Monstros do Espelho

35 - "Outra"

N/A: amores, leiam minha cartinha no final, boa leitura
✨✨✨

Dias depois...

Heitor

Cinco dias nunca pareceram tão longos.

Era meu quinto dia nesse lugar, mas parecia meu quinto mês. O tempo dentro das celas passa de forma diferente. Eu passei por muita coisa na vida, mas isso é diferente de tudo. Eles estão me controlando, 24h por dia. Eu não tenho liberdade nem mesmo para beber água sem precisar de autorização. É um pesadelo. Uma eternidade. Os piores dias da minha vida.

Howard vai pagar por isso. Muito caro. Aquele homem armou para mim e me colocou no único lugar que seria capaz de me manter longe da mulher que eu amo.

Eu precisei bloquear algo dentro de mim, criar um tipo de barreira, para aguentar ficar trancafiado sem surtar. Eu não sou o tipo de homem que se dá bem ao abrir mão do controle, esse é o pior cenário possível para mim.

Aqui dentro, todos são tratados como animais. Então todos agem como animais.

Quando eu cheguei, me trancaram com meu colega de cela. Um sujeito de 2 metros de altura, membro da gangue que controla metade do comércio de cocaína de Nova York. Ele não é nenhum gênio, está longe de ser um chefão, mas com certeza gosta de pensar que é o macho alfa.

Em menos de 10 minutos ele havia tentado me intimidar. Em 11 minutos, ele desistiu e ganhou uma lesão no pulso. Depois disso, estabelecemos que ele fica do lado da cela que pertence a ele, e eu fico do meu.

Episódios como esse se repetiram várias vezes, até KJ me cumprimentar e espalhar o recado de que eu estava sobre proteção dele. O único problema é que eu não faço ideia de quem seja o KJ.

Meu palpite é que o grandão com sotaque de Chicago tem relação com meu pai, ou talvez com Romeo. Eu sei que alguém cobrou algum favor para me ajudar e eu sou grato por isso.

Com o "apoio" de KJ a situação melhorou, mas ele não era o líder aqui, nem todos se importavam com ele. Então eu ainda tinha alguns problemas, afinal esse era o real motivo para eu estar aqui: Howard quer que alguém me mate, e provavelmente está oferecendo um preço alto pela minha cabeça.

Era meu quinto dia, e eu não tive nem mesmo 1 minuto de sono. É impossível dormir de verdade sabendo que alguém — incluindo seu colega de cela — pode te atacar a qualquer momento.

Meus olhos ardem e eu tenho mais machucados do que eu consigo enxergar. Minha mente não para de pensar na Isis. Eu preciso saber que ela está bem, e eu sei que Miguel está com ela, mas eu quero estar com ela. Isso não deveria ser assim.

— Ei, Ferrara — O guarda bateu a mão na grade — Você tem visita.

As visitas do Miguel eram o único momento de paz que eu tinha, e ele veio todos os dias para me atualizar. Eu me levantei, mas tinha um problema: eu já tinha visto Miguel hoje, nós até tivemos uma ideia que pode me ajudar a aguentar até o julgamento. Então a visita só poderia ser... Isis.

Eu respirei fundo, contendo minha irritação. Eu deixei bem claro para Miguel que eu não queria que ela me visitasse aqui. Por ser meu advogado, as conversas com Miguel são particulares, em salas só para nós. Com Isis, entretanto, seria na sala de visitas, com vários outros presidiários ali, olhando para ela.

As pessoas brigam por um cigarro nesse lugar, imagine o que fariam por Isis Clay.

Isis

Meu coração estava acelerado, mas eu não demonstrava. Eu tinha que ser forte, ou pelo menos parecer. Por ele. Eu parei de respirar quando o vi.

5 dias. Apenas 5 dias e parecia que eu não o via há 5 meses. O olhar vazio do Heitor percorreu a sala, até encontrar o meu. Ele engoliu em seco e se aproximou, com o guarda segurando seus pulsos algemados.