16 - "Cruel"

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Heitor

"Você encontra outro jeito de me retribuir depois"

"Acho bom você conseguir cumprir essa promessa, Ferrara"

"Heitor"

"Ferrara"

"Canalha"

Conforme eu abotoava minha camisa as palavras da Isis se repetiam na minha mente. Eu ainda conseguia sentir as unhas dela me arranhando, a boca no meu pescoço, as pernas em volta da minha cintura... Isis Clay conseguiu invadir minha mente.

Fui até a pia do banheiro da minha suíte e lavei o rosto com a água gelada, tentando descobrir se pelo menos isso seria capaz de reestabelecer um pouco do meu foco. Spoiler: Não foi.

Eu continuo sentindo a boca dela pressionada contra a minha. Olhei para a cama atrás de mim e tentei não imaginar Isis deitada nela, imagem que seria realidade caso Ramirez não tivesse me interrompido. Se fosse qualquer outro motivo eu não teria atendido, mas eu preciso encerrar esse assunto de uma vez por todas.

Meu instinto diz que esse problema da Isis é algo sério, eu não sei explicar o motivo, mas eu só tenho a sensação de que preciso me envolver nisso e descobrir quem estava atrás dela. Meus instintos me trouxeram até aqui e eu confio neles.

Meu primeiro palpite foi que poderia ser alguém querendo usá-la para me atingir, afinal é a primeira vez que eu deixo uma mulher ficar no meu apartamento em Nova York e nós chegamos juntos na cidade, poderíamos muito bem parecer um casal. Então fiz algumas perguntas por aí e cobrei alguns favores.

Ramirez é um dos homens que estava me devendo um favor. Ele é dono de uma boate em Lower Manhattan que serve mais para encobrir os esquemas de jogos de poker ilegais do que para qualquer outra coisa. É incrível como um lugar escondido pode atrair tanta gente influente para jogar poker. É uma das poucas situações em que podemos ver donos de bancos, CEO's, políticos e membros de gangues na mesma mesa.

A verdade é que a maior parte da elite dessa cidade é suja, assim como acontece na maioria das cidades grandes por aí. Todos estão sempre bem-vestidos e bem acompanhados, mas não deixam de ser criaturas gananciosas que se movem em função de dinheiro e poder.

Terminei de me arrumar, ou melhor, me recompor, e desci as escadas para encontrar Isis na sala. Eu já havia avisado sobre o tipo de lugar que nós vamos, então Isis estava usando um vestido preto que cobria até metade da sua coxa e contornava perfeitamente seu corpo. Puta merda.

Quando ela deu a volta pelo sofá, eu pude ver que a parte de trás do vestido era aberta, exibindo as costas dela até perto do final da coluna, com apenas duas tiras finas de tecido formando um "X" coberto por pedrinhas prateadas e... Desde quando eu falo "pedrinhas"?

Mentalmente, dei um tapa na minha própria cabeça para tentar sair desse feitiço que eu tenho certeza de que ela jogou em mim. Por fora, entretanto, eu não deixei de percorrer os olhos por cada parte do corpo dela, sem fazer questão de disfarçar, já que ela estava fazendo o mesmo comigo.

Isis parou na minha frente, e mesmo com o salto alto a nossa diferença de altura era evidente.

— Você demora muito para se arrumar — Ela reclamou.

Lógico, eu não estava me arrumando, eu estava tentando tirar você da minha cabeça.

— E você reclama muito, aparentemente nós dois temos defeitos — Rebati de forma infantil.

Isis me olhou um pouco irritada, e negou com a cabeça enquanto pegava o casaco e passava determinada por mim, indo até a porta. Vai ser uma longa noite.

Monstros do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora