Isis— Mamãe! Mamãe! Você não vai acreditar! Eu desenhei nós duas! — Eu corria pela sala, agitando os braços de um jeito desengonçado enquanto segurava o desenho.
Evelyn, minha mãe, estava sentada no sofá da sala, usando um de seus tradicionais vestidos delicados, esse era rosa com renda branca. Eu via essa mulher como se fosse a mais linda do mundo, e ela abriu um daqueles sorrisos sinceros que ela sempre exibia quando eu mostrava um desenho.
— Deixe-me ver, querida — Estendeu a mão e pegou a folha sulfite com meus rabiscos de giz de cera. Amarelo para nossos cabelos e para o sol, azul para o céu, verde para o gramado em frente a casa.
— Eu desenhei você de rosa, porque é sua cor favorita! — Me sentei ao lado dela e observei seu sorriso aumentar.
— Ficou lindo, meu amor — Ela me abraçou de lado — Eu amei, posso guardar no meu diário? Vai decorar a página — Ela apontou para o caderno com capa de couro que estava em seu colo.
— Claro que sim! — Bati palmas de alegria, porque eu adorava quando ela colocava nossas fotos ou desenhos em seus diários.
— Por que você não desenhou seu pai? — Ela perguntou baixo, em um sussurro, e eu engoli em seco.
Toda minha visão ficou turva e eu senti a sala girar e escurecer, como se eu fosse desmaiar. Pai? Meu pai não estava nos desenhos, porque... ele não era meu pai. Nunca foi.
Senti vontade de gritar, cada parte do meu corpo estava ardendo, eu não enxergava nada além do escuro. E então, como se eu tivesse saltado no tempo, eu estava no alto da escada, minha mãe morta no chão, e meu pai correndo atrás de mim.
Ele queria me matar. Eu sabia que ele ia me matar. Eu comecei a correr pelo corredor, mas a mão gigantesca do meu pai agarrou meu braço e me jogou para trás. Eu tentava me levantar, mas parecia que o chão me puxava para baixo. Ninguém me ouvia. Ninguém me ajudava.
As mãos de Howard se fecharam no meu pescoço, eu não conseguia respirar, eu não conseguia falar, eu não conseguia gritar. Eu tentava implorar com o olhar para que ele parasse, mas ele não se importava. Ele estava me matando. Eu sentia como se meus pulmões estivessem cada vez mais vazios. Meu coração acelerava, como se fosse explodir. Eu ouvia meu próprio grito na minha cabeça e...
Eu abri os olhos.
Um grito ainda estava sufocado na minha garganta devido ao pesadelo. Eu odiava quando meus sonhos começavam com memórias agradáveis e terminavam com essa mesclagem de fantasia e realidade horrível.
Minhas mãos ainda estavam tremendo, eu conseguia sentir as mãos fechadas no meu pescoço, me enforcando. Seguindo meu procedimento de sempre, eu respirei fundo enquanto abria e fechava as mãos. Não era real, nada disso era, eu estou bem.
Quase dei um grito quando senti algo peludo na minha perna, mas me lembrei do Toddy. Ele estava dormindo na mesma cama que eu e agora apoiava a cabeça na minha perna enquanto me encarava com olhos confusos.
Acariciei a cabeça do Toddy e ele lambeu minha mão, como se quisesse me ajudar da única maneira que ele compreendia. Eu e Heitor o levamos no veterinário da cidade, ele recebeu o melhor tratamento que eu poderia imaginar, e está com a patinha enfaixada. De acordo com o veterinário, daqui uma semana ele estará sem nenhuma dor.
Eu ainda não me acostumei com a ideia de ter um cachorro, mas Toddy foi uma ótima companhia durante o dia. Basicamente ele só me segue para cada canto da casa, tenta brincar com qualquer cordão que ele encontra e pede comida.

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Monstros do Espelho
Romance[+16] O livro contém linguagem ofensiva e conteúdo sexual Era muito fácil olhar para a loira bonita e confiante nas festas de Nova York e pensar que Isis Clay tinha uma vida perfeita. Ninguém sabia sobre o assassino do seu passado, o monstro que um...