Capítulo 34 - Hugo, o Soluçante

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Alex não entendeu porque olhar para as minas o faria refletir. Seguiu para dentro do alojamento que Sir Hector havia lhe destinado, onde havia apenas uma pequena mesinha velha com duas cadeiras e dois colchões de palha nos cantos; encostado em uma das paredes, um pequeno armário com alguns livros e vários objetos, dentre os quais Alex distinguiu um cachimbo de madeira, um pote de barro com um fétido fumo dentro e uma garrafa com metade de algum tipo de destilado, além de alguns potes com coisas estranhas dentro. Na parte inferior havia várias peças de roupas velhas amontoadas, provavelmente, do tal Hugo o Soluçante. Aquele lugar não parecia em nada com o que ele havia imaginado de uma cela, tinha até livros para ler.

Alex sentou-se à mesa, pegou um dos velhos livros sobre o armário, de título Magna Frost, e começou a folheá-lo. Parecia um conto infantil sobre o fim do mundo em gelo. Adequado para o local onde estavam: o inferno gelado, segundo Bernard. Aliás, Alex começou a pensar onde ele teria ido parar, apesar de tudo, havia começado a sentir uma leve empatia pelo homem de cabelo desgrenhado, e teve receio do destino do pobre coitado, mas talvez para onde ele houvesse sido levado também não fosse tão desagradável.

Ele tentava colocar na cabeça que onde estava não era um lugar tão ruim, mas não conseguia enganar a si mesmo. O lugar era péssimo, incômodo e inóspito, as paredes pareciam que iriam ruir a qualquer momento e o teto de palha era meio falhado, e como ele havia imaginado, não o protegia do frio daquele lugar opressor. Estava triste pelo seu pai, pelos amigos que não veria tão cedo, pela lembrança de sua mãe e por ter arruinado o seu futuro, pois para sempre seria lembrado como um traidor que roubou o seu rei, isto é, caso algum dia saísse de lá. Mas esta era a menor culpa que sentia.

Ao mesmo tempo, vieram alguns pensamentos sobre o misterioso livro. Se o pai de Alf e a mãe de Ethel sabiam da participação deles em tudo, como conselheiros deveriam informar ao rei, afinal eles sabiam que o livro estaria com algum deles. Apesar desta informação, usaram Alex como uma distração para tirar a atenção de Tenemur do verdadeiro detentor do livro. Alex sabia que a informação contida no livro era muito mais importante do que Krayv demonstrava saber e que muito mais pessoas, talvez, estivessem atrás dele.

Alex foi interrompido com a porta batendo ao se abrir com estardalhaço e com o grito de uma figura atarracada e barbuda que entrou.

— Quem lhe deu ordem para mexer nas minhas coisas? — gritou um anão a quem Alex atribuiu ser Hugo o Soluçante, enquanto puxava o livro das mãos de Alex.

Alex se levantou rapidamente. Hugo não chegava nem aos ombros dele, porém, a longa barba misturada aos longos cabelos ruivos e volumosos o fazia parecer ter uma proporção estranha entre corpo e cabeça. Foi então que Alex se deu conta de que era a primeira vez que via um anão.

— Não foi a minha intenção, Hugo o Soluçante — tentou se desculpar Alex. — Estava sem nada para fazer aqui e...

— Isso não lhe dá o direito de mexer nas minhas coisas — resmungou Hugo, não deixando Alex finalizar a fala, analisando as coisas que Alex havia tirado do lugar. — Só faltou ter fumado o meu fumo e bebido o meu rum.

— Não, eu não bebo e nem fumo...

— Quer dizer que teria fumado e bebido as minhas coisas se você já tivesse tal hábito? — voltou a interromper Hugo. — Temos que estabelecer algumas regras para o nosso bom convívio. Primeira regra, este armário e tudo o que há nele são meus e esta mesa é minha. Heranças de meu falecido pai. Apenas aquele colchão velho é seu. Respeite isso e nos daremos bem.

— Tudo bem, e a segunda regra? — perguntou Alex diante do silêncio que se instaurou.

­— Não tinha pensado nisso... ­— respondeu Hugo desconcertado e pensativo, tentando improvisar. — A segunda regra poderia ser só para reforçar que a primeira existe. Ah, dane-se, siga a primeira regra que não teremos problemas.

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora