Isis Clay...
Quando me aproximei com a objeto relativamente pesado na mão e me preparei para atingi-lo o homem virou e abaixou a cabeça desviando. Rapidamente, ele se levantou e pegou a ferramenta da minha mão. Eu já estava pronta para me defender quando ele se afastou alguns passos.
— Mas que merda você está fazendo? — Perguntou indignado e eu também me afastei.
— Quase meia noite e um homem desconhecido aparece no meio de uma estradinha deserta para trocar meu pneu?! Eu estou me defendendo, é obvio! — Respondi alto, mas sem soar desesperada demais, dificilmente eu entrava em pânico.
— E seu plano era me bater com a porra de um chave de roda?! — Questionou no mesmo tom, talvez mais bravo, mas sem levantar a voz.
— Eu tentei mandar você sair! — Retruquei séria.
— Eu só estava sendo educado, eu realmente tenho uma oficina — Soou mais calmo e esticou o braço, me devolvendo a chave de roda pesada. Bater nele ainda não está totalmente fora dos meus planos.
— Eu... Romeo Rossi me disse que ele era dono de uma oficina, então pensei que você estava mentindo — Falei seca, ainda desconfiada. E então, com um estalo, me lembrei do Romeo dizendo "Eu e meu amigo temos uma oficina". Ah, merda.
— Sim, ele tem, junto comigo — Reclamou dando ênfase na última palavra enquanto abaixava para trocar o pneu.
— Eu nem sabia seu nome, claro que eu ficaria desconfiada! Ainda estou, na verdade — Afirmei óbvia enquanto ele elevava o carro com o macaco. Era mentira, ele poderia ser um babaca, mas eu não estava mais assustada.
— Heitor Ferrara — Se apresentou sem nem olhar para mim. Pelo menos UMA pessoa nessa cidade não é tão educada. Só agora percebi um sotaque que não reconheci na voz do homem, acho que estava muito nervosa antes para perceber.
— Isis Clay — Me apresentei sem gentilezas enquanto pegava meu celular no carro.
— A bonitona de Nova York, claro! — Usou um tom sarcástico nada agradável e riu baixo.
Fiquei um pouco (muito) irritada com Romeo falando de mim por aí. Pelo menos "bonitona de Nova York" era melhor do que muitos outros apelidos que já foram criados para mim. Respirei fundo, talvez meu humor horrível seja só fome e cansaço.
Eu estava observando-o trocar o pneu com uma agilidade incrível quando algo me jogou no chão, me fazendo cair de bunda. Quase dei um grito quando um Rottweiler apareceu diante de mim, com os dentes próximos demais do meu nariz.
Heitor olhou para a situação por cima do ombro e voltou a se concentrar no pneu, como se fosse um simples e pequeno mosquito que estivesse em mim. Esse monstro aqui deve pesar mais do que eu. Com certeza pesa mais do que eu.
— Uma ajudinha aqui? — Pedi para o Heitor, tentando empurrar o bicho que lambia minha bochecha.
Ainda estava escuro demais para enxergar o rosto do homem, mas em um reflexo de luz percebi olhos verdes quase azulados, uma cor bonita e diferente ao mesmo tempo. Ele se levantou com o pneu furado na mão e colocou o mesmo no meu porta-malas, ao lado do macaco hidráulico, ainda ignorando o cão que eu tentava empurrar.
Heitor Ferrara teve a audácia de se encostar na porta do meu carro, cruzar os braços e inclinar um pouco a cabeça para a cena. Algo me dizia que ele estava se divertindo. Em um comando de voz baixo, claro como uma ordem, ele disse:
— Ayla! Aqui — O cachorro, que na verdade era cachorra, se levantou no mesmo segundo e se sentou ao lado dos pés dele.
— Você não poderia ter feito isso antes? — Bufei levantando e limpando sujeira da minha calça.
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Monstros do Espelho
Romantik[+16] O livro contém linguagem ofensiva e conteúdo sexual Era muito fácil olhar para a loira bonita e confiante nas festas de Nova York e pensar que Isis Clay tinha uma vida perfeita. Ninguém sabia sobre o assassino do seu passado, o monstro que um...