HeitorCom a claridade da janela atingindo meus olhos, eu pisquei duas, três, vezes. Sem reconhecer onde eu estava, virei o pescoço rapidamente e senti uma dor forte na minha nuca. Minha coluna também estava latejando, e só agora eu reparei que estava sentado.
Depois desses segundos de pura idiotice pós sono, o choque da realidade me atingiu. Ontem Isis havia encontrado — quer dizer, eu havia encontrado — o diário de sua mãe. Foi pesado, extremamente doloroso observar sua angústia enquanto ela lia as páginas. Eu fiquei no chão, ao seu lado, como um completo inútil sem poder fazer nada para ajudar. Até que ela fechou os olhos e sua cabeça caiu no meu ombro, então eu...
Olhando para frente, observei Isis dormindo. Quando ela pegou no sono lendo o diário, eu a carreguei até seu quarto, até sua cama, onde ela está até agora. Uma batalha se instalou na minha mente enquanto eu cobria seu corpo com a coberta: o que fazer? Eu não sabia se deveria deixá-la sozinha ou não, se eu deveria me deitar com ela ou... até que sua mão segurou a minha.
O quarto estava escuro, mas eu sabia que ela estava dormindo enquanto segurava minha mão. Mesmo assim, eu não tive coragem de sair, simplesmente não parecia certo. Entretanto, me deitar com ela parecia ainda mais errado, muito íntimo. É difícil explicar. Sexo? Sim, ótimo, mais do que ótimo, incrível. Mas me deitar na mesma cama que ela e dormir... Nós havíamos feito isso naquela pousada, no caminho para Nova York, mas é diferente. Daquela vez Isis estava acordada, nós nunca havíamos nos tocado... simplesmente difícil de explicar.
O que eu sei é que me pareceu mais certo ficar na poltrona do seu quarto, onde eu não estaria exatamente invadindo sua privacidade, mas também não a deixaria sozinha. Detalhe: Isis não soltou a minha mão tão cedo, e tenho certeza de que ela não vai se lembrar disso, e eu também não vou comentar sobre ela ter dormido segurando minha mão, porque sinto que esse é o tipo de coisa que me renderia um tapa.
Sozinho, eu ri fraco com esse pensamento. Com os raios de luz iluminando seu rosto, o cabelo com pelo menos 4 tons naturais de loiro diferentes espalhados no lençol branco e as mãos segurando o travesseiro, Isis Clay parecia muito menos irritada, mandona e atrevida. Ela parecia quase... angelical. Sua expressão facial, entretanto, mesmo dormindo, não era feliz, não era calma. Era como se ela não abaixasse as barreiras nem mesmo enquanto dormia, e isso era familiar demais para mim.
Senti algo gelado em minha mão, e só agora reparei na cabeça de Toddy se apoiando na minha perna, o focinho encostando na minha mão. Ele não saiu do nosso lado nem mesmo por um segundo desde o momento em que eu trouxe Isis para cá, e passou a noite toda deitado nos meus pés. Acariciei sua cabeça enquanto ele tentava lamber minha mão.
Sem nem mesmo levantar a cabeça, eu senti o olhar da Isis em mim e soube que ela estava acordada. Sim, o olhar dessa mulher é intenso nesse nível.
— Bom dia — Olhei para ela, os olhos verdes me encarando com um misto de confusão e culpa.
— Heitor... você não precisava ter ficado — Ela engoliu em seco e eu sorri fraco
— Você pediu para que eu ficasse — Dei de ombros e não vi necessidade de mencionar que ela segurou minha mão, sem me deixar sair.
— Você poderia ter dormido na cama — Ela gesticulou para a cama grande, mas ela sabia que seria estranho.
— Sua poltrona é confortável — Sorri de lado. Mentira, mentira e mentira. Essa é a pior poltrona que eu já vi. Péssima, horrível. Teria sido melhor dormir sentado em uma cadeira de pregos.
Isis tentou esconder um sorriso, negando com a cabeça. Ela olhou para baixo, levantando um pouco o lençol que cobria seu corpo e arqueou a sobrancelha. Talvez, apenas talvez, seja porque ela reparou que estava sem calça.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Monstros do Espelho
Romance[+16] O livro contém linguagem ofensiva e conteúdo sexual Era muito fácil olhar para a loira bonita e confiante nas festas de Nova York e pensar que Isis Clay tinha uma vida perfeita. Ninguém sabia sobre o assassino do seu passado, o monstro que um...