

Os dois lugares eram perto do apartamento do Heitor, então nós dois fomos andando. Meu humor ainda estava bom, então nem mesmo os comentários irritantes do Heitor sobre qualquer coisa —turistas, poluição, frio, e turistas de novo — conseguiam me irritar.

— Alguém é meio ranzinza — Provoquei e ele revirou os olhos, pegando o celular para atender uma ligação.

Heitor se afastou um pouco, falando em outro idioma. Já que estávamos em uma rua bonita eu caminhei devagar, observando as vitrines das lojas. As duas primeiras lojas eram de roupa, vi algumas coisas interessantes, mas o que realmente chamou minha atenção foi um conjunto de calcinha e sutiã na terceira loja.

A lingerie era exatamente do tipo que eu gostava, com cor simples e detalhes bordados em renda, sem mencionar que era da minha marca favorita e incrivelmente confortável. A burguesinha que habita em mim gritou para que eu comprasse agora mesmo, mas a loja ainda não estava aberta. Com um suspiro de frustação olhei para ela uma última vez e continuei andando.

Heitor já tinha terminado a ligação, então nós dois voltamos a andar no ritmo normal. As ruas já estavam começando a ficar movimentadas com pessoas indo para o trabalho ou voltando de passeios no parque com seus cachorros. Inclusive, essa já era a terceira vez que algum cachorro passava pelo Heitor abanando o rabo e pedindo carinho.

— Eles realmente gostam de você — Falei observando Heitor, de roupa social, parando para acariciar um bulldog gordinho. A dona dele, na faixa dos 40 anos, estava mais preocupada em observar o Heitor.

Monstros do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora